RESENHA: O GENE EGÓISTA, DE RICHARD DAWKINS
Por Fernando R. F. de Lima.
Richard Dawkins é um autor polêmico. Talvez sua obra mais
lida e conhecida seja Deus, um delírio,
ou ainda O relojoeiro cego, mas o
fato é que o vigor de seus trabalhos científicos é que fizerem dele uma das
maiores autoridades vivas quando o assunto é evolucionismo. Publicado em 1976
originalmente, o Gene Egoísta é um trabalho que marcou época por apresentar às
grandes massas e também aos cientistas uma nova abordagem ao considerar os
mecanismos pelos quais se dá a evolução.
Assim como a maioria dos leigos em biologia, eu sempre
imaginei que a seleção natural ocorresse organismo a organismo. O que Dawkins
destaca, no entanto, é que nós, organismo complexos, somos apenas os veículos
através dos quais os replicadores existem. E estes replicadores são os genes.
Os genes compõem as moléculas de DNA, mas não são eles próprios autônomos. A
seleção natural, contudo, ocorre, de acordo com Dawkins, gene a gene. Aqueles
capazes de colaborar melhor com seus outros companheiros de DNA irão se
imortalizar. Os seres vivos, portanto, seriam apenas veículos para a
transmissão dos replicadores, o que ajuda a compreender, por exemplo,
comportamentos que a primeira vista pareceriam ir contra a lógica da seleção
dos mais aptos. Altruísmo entre parentes, por exemplo, seria uma característica
derivada da ação de genes que se mostraram mais bem sucedidos quando colocam em
risco o corpo que o abrigava para proteger o bando em também vivia.
Outra inovação trazida por este livro foi a aplicação da
teoria dos jogos para analisar as estratégias evolutivamente estáveis (EEE),
conceito que ajuda a compreender a variabilidade genética numa população ou a
predominância de alguns genes sobre outros. O conceito, inclusive, permite a
utilização de programação computacional para prever como um determinado grupo
de genes irá se estabelecer em uma população após a sucessão de algumas
gerações. Esta inovação, que se disseminou na biologia evolutiva ao redor da
década de 1970, foi incorporada aos desenvolvimentos posteriores da teoria dos
jogos, sobretudo a suas aplicações no campo da economia.
Outro conceito importante, é o de que os genes, organizados
na forma de DNA, foi o veículo encontrado para a replicação nos organismo
viventes na terra. Contudo Dawkins aponta que a sociedade humana passou também
a contar com um novo tipo de replicador, os memes, que são formas mentais,
comportamentos, frases, que acabam sendo selecionadas no pool de ideias para
serem passadas com maior ou menor fidelidade ao longo das gerações. No caso dos
memes, estas gerações se mostram ser mais curtas que no caso dos genes humanos.
Por fim, apesar de ser um livro de divulgação científica, o
trabalho de Dawkins conta com notas de rodapé e referência bibliográficas que
permitem ao leitor que queira se aprofundar nos temas abordados encontrar
material para leitura. Contribui para entender o conceito de que a seleção
natural não atua, necessariamente, ao nível dos indivíduos, e que a própria
ideia da prevalência de determinadas características, grupos, genes, ou
formatos que se repetem, decorre de sua capacidade de replicar cópias de si
mesma ao longo de sucessivas gerações.
O evolucionismo, na riqueza apresentada por Dawkins,
mostrar-se uma ferramenta muito mais poderosa para compreender o mundo, o
desenvolvimento da vida, do que os leigos, como eu, não leram esta obra, seriam
capazes de vislumbrar. Este livro, portanto, deveria ser leitura obrigatória,
se não para todos os estudantes secundaristas, ao menos para os estudantes de
biologia que um dia serão professores, e também para os professores desta
disciplina que ainda não tiveram contato com este autor. Para o público em
geral, muitas lições podem ser tiradas, inclusive um melhor conhecimento do
evolucionismo, matéria tantas vezes trata com muito descuido pelo público não
especializado.
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