PORQUE AS TENTATIVAS DE COMBATE A INFLAÇÃO DA DILMA ESTÃO FADADAS AO FRACASSO
Por Fernando R. F. de Lima.
Todas as tentativas empregadas pelo Governo Federal desde
2011 para segurar a inflação tem se mostrado frustrantes. Quando se atinge o
teto da meta, perde-se o ritmo de crescimento. Quando o crescimento parece
voltar, a inflação estoura o teto da meta, de já elevados 6,5% ao ano. O
governo tenta reagir dizendo que não brinca com a inflação, ao mesmo tempo em
que diz que não adotará políticas que reduzam o crescimento.
Recentemente o governo admitiu que na próxima reunião do
COPOM poderá haver aumento da taxa básica de juros, como tentativa de amarrar o
dragão inflacionário, mas ainda assim, com emprego de uma alta gradual dos
juros, dificilmente o governo conseguirá fechar este ano e o próximo numa
situação de inflação confortável. Por que todas estas tentativas estão fadadas
ao fracasso?
Basicamente, a resposta é porque a equipe econômica do
governo Dilma não entende o que é uma economia de mercado, mas compreende bem
como ganhar uma eleição. Eles sabem que mais que a inflação real, a população
fica mais satisfeita se tiver empregada e comendo bem, trocando de carro uma
vez a cada dois ou três anos e podendo não se preocupar muito com a saúde ou a
educação dos filhos. Competitividade e estas outras coisas são preocupações
muito distantes (talvez de 10ª ou 20ª ordem) para a maioria da população.
O maior obstáculo ao crescimento no Brasil, que é justamente
o processo que provoca a inflação, é a falta de investimento. Em contabilidade
social, investimento também é conhecido como Formação Bruta de Capital Fixo.
Relembrando as aulas de economia, existem três fatores de produção: “terra”, “capital”
e “trabalho”. Os recursos naturais, com a exceção da descoberta de novas minas
ou reservas minerais, ou ainda pela exploração de terras virgens, é um meio
praticamente esgotado para proporcionar crescimento no Brasil. O fator “trabalho”
cresce a medida que aumenta a população economicamente ativa (PEA), que em tese
é composta pela faixa etária dos 10 aos 64 anos mas, na prática, é a faixa que
vai dos 16-18 aos 65 anos.
Por fim, há o crescimento do Capital, que teoricamente pode
ser infinito. Num conceito econômico puro, capital é tudo o que é utilizado
para produção, mas em contabilidade social conta-se somente os fatores de
produção reconhecidos como tal: são máquinas e equipamentos da indústria,
prédios/instalações industriais e comerciais, residências e a infraestrutura
logística (estradas, portos, aeroportos, ferrovias e dutovias) e demais, tais
como hidrelétricas, cabeamento de fibra ótica, etc.
O porém do capital é que o investimento necessário para cria-lo
depende de poupança e também do custo do “dinheiro” utilizado para construí-lo,
dado pela taxa de juros cobrada do investidor. Em geral, utiliza-se como
referência para o custo do capital o valor da taxa básica de juros. No entanto,
como já explicado em outros textos, o investidor considera não apenas conceitos
econômicos puros, mas sim conceitos contábeis e sobretudo as oportunidades e
riscos percebidos. Assim, o custo do investimento é, no fundo, o custo de
oportunidade daquela quantia de dinheiro que será aplicada.
No Brasil temos um conjunto de coisas que travam o
investimento: há um incerteza sobre a capacidade da indústria nacional
concorrer com manufaturados importados por causa dos elevados custos
trabalhistas locais. Também há, no mercado, uma percepção de esgotamento das
reservas de mão-de-obra, que no passado foi abundante. Há uma elevada
tributação sobre o investimento, além de insegurança quanto as regras em
diversos mercados. Por fim, o custo do capital é elevado, apesar da diminuição
da taxa Selic. Isto se manifesta no custo elevado em se obter empréstimos em
bancos capitalistas, ou seja, fora do sistema Caixa, BNDES, e Banco do Brasil.
As reduções na taxa de juros não estimularam os
investimentos de forma imediata porque o mercado sabe que o modelo de
crescimento baseado no consumo se esgotou em diversos setores. Os grandes
aumentos da produtividade agrícola também estão perto de um limite, porque
nossa produtividade já atinge o estado da arte em vários cultivos. O aumento da
população é cada vez mais residual, porque já há poucas crianças e as taxas de
fertilidade são baixas. E além da crise no exterior, nossas condições internas
para produzir são desfavoráveis em relação a outros países do mundo.
Sem desatar todos estes nós, será difícil fazer o
investimento crescer. Mas sem investimento, a economia não cresce e a pressão
inflacionária persiste. No prazo de um ano, a única medida razoável para tentar
modificar este cenário catastrófico que se avizinha, é elevar os juros básicos,
contendo a demanda para que os preços parem de subir de modo acelerado. O
efeito disto será um desestímulo ao investimento (porque os juros altos tornam
mais atrativas aplicações de baixo risco como títulos do governo) o que minará
o crescimento futuro. Como a população ainda cresce, um aumento do desemprego
seria esperado.
Contudo, no próximo ano haverá eleição, e como eu já
comentei, é preferível inflação relativamente alta a desemprego em termos
eleitorais. Assim sendo, a presidente dificilmente irá escolher uma política
severa neste sentido. Outra alternativa seria a redução das alíquotas de
importação, que aumentaria dramaticamente as importações, forçando reduções de
preços. Mas esta medida seria também bastante dura com a indústria, e apesar de
aliviar os preços no curto prazo, tenderia a aumentar o desemprego no setor
industrial a médio prazo. Além disso, faria com que investimentos nesta área
fossem paralisados, e uma desvalorização do real que, em menos de um ano
voltaria a alimentar a inflação.
Deste modo, a mais provável alternativa será nos mantermos
próximos ou levemente acima do teto da meta de inflação, com um pequeno aumento
dos juros (para compensar a elevação dos preços) e uma indústria pouco
competitiva cada vez mais protegida por barreiras, para evitar uma deterioração
ainda maior da balança comercial.
A melhor alternativa para os brasileiros seria aproveitar o
ainda elevado nível de emprego para conduzir uma reforma trabalhista que
barateasse o fator trabalho, congelamento nos salários dos servidores públicos
federais e no salário mínimo (como forma de reduzir os gastos do governo) com
aumento dos investimentos públicos e/ou privados em infraestrutura. Assim, no
médio prazo, poderíamos aumentar a taxa de FBCF, atingindo uma taxa de
crescimento sem inflação ao redor dos 3,5% a 4,5% ao ano.
Obviamente, isto não será feito, e continuaremos vivendo
esta lenga-lenga eleitoral. Talvez se a Dilma se reeleger, seu segundo mandato
seja de austeridade fiscal. Se Aécio vencer e realmente quiser reorganizar a
casa, certamente o primeiro mandato dele será de austeridade. A vantagem do
Brasil é que este reajuste ocorreria num momento em que a economia europeia, e
chinesa estariam em franca recuperação, com os americanos crescendo num ritmo
confortável, o que facilitaria este tipo de reajuste.
Mas não há almoço grátis: sem abertura comercial, retirada
de empresas ineficientes, quebra de monopólios, desregulamentação trabalhista,
reforma previdenciária (sobretudo de servidores públicos) e redução da carga
fiscal, o Brasil continuará a se tornar cada vez menor (e não maior) frente ao
mundo. Somos a 4ª ou 5ª economia apenas pelo peso de nossa demografia, não por
conta da produtividade de nosso capital.
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