LOBBIES E CAPITALISMO

Fernando R. F. de Lima

 

O texto anterior recebeu um comentário que considerei uma fonte de inspiração para este texto. É de João Carlos Cascaes e diz: "os lobbies industriais não gostam de falar sobre essas coisas. O mais racional é evitar o transporte motorizado individual." De fato, João está certo nos dois comentários. Para um mundo mais verde, deve-se evitar o transporte motorizado individual. Eu até mesmo ampliaria o sentido desta frase e diria que deve-se evitar o transporte motorizado, inclusive o coletivo. Quando menos transporte motorizado, menos energia é despendida na forma de calor, barulho e poluição do ar. Isto é um fato. Outra questão em que ele também está certo, é que os lobbies não gostam de falar destas coisas.

Sim, porque o capitalismo, aquele que cresce dentro de uma democracia, é cheio de lobbies. Desde aqueles lobbies esquerdistas, como aqueles exercidos pelos sindicados, até lobbies de empresas, pedindo por proteção contra concorrentes, monopólios ou ainda subsídios e investimentos em indústrias correlatas. Nestes três setores em particular, a indústria automobilística sempre foi muito ativa. Em todos os países. E a massificação do automóvel é, em partes, produto deste lobby forte exercido pelos fabricantes de automóveis e indústrias correlatas.

Eu já comentei no passado sobre o grande escândalo americano dos bondes, que ocorreu em São Francisco. Antes do predomínio absoluto dos automóveis, eu posteriomente foi parcialmente revertido em São Francisco, esta era a cidade dos bondes. Acontece que a companhia que administrava os bondes era a mesma que fornecia eletricidade para a cidade. Portanto, ela tinha interesses claros em estimular o mercado imobiliário ao longo de suas linhas elétricas e de suas linhas de bondes. Era uma empresa com pretensões monopolísticas. Um lobby foi criado contra ela, levando a quebra de seu monopólio e à exigência de separação dos negócios da companhia de energia elétrica da companhia de bondes.

Na época, eletricidade era muito cara e demandada para ser comprada a preços de mercado, competindo com os consumidores residenciais. E não havia uma grande empresa capaz de fornecer energia suficiente para os bondes a preços que permitissem a continuidade da companhia. Os bondes subsidiavam a construção de novas áreas residenciais (fornecendo transporte para elas), e ao mesmo tempo eram subsidiados pela vende de energia nestas mesmas áreas. A empresa ganhava dinheiro por meio deste virtual monopólio. Com a separação das companhias, a empresa de bondes viu-se em sérias dificuldades financeiras, e foi comprada por um consórcio de empresas entre as quais estava a Chevrolet e companhias de petróleo (gasolina), pneus e auto-peças. A primeira medida do consórcio foi desativar o sistema de bondes e implantar um sistema de ônibus no lugar.

Este sistema de ônibus, mais descentralizado, tinha a vantagem de ser mais adaptável para servir toda a cidade, além de liberar eletricidade para as residências e comércios. Contudo, qual o interesse de uma empresa que fabrica automóveis em fornecer um sistema de ônibus de qualidade? Por que concorrer contra si mesma? Não é necessário detalhar que o sistema de transporte coletivo rapidamente se degradou, sobretudo frente às inúmeras facilidades proporcionadas para o uso de automóveis. Até hoje cidades da Califórnia pagam o preço da opção preferencial pelo transporte individual, na forma de smog, grandes e distantes subúrbios e congestionamentos.

Agora, o mesmo lobbies das indústrias de automóveis e correlatas está fazendo pressão para a construção de uma rede subsidiada capaz de dar suporte aos automóveis elétricos que elas pretendem vender. Podemos nos perguntar, diante deste fato, se novamente este lobby será vencedor e irá impor seu modelo de transporte para a sociedade americana pelos próximos 20, 30 ou 50 anos. Cabe se perguntar se não seria mais barato subsidiar transporte coletivo, ciclovias e infra-estrutura de banheiros, chuveiros e vestiários nas empresas e escolas para as pessoas, ao invés de infra-estrutura para automóveis. O problema maior é que a indústria de bicicletas e de chuveiros não possui um lobby tão forte e organizado quanto as gigantes do petróleo e dos automóveis.

 
Fernando R. F. de Lima
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