LIBERALISMO NÃO É CONSERVADORISMO: ou porque eu não apoio o ARENA
Por Fernando R. F. de Lima
Li na Folha de S. Paulo de hoje que a estudante de direito Cibele Baginski, 23 publicou ontem, dia 13 de novembro, no diário oficial, o programa do Partido que tentam refundar, o ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Na década de 1960, foi este o partido que deu apoio ao regime militar, quando a oposição legalizada estava toda agrupada no MDB.
Este grupo, liderado pela senhoria Baginski, tem como objetivo claro criar um partido “de direita”, colocando-se, acima de tudo, contra os diversos partidos de orientação ou inspiração marxista. A seguir, seguem os objetivos do partido, conforme publicados no DOU de ontem:
I - O desenvolvimento de uma sociedade justa e com qualidade de vida estrutural e cultural-educacional;
II - Incentivo ao nacionalismo brasileiro;
III - Promover o avanço científico, por meio de políticas públicas, fornecer o básico para a dignidade humana de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e as Garantias Constitucionais, e também oferecer desafios que estimulem a mente enquanto se enfatiza a individualidade em vez da uniformidade;
IV - Incentivar o desenvolvimento da cidadania, opinião crítica e social, a formação da personalidade dos jovens, formadores do futuro da nação, e o reconhecimento da criatividade e outras formas de expressão que tragam melhorias à sociedade;
V - Defender os preceitos democráticos de acordo com as garantias fundamentais da Constituição Cidadã, lutando contra a comunização da sociedade e dos meios de produção além de outras práticas insidiosas ao pleno desenvolvimento e qualidade da sociedade brasileira.
VI - Resguardar a soberania nacional, o regime democrático e o pluralismo político de toda forma de uniformidade de pensamento ou hegemonia política.
VII - Ser um partido de pessoas para pessoas.”
Dos objetivos do partido, discordo da promoção do Nacionalismo; desconheço o significado objetivo que possam ter os objetivos I e VII e acho que os partidos políticos devem ficar longe do objetivo IV. Os objetivos V e VI são, na verdade, a obrigação de qualquer partido político num regime democrático.
Agora os porquês. Primeiramente, o nacionalismo, o industrialismo e a administração estatal tecnocrata que existiu durante o período da Ditadura Militar estão mais próximos ideologicamente do comunismo e do fascismo que do liberalismo. Criar uma sociedade liberal demanda, acima de tudo, liberdade econômica, que em nada tem haver com o nacionalismo. Portanto, acreditar no nacionalismo, por mais que apenas no sentido militar, envolve um sentimento de reclusão e fechamento que em nada tem a ver com a promoção de uma sociedade aberta.
A educação e a formação dos jovens deve ser um assunto técnico e não ideológico. Trocar a educação “libertária” de hoje em dia por uma “conservadora” não nos tornaria um país desenvolvido. O problema da educação não é ideológico, é técnico. Professores mal instruídos dão péssimas aulas em ambientes lotados e desestimulantes. O básico (ler e escrever, fazer contas e conhecer os fundamentos dos métodos e linguagens científicos) não é ensinado, e caso seja, leva em direção a um ensino pluralista e não ideológico.
Outra questão que me afasta do partido é o tal Conselho Ideológico, autoridade máxima do partido, com quatro membros eleitos e cinco membros justicares, pelo que entendi (perdoem-se a ignorância do vernáculo) são membros permanentes. Jamais confiaria meu direito de consciência a um partido que entrega suas decisões a um conselho ideológico em que a maioria dos membros é composta de não eleitos que dispõem de um cargo vitalício. É como confiar num conselho de anciãos.
Por isso, alerto que o tal ARENA, se vier a se consolidar como um partido, conquistando as milhares de assinaturas necessárias, apesar de declarar-se à direita, não será um partido a defender as liberdades individuais, começando pelas econômicas e de consciência, mas apenas um resgate do velho conservadorismo que hoje encontra-se pulverizado nas dezenas de legendas que existem no país. Destaco ainda que, em minha opinião, esta iniciativa faz um desfavor ao espectro político, por reforçar a já negativa associação entre Direita e Ditadura que é tão forte na cabeça dos brasileiros.
Apesar de saber que milhares de pessoas, talvez milhões, sintam simpatia por estas causas (nacionalismo, conservadorismo, patriotismo, etc), e que futuramente talvez esta agremiação possa fazer sombra aos partidos de esquerda que dominam o espectro político, acho que os insatisfeitos com as ideologias marxistas e social-democratas reinantes mereciam algo melhor para chamar de direita no Brasil.
Comentários
Um porém a um dos comentadores... Caro "Mídia Católica", acho que entendeste mal: nós é que não precisamos do teu apoio para combater o PT ou qualquer outra agremiação estatizante. Basicamente, porque vocês não são tão diferentes entre si quanto pensam que são.
Tb fiquei com umpé atrás com esse Arena.
Abraço
Fernando R. F. de Lima