COMO MELHORAR A PRODUTIVIDADE NAS CIDADES - PARTE 2: Serviços Urbanos
Por Fernando R. F. de Lima.
Outros investimentos que devem ser realizados
no sentido de melhorar a produtividade geral da economia dependem basicamente
de mudanças em legislações específicas que impedem ou entravam algumas atividades
comerciais e de serviços. Isto porque, muitas legislações foram criadas no
sentido de criar barreiras de mercado para os serviços dentro das cidades.
Não sei se alguém já reparou, mas em várias
cidades notamos uma grande concentração de lojas de carros em algumas avenidas.
Pergunto, no entanto, se alguém já viu duas revendas da mesma marca na mesma
rua. A resposta deverá ser não, a menos que a rua em questão seja
suficientemente longa para evitar que as duas lojas de carro da mesma marca disputem
o mesmo espaço. Isso decorre de uma lei do final dos anos 1970 que dispõem sobre os serviços
prestados por concessionários de veículos automotores (exceto os agrícolas).
Esta lei é de responsabilidade nacional,
obviamente, mas afeta diretamente a produtividade da economia. Isto porque ela
reduz a competição dentro das cidades, no espaço urbano, possibilitando aos
concessionários ganhos de monopólio sobre determinadas áreas da cidade. Alguém
pode até pensar que sou louco falando em monopólio num dos mercados mais
competitivos de veículos do mundo, mas o fato é que você jamais poderá sair de
uma concessionária Fiat e caminhar até o outro lado da rua, na outra
concessionária Fiat do grupo concorrente brigar por preço. E esta possibilidade
não foi eliminada por um complô do mercado, mas pura e simplesmente por uma lei
que impede este tipo de situação. Conforme a definição que vimos de
produtividade, seria possível adquirir o mesmo veículo mais barato, o que
deixaria sobras para serem gastas em outros produtos. Isso representaria um
ganho de produtividade que se encontra, a rigor, ao alcance de todos.
Outras leis absurdas são aquelas que obrigam
a presença de frentistas em postos de combustíveis. Em todo o mundo, a venda de
combustível ocorre da seguinte forma: você chega no posto, escolhe a bomba e
abastece o próprio carro. Ponto final. Nada de frentistas perguntado se você
quer olhar a água e o óleo ou dar uma lavada no para-brisas. Aqui no Brasil é
obrigatória a contratação de frentistas por um posto de gasolina.
Situação igualmente absurda ocorre nos
supermercados. Eu pude testemunhar na Europa a existência de caixas de
supermercados e livrarias em que o cliente escolhe os produtos, passa na
máquina registradora, paga, recebe o troco e empacota os produtos sem ter que
se comunicar com nenhum funcionário da loja. Grosso modo é o que já fazemos nos
caixas eletrônicos dos bancos, só que estendido para vários outros serviços. Isso
significa, assim como no caso da bilhetagem eletrônica, ganhos de
produtividade, porque as pessoas empregadas para passar um pacote na frente de
um leitor de código de barras, por menos instruídas que sejam, certamente têm
potencial para fazer muito mais que aquilo e de forma muito melhor.
Os exemplos nas grandes cidades se
multiplicam: por que são necessários manobristas em estacionamentos? Por que
pessoas se dedicam a digitar placas de carros em um computador para cobrar o
tempo parado? Por que cobradores em praças de pedágio se está disponível a
bilhetagem eletrônica? Por que tantos papéis na hora de abrir e fechar
empresas? Por que horários de funcionamento diferenciados para estabelecimentos
comerciais localizados nas ruas e nos shoppings? Por que o mesmo preço de
tarifa para quem anda 10 quadras de ônibus que para quem anda 25 quilômetros?
Todas estas perguntas, quando respondidas, têm
em seu cerne as causas da baixa produtividade em vários setores da economia
brasileira. Sem superá-las, jamais alcançaremos o desenvolvimento. Por outro
lado, pode-se notar que não se trata de medidas complexas e sim, na maioria das
vezes, de desfazer amarras burocráticas criadas ao longo das décadas para “proteger”
determinadas categorias profissionais. É
só pensar na inutilidade de um ascensorista em dias como hoje, em que os
elevadores têm mais tecnologia embarcada que os ônibus.
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