ALGUMAS NOTAS SOBRE O TRANSPORTE PÚBLICO DE CURITIBA – PARTE 1

Curitiba é considerada uma "cidade modelo" quando o assunto é transporte público. Isso se dá pelo fato de que, desde a década de 1970 tem sido feitas importantes intervenções para construir, manter e ampliar um programa de transporte público que atenda toda a cidade. Em comparação com outras cidades do Brasil, Curitiba mostra grande preocupação com o transporte coletivo, e tem um sistema elogiado no mundo todo, que apresenta como principais aspectos o baixo custo e a eficiência.

Podemos, no entanto, fazer algumas avaliações sobre esse sistema de transporte, e tentaremos obter algumas informações sobre o custo que ele representa para o cidadão curitibano e das cidades metropolitanas. Começaremos pela descrição do modelo de funcionamento, e depois a avaliação dos números do transporte e, por fim, minha avaliação como usuário. Procurarei fazer algumas inferências sobre o impacto que esse sistema de ônibus teve no crescimento da cidade, e na questão da valorização imobiliária.

Começando pelo modelo, o sistema de transporte de Curitiba é um oligopólio administrado. Algumas empresas, que possuem alguns poucos donos distintos "compram" o direito de explorar uma da linha por um tempo. São responsáveis pela contratação dos funcionários (motoristas, cobradores, mecânicos, etc.) e pela administração da frota (compra, manutenção, etc.). As passagens arrecadadas, no entanto, são repassadas para a URBS, um empresa de "economia mista", na prática estatal, que realiza a fiscalização, o planejamento e a remuneração das empresas por meio de regras definidas no contrato de concessão. As empresas são remuneradas por quilômetro rodado, independentemente do número de passageiros. Elas tem que cumprir os itinerários e os horários definidos pela URBS para a linha. O preço da tarifa que é cobrada do usuário é definida por um conjunto de fatores, nos quais entram a composição da frota, os salários e os custos de manutenção e combustível.

O transporte na capital e em alguns municípios da região metropolitana funciona de modo integrado, de forma que pagando uma única tarifa o usuário pode se deslocar por várias linhas, desde que faça a baldeação em pontos específicos, como terminais e estações tubo. São isentos de pagar a passagem os idosos acima de 65 anos, crianças menores de 5 anos, portadores de deficiências físicas e usuários crônicos do sistema municipal de saúde, que demandam deslocamentos diários. Além desses, estão isentos também os policiais, guardas municipais, funcionários da Urbs e das empresas de ônibus. Estudantes de baixa renda pagam meia passagem, desde que cadastrados na Urbs, onde precisam apresentar um comprovante de residência e de renda, junto a um comprovante de matrícula.

A primeira vista, parece ser um sistema bem completo e inclusivo, e apresenta alguns números bem interessantes: 2 milhões de usuários por dia, numa população de mais ou menos 3,5 milhões na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Há 1,25 milhões são usuários pagantes, o significa 750 mil usuários que viajam gratuitamente todos os dias. Há 1.877 ônibus em operação, diariamente que perfazem um total de 26 mil viagens por dia. A tarifa de segunda a sábado é de R$ 1,90 e de R$ 1,00 aos domingos.

Não há, porém, a disponibilidade pública dos dados orçamentários da URBS, pois o sistema é parcialmente mantido via impostos, além das tarifas. Isso ocorre por uma razão simples. Há várias linhas na cidade que são insustentáveis financeiramente, por não terem um número mínimo de passageiros dia, que as fazem rodar com o ônibus vazio. Há outras, porém, que são lucrativas, porque rodam sempre com os ônibus cheios. A Urbs controla o sistema para poder fazer a compensação entre esses dois tipos de linhas. Há também uma outra questão no sistema. Se o deslocamento é maior, o transporte torna-se mais barato para o usuário, quando se avalia o custo por quilômetro rodado. O inverso é verdadeiro. Só que isto faz com que as viagens curtas "subsidiem" as viagens longas, o que cria um estímulo, de certa forma, para se morar longe. No próximo texto comento a questão dos números do sistema e minha opinião enquanto usuário.

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Comentários

Rodrigo Choinski disse…
"Só que isto faz com que as viagens curtas "subsidiem" as viagens longas, o que cria um estímulo, de certa forma, para se morar longe."

Que as viagens curtas subsidiam as viagens longas é verdade, é o custo para termos um preço único. Só que você está vendo a questão de ponta cabeça... não é isso de jeito nenhum que estimula as pessoas a morarem longe, isso tem a ver com o custo... qualquer um preferiria morar o mais perto possível até porque o gasto é o mesmo para quem paga!!! e só faz diferença para a URBS... além do que as linhas curtas são bem mais confortáveis...

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