ALGUMAS NOTAS SOBRE O TRANSPORTE PÚBLICO DE CURITIBA – PARTE 2.

            Os número dos sistema de transporte fornecidos pela prefeitura não permitem uma análise detalhada do sistema por parte do cidadão comum. Porém eles permitem que façamos algumas inferências. São feitas 26 mil viagens por dia, transportando 2 milhões de usuários. Isso dá uma média de 89 passageiros por viagem. Sabemos que um ônibus comum tem capacidade para 80 passageiros (lotação máxima, que muitas vezes é ultrapassada). Um ligeirinho (ônibus sem cobrador) tem capacidade para 90 passageiros. Um ônibus articulado, capacidade para 160 passageiros e um biarticulado para 270 passageiros. Se tivéssemos os dados detalhados por linha de ônibus e tipo de ônibus, ficaria mais fácil avaliar a qualidade dessas 26 mil viagens. Mas como usuário posso passar minhas impressões subjetivas.

            1 – Linhas convencionais. São aquelas em que circulam apenas os ônibus comuns. Nos horários de pico (6:30 às 8:00 e 18:00 às 19:30) essas linhas são cheias, com ônibus barulhentos, que passam por ruas esburacadas, de modo que é um trecho lento, barulhento e desconfortável, com várias paradas ao longo do caminho. Nos outros horários, os ônibus passam vazios, com menos de 10 passageiros ao longo de todo o caminho. Os intervalos variam de 15 a 30 minutos dentro da cidade até hora em hora na RMC.

            2 – Linhas Diretas (ligeirinhos). Em praticamente todos os horários são linhas com vários passageiros, quase sempre com gente em pé. Nos horários de pico os ônibus ficam muito cheios, com lotação acima da capacidade indicada, sendo extremamente desconfortáveis. Além disso, ficam presos no tráfego junto com outros veículos, o que leva os motoristas a cometerem inúmeras barbeiragens, como fechar outros veículos, mudar constantemente de faixa, passar no sinal vermelho, etc.

            3 – Biarticulados. Geralmente estão cheios no centro e vazios nos bairros. Nos horários de pico são muito cheios. Do ponto de vista do barulho e dos sacolejos, são os mais confortáveis. São relativamente rápidos e não perdem muito tempo no tráfego. No entanto são muito perigosos, sobretudo para ciclistas e pedestres, sendo freqüente a ocorrência de atropelamentos.

            De um modo geral, o sistema de ônibus tem duas deficiências: é lento e é caro. Lento porque as baldeações necessárias fazem o usuário perder muito tempo entre a troca de um ônibus e outro, ou ainda nas esperas nos bairros e terminais. Caro porque para quem se desloca em pequenos trechos, até 10 km, de um modo geral compensa mais ir de carro, pelo tempo e pelo custo. Durante os horários de pico, isto é quando realmente deveria funcionar, as linhas ficam muito cheias. Nos outros horários o sistema funciona bem, mas a demora para o usuário é agravada pelo maior intervalo entre os ônibus.

            Pessoalmente, eu acho que andar de ônibus em Curitiba não compensa para os curitibanos, sendo, porém uma alternativa razoável para os trabalhadores da região metropolitana. Dizer que os pobres são beneficiados também é mentira, pois o preço da tarifa leva milhares de pessoas a se deslocaram diariamente de bicicleta (pelas pistas exclusivas para ônibus) e também a deslocamentos a pé. Isso pode ser constato pelos números do transporte público, que não aumenta o número de usuários há vários anos, pelo menos desde 2001.

            Se for feito um cálculo simples sobre o número de usuários pagantes, supondo que todos eles paguem apenas duas passagens, veremos que número diário de passageiros é de aproximadamente 620 mil pessoas por dia. Esse número no entanto pode ser menor, porque há várias pessoas que fazem mais de duas viagens por dia (eu mesmo realizava uma média de 3 por dia 5 dias por semana, e quando estudante 4 por dia). Parte destes usuários são estudantes, que andam pagando meia passagem. Outra parte são os trabalhadores que moram na região metropolitana, e buscam o centro, os bairros comerciais e a cidade industrial.

Obviamente, seria difícil de imaginar a cidade de Curitiba sem seu sistema de transporte coletivo. Mas uma coisa é fato, nos dias de greve de ônibus a cidade não pára como São Paulo. Na última greve que ocorreu, grande parte das pessoas trabalhou normalmente, e para os trajetos que eu faço o trânsito melhorou (porque não havia ônibus). Como eu já falei em outro artigo, a questão não é acabar com o transporte coletivo e imaginar uma cidade onde só o transporte individual seja a alternativa. A questão é buscar meios para se racionalizar os custos dos sistemas de transporte coletivo, e transferir o máximo possível de responsabilidade para a iniciativa privada e procurar reduzir os impactos do sistema de transporte na dinâmica de uso do solo, sobretudo para evitar a chamada "especulação imobiliária". No próximo artigo trato disso com mais detalhes.

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