O DIA EM QUE O OESTE DE CURITIBA TEVE UM INFARTO
Por
Fernando R. F. de Lima.
Não foi a primeira, nem será a última vez,
que esta senhora de meia idade chamada Curitiba teve um infarto. Seu estilo de
vida pesa contra ela. Sedentária, pratica pouco esporte, andando muito de
carro, sempre a baixas velocidades, e com sua dieta pobre de investimentos
acabou com suas artérias congestionadas. Dia 02 de outubro de 2014, por conta
de um caminhão tombado na BR-277, o Oeste de Curitiba passou por um congestionamento
atípico para este lado da cidade.
Eu, com meu filho pequeno no carro, fiquei 10
minutos parado no mesmo lugar, quando estava a aproximadamente 3 minutos de
casa, menos de 1 quilômetros de distância. Fiz meia volta e tentei outro
caminho, por meio do viaduto da Órleans, que estava igualmente congestionado.
Finalmente, dei uma grande volta, e entrei por caminhos sinuosos que me levaram
a minha casa cerca de 20 minutos e 8 quilômetros depois.
O Desenho mostra as principais vias do Oeste
da Cidade. Deve-se notar que a BR-277 funciona como principal meio de acesso
para quem vem do Centro, Leste e Sul da cidade com os bairros do oeste. O
Contorno Sul abriga principalmente tráfego de caminhões de passagem, mas também
trabalhadores da cidade industrial de Curitiba,
com destino aos municípios do norte, (Almirante Tamandaré, Rio Branco do
Sul e Colombo), Campo Largo, e trabalhadores que se deslocam para Araucária e
São José dos Pinhais onde ficam os pólos petroquímico e metal mecânico.
O Trinário serve principalmente aos moradores
da região, cujo número tem aumentando constantemente desde 2000 quando a
construção de edifícios com altura livre foi liberada na região do trinário,
num área que acabou conhecida como Ecoville. Nos bairros mais tradicionais,
(Santa Felicidade, São Braz, Santo Inácio, Butiatuvinha e suas subdivisões, mas
principais vias de acesso são a BR-277 (que também abriga o tráfego de quem vai
para Campo Largo), a Manoel Ribas (para os que moram mais ao norte) e a Cândido
Hartman, que dá acesso aos que se encontram entre a Manoel Ribas e a BR-277. A
Toaldo Tulio funciona como elo entre as três vias, assim como a estrada da mina
do ouro, em menor intensidade.
O sistema apresenta boa capacidade de fluxo
bairro centro e centro barrio. A Manoel Ribas é uma via com quatro pistas, e a
BR-277 também (e ainda ser de tráfego ininterrupto e de alta velocidade, com
interseções em desnível apenas); já a Cândido Hartmam é uma via simples. Mas o
trinário é composto de um sistema de três avenidas das quais duas possuem 4
pistas em sentido único e um é voltada ao tráfego local com faixa central
exclusiva para ônibus. Sendo assim, o acesso ao Oeste nunca deveria ser
problemático.
O “Infarto” ocorrido, no entanto, decorre de
uma deficiência de interligação entre essas vias no sentido radial. Quem
observar o mapa verá que no sentido sul-norte, apenas a Toaldo Tulio – João
Fallarz e a Estrada da Mina do Ouro funcionam como elo entre as vias de acesso.
A Toaldo Tulio é uma avenida cujo tráfego desenvolve-se com velocidade baixa em
horários normais, e lento em horários de pico. A Estrada da Mina do Ouro é uma
rua vicinal. Entre o parque Barigui e o Contorno Leste/Sul, existem três
interseções com a rodovia: a primeira, funciona apenas como retorno no sentido
oeste, ou seja, para quem está saindo da cidade. Sua função é permitir que os
estudantes das duas faculdades locais possam retornar ao centro. A próxima
interseção, da Estrada da Mina do Ouro, é uma interseção de baixa capacidade,
de deveria servir apenas ao tráfego local, mas que em horários de pico apresenta
tráfego lento.
A terceira interseção é o viaduto da Orleans,
construído em fins dos anos 1970. Atualmente, em fins de tarde, o viaduto
trava, porque seu desenho não previu o tráfego que recebe hoje. Adiante, no
viaduto do contorno, que faz a interligação entre tráfego urbano e rodoviário,
é comum vermos congestionamentos, tanto pelo projeto deficiente do viaduto
quanto pela elevada carga de tráfego.
É uma pena ver uma infraestrutura que poderia
ser muito melhor utilizada apresentar um nível de serviço tão baixo para os
usuários por conta de falhas tão elementares no sistema viário. O necessário,
em Curitiba, seriam mais interseções em desnível nesta rodovia, e também nas
principais avenidas. Porque em situações de bloqueia de uma ou outra via, seria
possível utilizar estas interseções para tomar um caminho alternativo.
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