SERÁ NECESSÁRIO OUTRO PARTIDO POLÍTICO?
Por Fernando R. F. de Lima.
Meu texto sobre o ARENA acabou gerando alguns
comentários diretos no site e outros indiretos sobre o tema da fundação de um
novo partido político para combater o avanço do petismo no Brasil. Minha
opinião, que permanece, é a de que os partidos servem para expressar os
diferentes agrupamentos de pensamento e comportar as diferentes lideranças
existentes no país. Só que minha posição, em particular, é de rejeitar as convicções
ideológicas do ARENA, tendo em vista que sou muito mais liberal que
conservador.
Neste ponto de vista, deixo claro que, em
princípio, sou simpático ao programa e as idéias do Partido Federalista, que
está em vias de ser criado também. Contudo, a questão que norteia este texto é:
será necessário outro partido político no Brasil, qualquer que seja sua
orientação?
Nosso tipo de federalismo, mas precisamente
nosso sistema eleitoral levou a esta pulverização partidária que vemos hoje.
Antes de abrigar ideologias, os partidos políticos abrigam diferentes
lideranças políticas. No Brasil, a impressão que tenho é que o eleitor é
extremamente pragmático na hora de votar, escolhendo diretamente o candidato
que lhe é mais simpático, ou seja, cujos valores pessoais mais se aproximam do
eleitor.
Este fato leva ao personalismo nas eleições:
não se vota no partido, na ideologia, e tampouco nas propostas, mas sim na
pessoa que pede o voto. Este tipo de sistema funciona relativamente bem para as
eleições diretas, como é o caso do presidente, governador, prefeito e senadores
mas, em função da existência de um complexo sistema de representação
multipartidária, acaba gerando uma grande distorção no que diz respeito às eleições
proporcionais legislativo. O falecido PRONA, por exemplo, elegeu uns quantos
deputados única e exclusivamente por causa da popular figura do deputado Enéas.
O mesmo ocorreu com o Tiririca e tantos outros atores, cantores, palhaços ou
ideólogos.
Pessoas com grande capital político, carisma
e reconhecimento, são um patrimônio importante na criação de um partido
político. Gilberto Kassab, por exemplo, conseguiu em poucos meses o que Thomas
Korontai do Partido Federalista não conseguiu em anos. Assim, a política
brasileira, ao oferecer a possibilidade de que um pequeno grupo de lideranças
consiga acesso ao congresso com alguns poucos candidatos famosos.
Por isso, enquanto nosso sistema eleitoral
não mudar, para um tipo distrital, por exemplo, acho muito difícil que qualquer
novo partido político tenha alguma chance de sucesso. O cenário presidencial
continuará dominado pela disputa entre dois ou três grandes partidos, que
atualmente se manifestam na figura do PT, PSDB e PMDB. Como o PMDB não consegue
coesão interna para lançar candidato próprio, a presidência certamente
continuará polarizada entre PT e PSDB. Nos Estados, a diversidade é maior,
porque as lideranças regionais fazem mais diferença. E nos municípios é que a
verdadeira pluralidade partidária se manifesta, uma vez que há grandes e
pequenos municípios, cuja presença dos diversos partidos é muito maior.
Contudo, dado o baixo teor ideológico dos
partidos no Brasil, com algumas poucas exceções, alguém que realmente deseje
fazer oposição ao governo (qualquer governo), pode afiliar-se a um dos partidos
existentes e empreender uma carreira solo como vereador, prefeito, deputado
estadual, federal, senador, governador ou até mesmo tentar a presidência. É o
que fazem diversos pretendentes a política, alguns com até relativo sucesso.
Eu acho que os liberais brasileiros e os
conservadores de tendências liberais em economia poderiam se unir (a questão é: como?) e invadir
alguma das legendas partidárias existentes, de preferência alguma com estatuto
partidário mais flexível, destronando as lideranças regionais no sentido de
ideologizar estes partidos e formar uma frente de direita. De certa forma,
seria o processo inverso do que ocorreu com o PFL, que foi desideologizado à
medida que era tomado por lideranças regionais tão diferentes quanto Antônio
Carlos Magalhães e Jaime Lerner.
Outra coisa que acho fundamental para a
formação de uma frente de direita no Brasil é que as pessoas soit dissant conservadoras e liberais
deixem de lado o “nojinho” que tem de entrar na política e passem a uma atitude
ativa nas eleições. Afinal, combate-se o PT votando em quem está contra ele,
por mais que a “ideologia” do partido do candidato X ou Y seja contrária às
suas próprias convicções. Com isso, quero dar um puxão de orelha em quem não
votou deixando que o candidato apoiado pelo PT vencesse as eleições em Curitiba
e em São Paulo (cujo candidato é do PT).
Todos aqueles que querem se aventurar a criar
partidos ou fomentar ideologias devem ter em mente que o povo é extremamente
conservador em suas escolhas, só elegendo aquilo que experimentou, por mais
bonita que seja a embalagem. Engana-se quem imagina que um dia teremos um
presidente verdadeiramente liberal sem experiências liberais bem sucedidas em
cidades grandes. Antes de galgar o posto máximo da república, será necessário
ganhar eleições em muitas cidadezinhas e cidadezonas, para conquistar um mínimo
de confiança dos eleitores.
Para 2013 espero poder discutir aqui no blog
um pouco mais sobre o que seria uma administração municipal liberal, já que
para avançarmos na política deveremos começar comendo pelas bordas. Quem quiser
avançar diretamente ao topo, certamente está apenas preparando seu próprio recall para uma eleição legislativa e
não buscando a promoção da democracia, liberdade e prosperidade em nosso país.
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