POLÍTICA COMO PROFISSÃO E VOTO DISTRITAL
Por Fernando R. F. de Lima.
Apesar
do nome do blog, na maior parte das vezes dedico-me menos a tratar de temas
políticos que de outras questões. Mas como este tema tem sido recorrente nas
conversas com meus quatro ou cinco leitores, resolvi abordar de forma escrita
os argumentos pelos quais considero que a política deve ser tratada como uma
atividade profissional como qualquer outra, ao contrário de certo senso comum
que está se desenvolvendo entre as classes médias e altas no Brasil.
Aqui
entre nós é comum haver preconceito contra a atividade política, sempre envolta
em escândalos de corrupção ou em privilégios pouco éticos sendo o consenso
geral. No entanto, se esquece a maior parte da população que, apesar dos
pesares, a classe política é, provavelmente, a classe mais vigiada do país
entre todos os profissionais, já que são constantemente fiscalizados por si
próprios e seus adversários/inimigos, imprensa, tribunais de contas, órgãos de
transparência, além dos próprios eleitores que são relativamente cruéis em seus
julgamentos, que na maior parte das vezes é apressado e pobremente informado.
Por
isso, de um modo geral, todos os políticos são classificados no mesmo caldo
comum de corruptos, “vagabundos”, pouco comprometidos, e diversos adjetivo nada
lisonjeiros que seriam suficientes para afastar a maior parte das pessoas
destas atividades. No entanto, a cada dois anos, centenas de milhares de
corajosos arriscam suas economias e reputações tentando a política, alguns pelo
legítimo e sincero desejo de servir a população, e outros pelo desejo de se
servir dela. Até aqui, só fiz descrever o sistema político eleitoral, sem
entrar no mérito de se isto deve ser ou não uma profissão.
Neste
tema em particular, defendo que a política deve ser profissionalizada pela
seguinte questão: primeiramente, a política é uma questão de liderança.
Liderança não se forma do dia para a noite, mas se adquire ao longo dos anos.
Além disso, é necessário construir a confiança na pessoa que irá nos
representar e liderar ao longo do tempo. Isso exige esforço e dedicação. Os
aventureiros deveriam ser expulsos da política. Um político deve representar um
grupo de cidadãos, e para tanto, deve estar compromissado em ouvir, comunicar
as ideais deste grupo e também comunicar ideias para este grupo, porque isto
significa representa-lo. O ideal é que este líder esteja sempre concorrendo com
outros para manter sua vaga.
Este
processo de liderança é cansativo, exige confiança, comunicação, uma relação de
longo prazo entre representantes e representados. A pessoa que irá se dedicar a
este tipo de trabalho deverá fazê-lo como trabalho de uma vida. Por isso a
política deve ser encarada como uma profissão. Além disso, o deputado deverá,
ao longo do tempo, especializar-se em alguma atividade, lei trabalhista, ou
agrícola, ou escolar, por exemplo, para poder de fato contribuir de alguma
forma no congresso. Neste sentido, uma troca constante de nome é negativa,
porque cria um congresso ou assembleia sem memória de trabalho.
Outra questão
importante é nos cargos executivos. Os mandatos, sejam de 4, 5 ou 7 anos são
muito curtos para a implementação de políticas públicas de longo prazo, como
grandes reformas educacionais, obras de infraestrutura tais como metros, trens,
sistemas rodoviários, etc. Desta forma, políticas de longo prazo aprovadas pela
população deveriam ter sua continuidade assegurada por meio de reeleições
sucessivas em cargos executivos (excetuando-se a presidência). Assim, prefeitos
e governadores deveriam ter direito a sucessões indeterminadas, talvez até um
limite de três ou quatro mandatos. Mas, de qualquer forma, a reeleição e a
profissionalização são não apenas desejáveis mas, sobretudo, necessária para a
continuidade do Estado.
VOTO
DISTRITAL
Do modo
como eu tratei da eleição legislativa não ficou exatamente claro, mas o voto
distrital é extremamente necessário para a profissionalização da política.
Alguns chamam isso de personalização, mas é apenas um preconceito contra as
pessoas. Ninguém vota numa ideia abstrata numa democracia representativa, mas
num representante. Se você vota num representante, quem te representa é uma
pessoa, não um partido. O partido agrega alguns ideais, serve para escolher o
representante, mas na verdade o importante é o representante.
No caso
do voto distrital, atualmente no Brasil, o país seria distribuído em
aproximadamente distritos de 200 mil eleitores. Nestes distritos, os deputados
concorreriam entre si por uma e apenas uma vaga. No caso, o eleitor teria,
considerando o número atual de partidos, 37 opções para cada distrito, tendo em
mente que cada partido apontasse um representante para cada distrito. O melhor
seria eleito. Toda eleição para deputado seria majoritária.
Provavelmente,
num sistema distrital puro, nós veríamos o fim de deputados defendendo o MST,
deputados defendendo o MSTT, defendendo ciclistas, abortistas, etc. Só
existiria este tipo de deputado caso um distrito abrigasse este tipo de gente
na proporção necessária para ganhar a eleição. Da mesma forma, um mau deputado
seria facilmente expurgado pela população do distrito na próxima eleição
porque, além da crítica de imprensa, seus concorrentes no distrito iriam lutar
pela vaga dela nas próximas eleições.
Deixo
claro ainda que sou favorável ao voto distrital puro, no modelo inglês e
americano, ou ainda o modelo francês que adota o voto distrital em dois turnos,
para que o deputado eleito tenha 50% mais 1 voto. Sou contra o modelo alemão
que permite que metade das vagas sejam preenchidas de modo semelhante ao
sistema brasileiro, ou seja, em proporção ao voto partidário. Mas o alerta, de
modo geral, é que independente do sistema, ser líder, representante, é uma
tarefa que deve ser encarada não como altruísmo, mas como projeto de vida, como
profissão, encorajando inclusive a capacitação continuada do profissional que
deseje se dedicar à política.
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