ADOÇÃO DE CRIANÇAS POR CASAIS HOMOSSEXUAIS: o que há de terrível nisso?
Meu último
texto sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo trouxe o
questionamento de um leitor sobre uma consequência de sua legalização: a
permissão da adoção de crianças por casais homossexuais. No fundo, a adoção é
outro dos direitos relacionados à formação da família e à questão da herança,
porque filhos são herdeiros “naturais” dos pais.
No caso
de um casal homossexual, as coisas tornam-se um pouco mais complicadas, porque
quando se pensa em crianças, logo vem à cabeça a imagem de um pai e uma mãe,
necessariamente cada um pertencendo a um gênero. Será? As famílias
contemporâneas contemplam arranjos tão excêntricos não é incomum vermos casais
homossexuais, sobretudo femininos, com crianças. Ou ainda, pais separados cujos
filhos têm origens parentais tão diversas que a relação de fraternidade
torna-se dúbia. Ou ainda mães e pais solteiros, crianças criadas por avôs,
avós, tios, tias, parentes mais distantes. E nos casos mais extremos, crianças
que passam toda a infância sendo criadas por instituições estatais porque não
encontraram um lar adotivo, sendo privadas do convívio familiar.
Os casais
homossexuais com filhos são uma realidade atual. Se não frequentes, a ponto de
fazer parte do convívio social de todos, são suficientemente comuns para que em
situações trágicas, como o caso da morte da cantora Cassia Eller, venha à tona
o drama familiar envolvendo a guarda da criança, que não pode ficar com o
cônjuge por impedimento legal.
Uma família
homossexual, por mais “diferente” que seja da família “standard” a que estamos
acostumados ainda é, na minha opinião, melhor que família nenhuma. Certamente,
um casal homossexual desejoso de constituir família, acompanhado por psicólogos
e assistentes sociais serão melhores pais para quaisquer crianças que uma
instituição estatal que abrigue menores órfãos ou abandonados, ou ainda tirados
da guarda de seus pais para preservação de sua própria vida.
Alguns
dizem que as crianças poderiam ser induzidas por seus “pais” adotivos ao
comportamento homossexual, e que isso constituiria razão suficiente para
impedir a adoção de crianças por este tipo de casal. Aqui entra uma questão
interessante: qual o poder do meio para induzir o comportamento homossexual?
Será realmente uma questão de escolha? Porque, sendo assim, pais heterossexuais
não deveriam gerar exclusivamente filhos heterossexuais, ainda mais pelo
exemplo doméstico?
Duvido muito desta hipótese. Não que o
homossexualismo seja genético, ou que a pessoa não tenha qualquer escolha sobre
seu comportamento. Mas acho que o meio tem muito pouca influência sobre esta
decisão. Seria algo como a preferência por cores, o uso da mão destra ou
canhota, ou qualquer destas outras escolhas que fazemos desde muito cedo de
forma meio inconsciente, sem muita influência de nossos pais.
Assim sendo, nada vejo de terrível na adoção
por crianças por casais homossexuais, assim como por casais heterossexuais, ou
por solteiros (as), desde que financeiramente responsáveis e acompanhados por
psicólogos e assistentes sociais ao longo de todo o processo de adoção e
adaptação.
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