CONSTRUIR PIRÂMIDES NÃO AUMENTA O BEM ESTAR SOCIAL

Por Fernando R. F. de Lima.
O Governo Federal tem amargado o peso de decisões equivocadas nos últimos anos, sobretudo na área econômica. Um dos questionamentos possíveis é o de por que a economia brasileira insiste em não crescer mesmo com os investimentos realizados para a Copa do Mundo que ocorrerá este ano. A razão reside no título do texto: investir em pirâmides não melhora o bem estar social, não aumenta o produto e não melhora a produtividade da mão de obra.
Investimento que gera riqueza é aquele que uma vez realizado permite aumentar a produção. Construir estádios de futebol, ou pirâmides, ou monumentos, não aumenta a produção de nada. O único estímulo na economia é dado pelo consumo de material necessário para as obras. Uma vez consumido este investimento, nada mais há de retorno, inclusive com o potencial para que se tornem fontes de gasto, reduzindo o produto total.
A expectativa inicial talvez fosse que, com as obras da copa, as indústrias teriam que investir para aumentar sua capacidade sem comprometer o funcionamento do que já estava em construção. Contudo, o que se observou no Brasil foi apenas um desvio dos recursos produtivos. Isso pode ser observado pelo aumento generalizado dos preços nas áreas ligadas à construção civil. Salários de engenheiros, pedreiros, e afins, materiais de construção, terrenos, máquinas e aluguéis sofreram um aumento brutal depois de 2010. Este é um indício claro de pressão sobre a demanda sem correspondente aumento da oferta. Depois que estas obras acabarem, ainda corremos o risco de passar por uma leve recessão, causada pelo fim dos gastos com a construção destas pirâmides do século XXI.
Outro fato relevante é que a concessão de rodovias, aeroportos e portos terá menor impacto que o volume dos investimentos leva a crer. Isto porque, quando se constrói uma nova rodovia, aumenta-se a capacidade de transporte de carga através da criação de uma nova rota. Quando a administração de uma rodovia é entregue a uma empresa, o que se tem é apenas a otimização dos recursos gastos em sua manutenção. Uma obra de duplicação gera, de fato, mais riqueza, mas não no mesmo nível que a construção de uma nova rodovia. O mesmo ocorre com aeroportos. As reformas podem ser muito necessárias, e até mesmo levar a um alívio sobre a infraestrutura. Mas seu impacto será muito menor que a construção de um novo grande aeroporto, mesmo porque o potencial de continuar gerando novos investimentos ao longo dos anos será menor.

Assim, apesar de todos os investimentos em infraestrutura anunciados pelo governo federal, seu impacto final no PIB será muito menor que aquilo que os valores levam a crer. Serão ainda menores nos casos em que há pagamento de ágio pela concessão. E o Brasil continuará a crescer pouco, menos que a média mundial, o que nos deixará relativamente mais pobres, tendência dos últimos 30 anos.

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