TRANSPORTE COLETIVO E SUPERLOTAÇÃO: COMENTÁRIOS A MATÉRIA DA GAZETA DO POVO.

No Jornal de domingo, 1º de março, no caderno Vida e Cidadania, na página 6, saiu uma reportagem sobre o transporte coletivo de Curitiba. Basicamente, a reportagem levantou algumas críticas ao sistema junto ao pessoal técnico, professores de arquitetura, urbanismo e engenharia. Mas há também uma pesquisa interessante nas páginas, realizada com 716 pessoas. Nesta pesquisa há algumas informações interessantes: Uma delas é sobre o meio usado para trabalhar. Cerca de 48% das pessoas que responderam a pesquisa disseram que usam o ônibus. Destes 48%, 57% não possuem carro, 14% consideram o ônibus mais barato, 13% recebem vale-transporte e apenas 9% o consideram mais rápido e prático.

Também  é interessante as resposta das pessoas que usam o carro, que representam 21% do total. Destes, 27% não usam o ônibus por conta da superlotação, 23% por causa da demora na baldeação, 13% trabalham com o carro ou o utilizam muito, 8% consideram a tarifa cara, 7% por causa do tempo de viagem, 5% por causa do conforto, ou melhor, da falta de conforto, e 3% porque o trajeto é próximo de casa. Falta de segurança foi citada por 3% e ponto de ônibus distante por 2%.

O que acho interessante nesta pesquisa é que alguns dos impedimentos do sistema de transporte poderiam ser resolvidos por meio da integração com outros modais. Por exemplo, a demora na baldeação, que leva 23% dos motoristas a preferirem o automóvel. Se somarmos este número aos 7% que consideram o tempo de viagem um impedimento ao uso do ônibus temos um total de 30%. Este problema poderia ser parcialmente resolvido com a integração ônibus/bicicleta. O exemplo que eu vou dar é bem comum, e pode ser aplicado para inúmeros deslocamentos. De um modo geral, o maior problema de tempo que tenho quando pego um ônibus é para ir da minha casa até o terminal de ônibus. Levo neste trajeto cerca de 25 minutos.

Vou explicar também o como conto este tempo. Normalmente, as pessoas contam como tempo de deslocamento apenas o que gastam a partir do momento em que entram no veículo. Só que este é um erro (talvez seja a causa de tantos atrasos). A contagem começa no momento em que a gente fecha a porta de casa e termina como entramos no local de destino. É o chamado trajeto porta a porta. Quando saio de casa, levo aproximadamente 3 minutos para sair da garagem com o carro e entrar na rua. Depois, levo mais 3 minutos para estacionar o carro e andar até a entrada do trabalho. São seis minutos de deslocamento até chegar ao carro e depois para sair do carro e ir até quero. No trajeto que faço pela rua, ou seja, me deslocando de carro, levo mais 10 minutos. O tempo total de deslocamento é 16 minutos para realizar um trajeto de 5 km. A velocidade, portanto é 18,75 km/h, ou aproximadamente 19 km/h. É surpreendente, portanto, a demora que eu levo para fazer o trajeto de carro, ou melhor o trajeto completo. Somente no percurso, a velocidade média é de 30 km/h, mas contando estes outros pequenos deslocamentos necessários quando se ano de carro, reduzo em 30% a velocidade média.

De ônibus, eu levo 5 minutos até chegar ao ponto. Ali espero mais 5 minutos, aproximadamente, porque sempre saio de casa um pouco antes do horário. Depois levo mais 15 minutos até o terminal de ônibus, onde normalmente aguardo mais 5 minutos pelo próximo ônibus. Só que esta espera pode variar de 1 minuto, no que tenho que atravessar o terminal correndo há 20 minutos, quando acabo perdendo o outro ônibus. Deste outro ônibus, levo mais 5 minutos de trajeto, e depois mais 3 minutos até a porta do trabalho. O tempo total é de 38 minutos, para fazer 5 km aproximadamente. É óbvio que o percurso de ônibus é um pouco maior, chegando a uns 7 km, mas isso ocorre por conta das voltas que o ônibus faz para chegar no mesmo lugar em que chego de carro. A velocidade média é de 8 km/h, o que mostra o quão demorado é andar de ônibus. Um pedestre, por uma via bem calçada e pouco movimentada, consegue manter uma velocidade média de 5 km/h. Eu levaria para completar o trajeto a pé cerca de 1 hora, ou seja, apenas 22 minutos a mais que de ônibus.

De bicicleta eu levo 20 minutos até o trabalho, contanto o trajeto porta a porta, porque já saio de casa pedalando e pedalo até a entrada. Gasto depois algum tempo trocando de roupas, cerca de 10 minutos entre guardar a bicicleta, trocar de roupa e beber um pouco de água, mas mesmo contando todo este tempo, ainda chego 8 minutos antes do que se eu vier de ônibus. A volta é mais rápida, porque quando chego em casa vou direto para o chuveiro, e gasto menos de 17 minutos, ou seja, o mesmo tempo que de carro.

O uso da bicicleta para uma parte do trajeto, no caso de uma pessoa que pega 2 ônibus, um até o terminal e outro do terminal ao trabalho, poderia levar a uma redução considerável no tempo de deslocamento porta a porta. As razões são duas: normalmente os ônibus troncais são mais rápidos, conseguindo uma média de 20 km/h, o que nos deslocamentos até o centro da cidade é uma velocidade melhor que a do automóvel. O problema de lentidão está nos ônibus alimentadores, que fazem o trajeto de coletar passageiros para as linhas troncais. Este trajeto, que leva cerca de 8 minutos para todos os passageiros (3 min até o ponto mais 5 minutos esperando), poderia ser cumprido de bicicleta, já que em 8 minutos de pedalada é possível chegar a uma linha troncal de vários pontos da cidade. Com isso, o transporte coletivo se tornaria mais rápido, por assim dizer.

Para 32% dos entrevistados, considerando os 2% que acham que o ponto é longe de casa, o principal obstáculo para andar de ônibus seria superado. Isso não significa que eles irão abandonar seus veículos em casa em prol do ônibus, mas mostra que é possível contornar parcialmente este problema com o emprego de bicicletas. Quero comentar mais em detalhe esta possibilidade fazendo um texto específico sobre os sistemas de bicicletas urbanas como o Velib de Paris.



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