POPULAÇÃO REFÉM DOS SINDICATOS


Por Fernando R. F. de Lima.
            Hoje, dia 26 de fevereiro de 2014, a população de Curitiba se viu mais uma vez refém dos sindicatos. Desta vez foram os motoristas e cobradores de ônibus os responsáveis por grandes congestionamentos, atrasos e abstenções ao trabalho, numa quarta-feira que antecede o carnaval. As reivindicações do sindicado são, como pode se esperar, irreais: pedem aumento real de 16% para motoristas e 22% para cobradores, isto é, sem contar os 6% da inflação, além de aumento no valor do vale refeição.
            Um pedido deste tipo deveria ser descartado de cara, obviamente. Que ganhos em produtividade justificariam um aumento real de 16% para motoristas de ônibus ou 22% para cobradores? O número de passageiros transportados por viagem cresceu nesta proporção? A arrecadação dos cobradores aumento 22% do ano anterior para agora? Diminuíram os custos com manutenção do sistema por causa do empenho destes trabalhadores? A população percebeu melhorias na qualidade do serviço prestado pelos motoristas, sempre tão gentis no trânsito?
            Obviamente, a resposta para todas estas perguntas é uma só: não. Então porque mereceriam aumento real? Oras, a justificativa pode ser uma única: por são indispensáveis numa cidade de 1,8 milhões de habitantes. Mas não haveria pessoas dispostas a trabalhar pelo salário atual? Ou então melhores colocações para aqueles que estão insatisfeitos com o salário da profissão? A resposta é: provavelmente não em ambos os casos. Não tenho conhecimento de gente que trocaria o que está fazendo para trabalhar como motorista de coletivo. Os motoristas habilitados para a função estão, atualmente, praticamente todos empregados. Por outro lado, aqueles que estão colocados no mercado dificilmente encontrariam algum outro trabalho melhor remunerado do que o que estão exercendo. Deste modo, o normal é que os salários permaneçam no mesmo patamar do mercado em geral.
            No caso dos cobradores a situação é por um lado mais fácil e por outro mais difícil: primeiro porque seria possível com medidas simples dispensar praticamente todos os cobradores de ônibus, adotando um sistema de bilhetagem 100% eletrônica. Diminuiriam os assaltos, os custos com perdas, roubos, furtos e pequenos desvios, estocagem de dinheiro além de reduzir a periculosidade para motoristas e passageiros. Além disso, no mercado de trabalho, há muita gente disposta a trabalhar pelo que ganha um cobrador de ônibus, ainda mais dadas as exigências da profissão.
            A greve, ao menos para mim, soa, portanto, absurda. É um direito, mas as reivindicações, em nome do interesse público não deveriam ser atendidas. Aumentos reais de salário devem estar, sempre, vinculados a aumentos de produtividade. Caso contrário, não são nada mais do que pressão inflacionária. Obviamente, o governo eleito em Brasília, notório apreciador de sindicatos, nunca se preocupou com os interesses maiores da sociedade na hora de apoiar sindicalistas radicais, mesmo que suas bandeiras e seus atos sejam diretamente contrários ao bem-estar da população.
Dias atrás, outro foco de greve atuava nos correios, serviço que por sua natureza não deveria jamais ser monopólio público, por mais que alguns possam alegar que algum serviço postal deva ser público e universal. Hoje, a maior parte do trabalho realizado pelos correios é composta de serviços de transporte e não por serviços postais. Além disso, a estatal é uma notória esbanjadora de dinheiro, prestando um serviço de qualidade muito baixa para toda a população. No final do ano passado, outras duas categorias deixavam o cidadão preso aos seus caprichos: bancários e trabalhadores dos serviços de segurança bancária. Obviamente, os bancos mais engajados na luta por “direitos” eram o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, bancos públicos.

Os milhões de trabalhadores que perdem o dia de trabalho, alunos que perdem aulas, pais que se atrasam para o trabalho, estes jamais serão beneficiados por quaisquer das conquistas almejadas por grevistas. Por isso, urge não deixar a população refém de categorias de trabalhadores ou empresários em serviços cuja natureza é monopolista. Este é o caso de transporte coletivo, que no Brasil insistem em chamar de público, embora operado em sua grande parte por agentes privados, mas também é o caso dos correios, dos trabalhadores da segurança privada de bancos e vários outros serviços que afetam diretamente a população.

Comentários

Luis Diniz disse…
Pois é! Eu só fiquei sabendo da greve ontem quando vi que não havia cobrador no "tubo" onde pego ônibus para ir ao trabalho. Como eu não queria chegar atrasado à aula, fui de táxi, que saiu por uns R$ 25,00. Mas nem assim houve aula, pois só sete alunos, menos de 25% da turma, conseguiu chegar lá sem ônibus - foram levados pelos pais de carro. Acabei dispensando a turma, pois achei que não seria justo os alunos que não puderam ir perderem o conteúdo. À noite, apareceram só três alunos. Só não paguei táxi para voltar para casa porque um desses alunos me deu carona no carro dele. É o fim da picada! Estou de pleno acordo com você. Não podemos ficar reféns dos sindicatos. E aumento real de salário, para qualquer categoria, só se justifica quando há ganho de produtividade!
Felipe Jauch disse…
Pois é, era o que eu pensava outro dia, curiosamente dentro do ônibus. Qual o real benefício de um aumento de salário ou de benefícios(por mais irrisório que seja), se a contrapartida será nula? Acatar a reivindicações de grevistas pra mim é dinheiro (do contribuinte, no caso) jogado na lata do lixo. Aprendi com meus pais que, para você ter direito a algo, você tem de fazer por merecer aquilo. O serviço de transporte coletivo não é ruim apenas pela estrutura adotada, mas também pela total falta de comprometimento de seus funcionários para com o consumidor, vulgo pagador de impostos.

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