VISÕES DO CHILE
Por Fernando R. F. de Lima
Semana passada estive em viagem ao Chile para
apresentar um texto no Congresso Internacional do Conhecimento, escrito em
parceria com meu amigo e colega Agemir. O congresso ocorreu na cidade de
Santiago, e como era minha segunda visita a esta cidade, resolvi escrever um
pouco sobre o que vi por lá, mas, sobretudo, sobre as diferenças entre este
país e os outros latino-americanos que conheço.
O Chile tem pouco mais de 17 milhões de
habitantes e Santiago pouco menos de 6 milhões. Como qualquer capital latino-americana,
é uma cidade grande, com várias áreas pobres distantes do centro. Do alto do
Cerro San Cristóbal é possível ver vários bairros que poderiam ser facilmente
confundidos com favelas, o mesmo ocorrendo à margem de algumas rodovias.
Por causa da presença constante de abalos
sísmicos, as edificações são geralmente baixas, o que não impede que o centro
tenha diversos edifícios muito elevados. O maior prédio da América Latina está
em construção em Santiago, por exemplo. A cidade, ao contrário de São Paulo,
Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, conta com uma rede relativamente grande de
metrô, pouco mais de 100 km de linhas. Também há um sistema bastante
capilarizado de ônibus urbanos e diversas opções de vias de alta capacidade
(pedagiadas), que permitem o acesso fácil e rápido a localidades distantes de
qualquer ponto da cidade.
Esta infraestrutura do Chile é resultado da
aposta liberal que o país fez ainda no período Pinochet e seus Chicago Boys. O Chile tem a economia
mais aberta da América do Sul, com acordos de livre comércio com vários países,
entre os quais os EUA (Nafta), a China, o Japão, Coréia, Austrália e vários
outros. Os produtos oriundos de países com os quais não há acordos de livre
comércio pagam uma tarifa de importação média de 5,98%. Não há setores
protegidos na economia chilena. Atualmente, a economia local depende da
exportação de cobre, produtos florestais (madeira, celulose), frutas frescas e
vinhos. O setor de serviços é muito importante, sobretudo em Santiago, com uma
das maiores bolsas de valores da AL.
A economia chilena tem crescido a taxas altas
para o padrão brasileiro (mais de 4% ao ano), há vários anos, e sua renda per
capita já maior que a brasileira e a argentina. O capitalismo chileno também
conseguiu coisas que aqui no Brasil ainda engatinham. Um exemplo é a construção
de rodovias pedagiadas. Há um túnel que liga o centro da cidade ao aeroporto em
torno de 15 minutos de carro, quando o tempo normal, pelas vias de superfície,
é de 90 minutos. Linhas de metrô foram rapidamente construídas nos últimos
anos. A Ruta 5, rodovia pan-americana, está em duplicação por todo país, desde o norte desértico até o sul.
Diversos projetos de geração de eletricidade
eólica estão avançando, além das centrais para importação de Gás Natural
Liquefeito (GNL), que diminuiu a dependência chilena dos Argentinos e
Bolivianos. Além disso, há os controversos projetos de construção de
hidrelétricas na Patagônia chilena, alguns dos quais em andamento.
Obviamente, nem tudo são flores. Os chilenos
trabalham muito para os padrões brasileiros. Os alimentos são caros, e subiram
muito nos últimos anos, tendo em vista a dependência do Chile no mercado
externo. As condições de saúde e de habitação têm melhorado, mas não são muito
melhores que de outras grandes cidades na América Latina. O modelo “neoliberal”,
que na verdade eu chamaria apenas de liberal, tem mostrado que o caminho para o
desenvolvimento é árduo, dependendo de muito trabalho, suor e lágrimas. Apesar
disso, este processo está transformando o Chile num país desenvolvido. Eles
ainda são um país de renda média, e pelo que sei, suas maiores necessidades de
progresso são na área de educação (ainda nos padrões latino-americanos) e uma
grande necessidade de melhoria nos serviços, cuja produtividade (e qualidade) ainda é baixa.
Um problema da educação no Chile é que, mesmo
nas universidades públicas ela é paga. Mas este serviço pago não garante
qualidade de ensino. Portanto, a educação acaba não sendo um meio de ascensão
social muito prático para os chilenos, porque muitos sofrem grandes restrições
financeiras. É um problema que deverá ser enfrentado pelo governo e a sociedade
chilena e imagino que eles estão mais aptos para resolver seus problemas que
nós, brasileiros, para resolver os nossos.
Comentários