POR QUE HÁ ESPERTALHÕES EM TODO LUGAR?
Por
Fernando R. F. de Lima.
No caso do trânsito, o resultado é análogo ao
dilema do prisioneiro. Para os poucos que nunca se depararam com esta teoria,
sua análise, apesar de complexa é fácil de compreender. Imagine que dois
suspeitos de um crime são encurralados pela polícia que os leva para um interrogatório
em salas separadas. Se um criminoso confessar o crime, dedurando o colega e o
outro não, ele receberá uma pena de 5 anos, enquanto o colega será condenado a
10 anos. Se ambos confessarem, a pena será de 5 anos para cada um. Se nenhum
dos dois confessarem eles serão condenados apenas a seis meses de prisão. Num
caso como este, a colaboração é amplamente lucrativa e seria de se esperar que
ambos optassem por nunca confessar o crime.
Com isso, uma parcela grande da população
tentará minimizar seus custos agindo como banana, respeitando as leis e o bom
senso. Uma parte porém, verá um benefício líquido em agir como espertalhão, uma
vez que os primeiros espertalhões a agir são beneficiados em relação aos
últimos. Quanto antes um banana bancar o espertalhão em relação aos outros
bananas, maior será seu benefício. Isso explica porquê, no trânsito, a
estratégia vários bananas alguns espertalhões é o esquema evolutivamente
estável. Com um pouco mais de matemática é possível traçar a proporção ótima
entre bananas e espertalhões, o chamado equilíbrio de Nash.
Do ponto de vista prático, porém, explicar a
causa não é suficiente. Mas de posse da resposta, o que fazer para melhorar o
trânsito para todos? A resposta é simples: aumentar o custo (a punição) para o
banana que agir como espertalhão. Isso pode ser feito de diversas formas. Uma
delas é punir, por exemplo, o engraçadinho que para na caixa amarela com uma
multa pesada, já que a buzina tem cada vez menos efeito moral. Já se pune quem
fura o sinal vermelho, mas é necessário também aplicar punições aos que
desrespeitam placas de preferencial. Deveria existir também punição para quem
dirige trocando de faixa sem sinalizar (o que existem em tese mas não na
prática) e, sobretudo, um meio realmente eficiente de penalizar quem causa acidentes,
já que hoje em dia até mesmo conseguir a justa indenização quando batem em seu
carro está difícil de conseguir.
Estas medidas, relativamente simples, são
ações de educação no trânsito. Não dizem respeito a ensinar atitudes conscientes,
mas em punir aqueles que prejudicam o todo em prol de seu único e exclusivo
benefício. Sem punição, não haverá mudança no comportamento do motorista
brasileiro.
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