PORQUE NÃO ANDAR DE ÔNIBUS EM CURITIBA.
Por Fernando R. F. de Lima.
Nós e os curitibanos, que aqui nesta cidade
estamos há mais de 10, 20, 30 anos, estamos tão acostumados com nosso sistema
de transporte que nos esquecemos o quão difícil é se locomover de ônibus em
Curitiba, apesar do fato de haver integração via terminais, que garante a
baldeação entre ônibus sem pagar nada a mais por isso. O fato de haver linhas
de ônibus para todos os cantos da cidade, e também pelo fato de que,
supostamente, não há nenhum endereço em Curitiba há mais de 500 metros de um
ponto de ônibus, deveria fazer desta cidade um paraíso do transporte coletivo
no Brasil.
Sabemos, contudo, que a realidade é outra. O
sistema de transporte tem alguns trunfos, como os vários quilômetros de
vias exclusivas para ônibus, e de uma variedade relativamente organizada de
linhas. Mas a verdade é que as linhas principais oferecem um serviço com maior
demanda que capacidade, o que significa filas e superlotação, enquanto as linhas alimentadoras, que coletam
passageiros nos bairros, apesar de vazias na maior parte do dia, operam com baixa frequência e alongam
demasiadamente o trajeto de uma ponta a outra.
Mas nós, aborígenes locais, já estamos
acostumados a ser mal tratados pelo sistema de transporte. Agora qual será a situação
de um turista recém chegado a cidade, com orçamento limitado, que não queira
gastar com táxi? Vou simular um trajeto simples, partindo da rodoferroviária
até hostel Curitiba Eco Hostel,
que fica rua Luiz Tramontin, 1693. Se o nosso turista for um jovem, com baixo
orçamento para a viagem, irá escolher o ônibus. Como um cidadão do mundo, irá
pegar seu smartfone, digitar o endereço no google maps e verificar o trajeto
oferecido (claro que esta é uma situação hipotética. O mais razoável é que o sinal da rede 3G ou 4G nem funcione, mesmo porque as obras da rodoviária dificilmente ficarão prontas). O resultado será um mapa parecido com o que está abaixo. O tempo de
deslocamento é uma hora e um minuto (com sorte):
Agora o mesmo trajeto de carro.
A diferença é de mais de 45 minutos entre uma
opção e outra. Para cumprir os 9,5 quilômetros de distância, o automóvel
levaria em média 15 minutos, enquanto o transporte coletivo lhe faria gastar
1:01. O google ainda sugere um trajeto que, na verdade, duraria 1:36, mas eu
escolhi a segunda opção oferecida. Só que há mais um detalhe. Prestando bem
atenção na tela, fica fácil perceber que a sugestão é pegar o 301 (vermelho) e
depois o 777(amarelo). Agora se alguém perguntar para qualquer curitibano quais
são estes ônibus, eu duvido que alguém saiba lhes dizer, mesmo entre os
operadores do sistema.
A razão é simples: em Curitiba, os ônibus são
chamados pelos nomes e não por números. E os números até aparecem em alguns
ônibus, mas a maior parte das pessoas não sabe porque aquele número está ali e tampouco prestou atenção em sua existência.
Assim sendo, dizer que é necessário pegar o 301 é tão lógico para um curitibano
quando solicitar uma informação em grego moderno (porque ainda é possível
encontrar algum desavisado que conheça grego clássico). E se você perguntar é possível
que algum curitibano te diga para pegar o expresso, ou o vermelhão, ou ainda o
biarticulado, sendo que há pelo menos umas 5 linhas diferentes, com trajetos de
ida e volta para este tipo de ônibus.
Estive em Londres em
2013. Não andei nos famosos taxis londrinos por uma única razão: podia ir
a qualquer lugar de ônibus, trem ou metrô, de modo mais rápido, barato e fácil
do que num carro. Em praticamente todos os pontos de ônibus
de Londres há um mapa com as linhas que por ali passam, os horários e
itinerários. Qualquer turista consegue olhar aquele mapa e de posse de um guia
de bolso com os pontos de interesse turístico, se deslocar por toda a cidade no transporte coletivo.
Em Paris, apesar de dificuldade ser um pouco
maior, também é possível fazer isto. Em Amsterdam, também. Bruxelas idem. Mas
tente fazer isto em Curitiba. Ou em São Paulo, ou ainda no Rio de Janeiro.
Pior, Brasília, a cidade planejada, capital do país. Ou ainda em uma cidade que não seja capital. Aqui no Brasil, e esta parece ser uma situação comum às cidades sul-americanas,
porque em Buenos Aires e Santiago não era mais fácil andar de ônibus do que
aqui, o transporte coletivo é inteiramente voltado para o habitante local. Não
se pensa no turista, no usuário eventual, no recém-chegado que gostaria de
explorar a cidade a pé. Em geral, é altamente não recomendado explorar as
cidades brasileiras a pé quando se é “de fora”, como se nossas cidades fossem
apenas para iniciados.
A dificuldade em descobrir qual linha
utilizar, o tempo absurdamente longo de deslocamento, a impossibilidade de
realizar baldeações sem pagar outra passagem fora dos terminais são mais três
razões para que eu diga para qualquer turista que venha para cá o seguinte:
alugue um carro com GPS ou então, pegue táxi. Ou ainda, boa sorte, porque será
realmente necessária. Ah, e não se hospede longe do centro se não quiser alugar um carro, pegar táxis. E nunca pegue carona.
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