COMENTÁRIOS SOBRE O CENÁRIO ATUAL
Por
Fernando Raphael Ferro.
Passar todo o tempo que passei em silêncio, sem
escrever ou comentar publicamente tudo que está acontecendo no país tem sido um
exercício difícil. A vontade de me pronunciar sobre os absurdos é sempre muito
grande. Mas aí vão alguns comentários fresquinhos sobre algumas coisas que não
posso deixar de dizer.
MORTE DO PSDB
O PSDB morreu. Ficou claro nas eleições. Perdeu
o governo de Minas Gerais para o NOVO, está perto de perder São Paulo para o
Márcio França, e irá ficar com o Rio Grande do Sul como prêmio de consolação. O
que não é necessariamente uma vitória, tendo em vista aquele estado encontra-se
virtualmente falido. Foi varrido para a insignificância no Paraná, e em nível
nacional, teve uma derrota gigantesca com o 4º lugar de Alckmin.
A razão é relativamente clara. O PSDB nunca
representou coisa nenhuma. Foi apenas o anti-PT. Os brasileiros que não queriam
o PT votaram em Collor. Depois, em Fernando Henrique Cardoso. FHC foi eleito
pelo PT como o grande inimigo do “povo”, que o PT julgava representar. Nos
governos petistas, o PT elegeu o PSDB como seu grande antagonista, e esse
antagonismo PT/PSDB moveu todas as eleições subsequentes de 2002 até 2014. Em
2018 surgiu outros antagonistas ao PT, muito mais virulentos e incisivos. Com
isso o PSDB entrou e crise de identidade e morreu. O PT continua sendo o PT. Seus
antagonistas mudaram.
APRENDENDO A SER LIBERAL
Se em algum momento o antagonismo foi entre “socialistas”
e “social-democratas”, depois de décadas de PT e PSDB em que todos viraram
social-democratas à brasileira, surge no cenário o discurso liberal. Mas essa
turminha que se diz de direita, conservador e liberal ainda tem que aprender o
que é liberalismo. Bolsonaro começou a campanha querendo privatizar tudo. Agora
já quer setores estratégicos. E neste fim de campanha já fala até em controlar
preços da gasolina. Ser liberal é confiar na auto-regulação do mercado. Mas esse
povinho quer um governo forte que os proteja do mal, quando o mercado é
malvadão. Se a gasolina subir, dá-lhe governo.
Alguém tem que vender umas lições de livre
mercado pra essa turma. No campo do conservadorismo, já foram reprovados: ator
pornô eleito deputado e político conservador do porte de João Dória estrelando
filme pornô na categoria amador (ok, já disseram que é fake, mas é engraçado
ainda assim), colocam em dúvida a religiosidade dessa turma.
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E FAKE NEWS
Após a violência de fato, manifestada através
de uma facada no presidenciável Bolsonaro, o PT resolver atacar com todas as
armas que pode o Bolsonaro. Associar sua imagem ao nazismo, tortura, e outras
baixarias virou parte da rotina nos programas de rádio e TV patrocinados pelo
erário. Também é notório o desespero da grande mídia com a eminente vitória do
candidato do PSL. Os ataques vêm de todos os lados, com evidente vontade de
descontruir todos os seus discursos. É difícil até mesmo filtrar algo que
preste em meio a tantas notícias desfavoráveis.
Quanto as “fakenews” disparadas pelo whatsapp,
o que se vê é a incrível necessidade paternalista de se “regular” a
disseminação de fofocas, partindo do pressuposto de que os eleitores devem ser
tutelados por alguém que os proteja das notícias falsas. Oras, ser adulto é
justamente poder distinguir o falso do verdadeiro. Se podemos votar, devemos
poder fazer este julgamento e distinção de forma autônoma. Mas uns poucos
iluminados acham que devem regular inclusive a disseminação de notícias por
meio de aplicativos de mensagens, como forma de “proteger” os eleitores contra
a disseminação de notícias falsas.
A esses deve-se ensinar o que é democracia,
cidadania, e principalmente, autonomia e responsabilidade. Porque posar de
defensor da democracia, como faz o PT, e ao mesmo tempo querer tutelar os
cidadãos, não passa de uma máscara de cordeiro posta na face mais autoritária
do desejo de controle das mídias e ideias que elas veiculam.
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