O ELEITOR BRASILEIRO E O EFEITO MÚCIO

Por Fernando R. F. de Lima.

            Para quem não é da época ou não se lembra, Múcio era uma personagem do programa Viva o Gordo, do Jô Soares, no cada vez mais distante século XX. O teor da brincadeira, em especial deste vídeo que segue o abaixo, era a indecisão do Múcio, que chamado a responder sobre a qualidade do peixe, muda de opinião conforme quem opina ao seu lado.

            O eleitor brasileiro, ao menos aquele eleitor médio, que define a eleição, que acaba representando cerca de 30 a 40% do eleitorado, comporta-se no mais das vezes como o Múcio. Vemos isso, por exemplo, em relação às manifestações de 2013, quando a aprovação ao governo Dilma ultrapassava os 70%. Repentinamente, um grupelho de estudantes liderados por partidos de extrema esquerda iniciaram passeatas contra a elevação da tarifa de ônibus em vinte centavos na capital paulista, o que acabou, levando a diversas ações coordenadas ou não por todo o país, algumas pacíficas, outras violentas, contra o governo.
            A grande beneficiária desta onde, sem dúvida, foi, à época, a pré-candidata Marina Silva, que tentava fundar seu partido alternativo Rede Sustentabilidade, inviabilizado antes das eleições de 2014 pela falta de assinaturas. Contudo, o efeito maior das passeatas, que mobilizaram algo como 1 milhão de pessoas (0,5% de uma população de 200 milhões) foi suficiente para levar a aprovação do governo Dilma de 70% para menos de 30%. Ocorre que, findas as manifestações, a aprovação do governo voltou a subir. Em minha opinião, era o efeito Múcio em ação.
            Nada justificava 70% de aprovação ao governo Dilma: não havia absolutamente nada de relevante sendo feito naquela época, e a economia já dava sinais claros de desaceleração, assim como uma degradação geral do ambiente institucional por causa dos repetidos casos de corrupção. No entanto, tampouco justifica-se a queda vertiginosa na aprovação do governo como resultado das manifestações, afinal o foco maior não era o governo federal, mas os governos municipais e estaduais.
            Dali em diante, contudo, um sentimento anti-Dilma começou a crescer, sobretudo no sul e sudeste do País, e as opiniões contrárias a seu governo ganharam força. Obviamente, a princípio a maior beneficiária foi Marina Silva. Ocorre que, sem partido, filiou-se a PSB e tornou-se vice de Eduardo Campos para as eleições de 2014. Grande parte do eleitorado sequer tomou conhecimento desta mudança, tanto que há pouco mais de 45 dias da eleição esta chapa detinha menos de 8% das intenções de voto, algo parecido com o percentual de indecisos.
            A morte de Eduardo Campos num acidente aéreo, contudo, foi suficiente para catapultar Marina para a vice-liderança da eleição e, logo em seguida, para a liderança em um eventual segundo turno, levando o PSDB à beira de uma crise interna. Em dois dias, Múcio decidiu que Marina era a melhor opção para o País, ele mesmo que já estava decidido por Dilma ainda no primeiro turno menos de um ano antes.
            Mas o destino revela surpresas, e a medida que as pesquisas apontavam o crescimento da rejeição à Marina, seja pela campanha difamatória promovida pelo PT, seja pelo aparecimento do nome de Aécio, Múcio mudou novamente de ideia, e vendo que Aécio poderia levar a eleição ao segundo turno, resolver migrar em massa para o novo candidato.
Alguns analistas atribuíram ao debate de sexta-feira dia 03 de outubro a virada espetacular de Aécio, mas acredito que o empate técnico de sexta-feira e a ligeira vantagem da pesquisa de sábado foi mais decisiva para explicar a migração do eleitor para Aécio. Múcio gosta de estar sempre com quem vence, pouco importa a opinião do vencedor. Desta vez, Múcio estava certo: o peixe tinha gosto de peixe mesmo! E não estava estragado.

            A VANTAGEM DE AÉCIO

No segundo turno Aécio Neves tem uma vantagem importante que vem sendo explorada na campanha: a maioria da população rejeitou Dilma no primeiro turno. Além disso, o tucano aparece à frente nas duas pesquisas do Datafolha e do Ibope já divulgadas, e muito à frente na pesquisa do Data-Sensus Isto é. Isto significa que Múcio está propenso a votar em Aécio, porque ele é o cara da vez.
Eu já declarei no blog meu voto: sou Aécio Neves desde criancinha. Anti-petista deste os primórdios deste blog, em 2006, e mesmo antes. Com exceção de minha primeira eleição, em 2000, quando votei para prefeito num candidato do PMDB ainda em Campo Largo, sempre votei no PSDB para a presidência e governo do Estado. Não que eu seja um social-democrata convicto; ao contrário, considero o PSDB a única alternativa aceitável entre os partidos de esquerda.
Se o eleitor médio, contudo, sem ideologia, sem muito compromisso com a escolha do candidato, votar em Aécio nestas eleições, acredito que ele estará fazendo um excelente negócio para si mesmo e seu país. A razão básica é que o PSDB defende o uso da racionalidade em diversas questões, mesmo naqueles em que eu discordo. Defende, por exemplo, tratar com racionalidade a questão dos preços, e não a utilização de preços administrados como o PT. Defende a expansão do crédito por meio dos bancos públicos mas também privados, ao contrário do PT que só pensa no efeito imediato do mercado de crédito. O PSDB defende o planejamento aberto, com a possibilidade de engajamento do setor privado, ao contrário do PT que adota uma espécie de plano quinquenal avacalhado, que não funcionou bem nem mesmo na URSS.
E quanto às políticas sociais, o PSDB defende a possibilidade de integrá-las para que as pessoas deixem de depender delas, e não para que se mantenham dependentes da máquina estatal. O PT aponta como uma de suas maiores bandeiras o crescimento do numero de beneficiários dos programas sociais, em especial o Bolsa Família, quando o sucesso deste programa seria o contrário: a redução de beneficiários. Como dizer que uma pessoa deixou a pobreza se continua dependente da transferência de dinheiro do governo para sobreviver?
Assim sendo, espero que dia 26 de outubro Múcio tome a decisão correta e siga a maioria que deseja mudanças. É necessário mudar. É necessário renovar o poder. Aécio pode não ser a solução ideal para um mundo ideal, mas é o mais próximo desta solução ideal que temos. Tenho certeza que apesar de todos os problemas que ele irá enfrentar, como herança maldita deixada pela PT, ainda assim poderá fazer um ótimo governo.

Portanto, dia 26 de outubro, não tenha dúvidas, VOTE 45 e declare em alto e bom tom um FORA DILMA!

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