UM POUCO DE HISTÓRIA DO AUTOMÓVEL

UM POUCO DE HISTÓRIA DO AUTOMÓVEL[i]

 

Com o avanço vertiginoso da técnica no século XIX, milhares de transformações se impuseram no cenário urbano de todo o mundo. As ferrovias, os navios a vapor, as fábricas e a eletricidade modificaram as paisagens rurais, mas, sobretudo, as urbanas. O automóvel, ou melhor, os diversos tipos de automóveis, serão, já no século XX, componente obrigatório das paisagens urbanas, e quase que todos os esforços no sentido e se planejar uma cidade, um estado ou um país, passaram necessariamente pela capacidade de gerenciar e de agilizar a circulação deste novo tipo de veículo.

A máquina a vapor possuía um funcionamento bastante estável, contudo a necessidade de uma caldeira limitou sua utilização. Os primeiros automóveis utilizavam a propulsão pelo motor a vapor, e o primeiro carro, por assim dizer, foi feito por Josef Cugnot, ainda no século XVIII. Pesava mais de quatro toneladas e em sua primeira corrida de testes foi em direção a um muro, já que era muito pesado e não possuía freios. 

A invenção do motor de combustão interna de quatro tempos de Nicolau Augusto Otto (HÜNNINGHAUS, 1960), no entanto, foi o que veio a revolucionar o uso do automóvel. Este motor foi aperfeiçoado por Gottieb Daimler, de modo a tornar-se mais compacto e a possuir uma rotação de trabalho mais elevada. Gottieb Daimler, com a colaboração de Wilhelm Maybach, construíram o motor "Standuhr" que funcionava a 900 rpm[1], com um peso específico de 40 Kg por CV[2] (cavalo vapor), e funcionava satisfatoriamente com o uso de gasolina (HÜNNINGHAUS, 1960). Inicialmente, foi instalado numa bicicleta, patenteada como o primeiro automóvel já registrado, em 29 de agosto de 1885.

Apesar do funcionamento satisfatório, Daimler não conseguia atrair a atenção de se seus concidadãos para sua experiência. A popularização deste motor se dará na mostra da "Associação de Regatas" de Frankfurt, onde, montado num barco, Wilhelm Maybach exibi-o e é preso, devido à falta de autorização para navegar num barco movido à explosão cheio de gasolina. Sua prisão funcionará como uma propaganda para sua inovação, conquistando inclusive a simpatia do Chanceler do Reich, o príncipe Bismarck, que aceita de presente um barco a motor.

Outro importante divulgador do automóvel vem ser o engenheiro Karl Benz, que após muitas dificuldades, consegue estabelecer-se como vendedor de motores dois tempos a gasolina estacionários, o que lhe permite desenvolver suas experiências com automóveis. Pouco depois da patente de Daimler, cria Benz o primeiro veículo com seu nome, de três rodas. Após três carros construídos, o fracasso o faz parar, desanimado com o invento por uns tempos. Mas depois, Benz começa a aperfeiçoar seu invento, até que no ano de 1893 vende o Benz-Vitória ao Barão Von Liebig, que percorre dois mil e quatrocentos quilômetros pela Europa com seu carro. Em 1895 já são produzidos 135 carros Benz, sucesso que se manterá até o ano de 1901, que traz uma nova crise. Carl Benz retira-se da firma que fundou em 1903, e passa a viver na pequena cidade de Landenburg, até sua morte em 1929, já com 85 anos, tendo visto a ascensão de sua criação (HÜNNINGHAUS, 1960).

Mas no final do século XIX e início do século XX, todos acreditavam que o veículo que predominaria nas ruas seria o eletromóvel, ou automóvel movido à eletricidade. Isso porque estes eletromóveis não emitiam gases poluentes, tinham um manuseio extremamente simples em comparação com os automóveis a vapor ou a gasolina e eram, ainda por cima, muito silenciosos. No entanto, o baixo custo do petróleo, bem como a baixa autonomia dos eletromóveis, fez com que estes fossem perdendo espaço gradualmente, sobretudo após as melhorias técnicas porque passaram os motores de combustão interna.

A indústria dos automóveis, bem como sua invenção, começa pela Europa, e a popularização deste tipo de veículo se faz sobretudo pelas corridas organizadas pelos entusiastas do novo esporte. Renault, Peugeot, Daimler e Benz tornam-se rapidamente nomes conhecidos. O mercado por automóveis era, porém, muito pequeno devido as limitações técnicas que ainda havia nos automóveis. Motores confiáveis eram caros e o automóvel um luxo para poucos. É pelos EUA que começará a popularização do automóvel, e o nome de Henry Ford desponta já no início do século XX pela introdução das linhas de montagem, inspiradas nos abatedouros de gado de Chicago.

A indústria do automóvel entrará, a partir de então, numa nova fase, e de carros caros, em verdade carruagens motorizadas, passar-se-á ao automóvel pessoal para circulação. Os fatores que permitiram esta popularização serão não somente o entusiasmo renovado das massas pela nova máquina, mas também o desenvolvimento das vias de rodagem com pavimento apropriado a este tipo de veículo. As estradas e rodovias serão construídas num primeiro momento para atender as reivindicações de ciclistas e só posteriormente serão aperfeiçoadas para o uso pelos automóveis.

Tão logo torna-se um objeto de consumo, surgem os grandes grupos buscando a lucratividade do setor e a "profissionalização" da indústria, pois uma característica marcante do início da história do automobilismo é o grande número de fabricantes. Por ser uma máquina relativamente simples, não muito mais que uma carroça motorizada, os automóveis podiam ser montados por praticamente qualquer um com algum conhecimento mecânico. Registra-se no início do século XX um número superior a mil fabricantes de automóveis somente nos EUA. Na Europa também era grande o número de pessoas que se aventuravam na construção destas máquinas. No entanto, a partir de sua popularização, a fabricação passa a se concentrar nas mãos de alguns poucos grupos industriais.

Um deles, surgidos nos anos 1910, foi a General Motors dos EUA, que tinha como objetivo unir num único truste todos os fabricantes de automóveis dos EUA. Ao invés de uma empresa dedicada à fabricação de automóveis, a General Motors surge através da união de vários fabricantes em torno do mesmo grupo. Cadillac, Pontiac, Chevrolet, etc, passam de fabricantes autônomos a marcas do grupo GM. A Ford quase passa a fazer parte do mesmo grupo, mas devido à persistência de Henry Ford, fica fora deste grande conglomerado. Na Europa, os diversos fabricantes também passam a se concentrar em torno de umas poucas marcas.

Na primeira guerra mundial, a tríplice entente consegue deter a avanço dos alemães graças à utilização dos automóveis como veículo de guerra, instrumento esse só reconhecido pelos alemães em hora tardia. No período do entre guerras, porém todos os governos nacionais darão devida importância ao automóvel, de modo que começaram a surgir os importantes grupos nacionais com o objetivo de fornecer veículos de guerra, motores e componentes para seus países.

Na Itália, Fiat, Alfa, e Lancia; na França, Renault, Peugeot, Citröen; na Alemanha Mercedes-Benz, DKW, BMW (inicialmente fabricante de aviões e motocicletas) e Volkswagen, entre outros; na Inglaterra, Rolls-Royce, Austin Martin, e nos Estados Unidos, Ford, General Motors, Chrysler, Internacional, etc. Além disso, vários outros países passaram a contar seus próprios grupos, como a Skoda, na Tchecoslováquia, a Seat, na Espanha, Lada na Rússia, etc. A ascensão do Japão com potência mundial será reconhecida também pelo aparecimento de grandes fabricantes de automóveis, como a Toyota, Honda, Mitsubish, Subaru, Nissan, etc.

A indústria do automóvel, assim como a indústria siderúrgica, verá, após esse surgimento de várias empresas, uma grande concentração de capitais em alguns poucos grupos devido aos crescentes custos para o desenvolvimento de um automóvel e a grande quantidade de tecnologia envolvida no processo de sua fabricação. A produção em massa, uma inovação de visava diminuir os custos, torna-se, depois de algum tempo, a única forma de garantir a rentabilidade dos fabricantes.

Do mesmo modo a legislação que orientava a fabricação de automóveis tornou-se cada vez mais exigente em relação aos padrões de qualidade e segurança, bem como o consumidor, exigindo cada vez mais cuidado e detalhamento na fabricação de automóveis, e acima de tudo, depositando a confiança nos grandes grupos. Tudo isso colaborou para que a indústria automobilística se tornasse um dos ramos industriais mais importantes, portanto, motivo de orgulho para os governos que contavam com elas em seu território e de cobiça para os que as queriam implantar.



[1] Rotações por minuto

[2] CV – Cavalo Vapor- esta unidade corresponde ao trabalho realizado para suspender 75 kg a 1 metro de altura durante 1 segundo.



[i] Este texto é parte inicial da minha dissertação de mestrado "Condicionantes da implantação da indústria automobilística no aglomerado metropolitano de Curitiba", defendida pela UFPR em 31 de março de 2006.



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Comentários

Anônimo disse…
Com base neste texto conclui-se com facilidade que os pioneiros na popularização do automovel foram, sem duvida alguma, os americanos, mais precisamente Henry Ford criando a produção em massa dos automoveis. Daquela época ate os dias atuais, é facil entender, o porque que a maioria dos demais paises no mundo, principalmente a Europa, jamais conseguiu esconder a inveja e ciumes que tem dos fabricantes de automoveis americanos e seus produtos ! E jamais poderão se igualar aos americanos, principalmente porque na america se tem além da vasta area territorial, abundancia de recursos minerais,muito capital disponivel para investir no progresso da industria automotiva, cultura farta e acessivel e uma serie de outras vantagens, nem sempre encontradas em igual numero e quantidade em todos os demais paises da Europa e Asia. Talvez esteja basicamente por ai algumas das razões da popularização do automovel nos EUA.

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