BRASILEIRO GASTA MAIS TEMPO EM DESLOCAMENTO CASA-TRABALHO, APONTA ESTUDO DO IPEA.
Por Fernando R. F. de Lima.
O IPEA
realizou um estudo com base nos dados da PNAD sobre deslocamento urbanos que
indica que os brasileiros estão gastando mais tempo no deslocamento
casa-trabalho na comparação com os dados de 2008. Para ficarmos nas conclusões,
cito um parágrafo que julgo interessante:
Do ponto de vista do tempo de deslocamento casa-trabalho,
grande parte da população (66%) gasta até 30 minutos nesse percurso
diariamente, mas há uma clara tendência de piora em função do crescente aumento
da taxa de motorização da população, conjugado 17 com a falta de investimentos
públicos nos sistemas de transporte público ao longo das últimas décadas.(IPEA,
2013)[1]
Um percentual relativamente grande da
população gasta menos de 30 minutos para realizar o chamado “commuting”, o que
pode ser considerado um tempo relativamente baixo. Obviamente, as cidades onde
este tempo é maior são as maiores: São Paulo e Rio de Janeiro. Engana-se,
contudo, quem pensa que em São Paulo a situação é pior: o Rio é que tem os
maiores tempos de deslocamento.
A questão, no entanto, é a seguinte: o aumento
da taxa de motorização contribui para o aumento no tempo de deslocamento ou o
inverso? O que leva as pessoas a trocarem o transporte coletivo pelo particular
e vice-versa? Estas duas questões vem sendo discutidas neste blog há anos, e
minha suspeita é de que o aumento da frota de veículos particulares, em especial
as motocicletas, contribui para a redução
do tempo de deslocamento até o trabalho.
As pessoas escolhem seu meio de transporte
baseadas em três fatores básicos: tempo, custo e conforto. Como a maioria das
pessoas mora num raio de até 10 quilômetros do trabalho, o custo do transporte
individual, principalmente as motos, tende a ser inferior ao custo do
transporte coletivo. O tempo, também tende a ser significativamente menor,
porque não há tempo de espera no transporte individual, como ocorre com os
coletivos. Por fim, o conforto. Os automóveis são muito mais confortáveis que
os coletivos, e as motocicletas, ao menos nos dias ensolarados também compensam
suas desvantagens.
Sendo assim, a taxa de utilização do
transporte particular tende a crescer não só pelo conforto, mas, sobretudo,
pela redução no tempo de deslocamento. Existem casos em que o transporte
coletivo pode ser mais rápido que o automóvel, como entre aqueles que têm suas
atividades concentradas ao redor de linhas de metro. No entanto, na média, o
automóvel e as motocicletas contribuem para os trabalhadores possam usufruir
melhor seu tempo que o transporte coletivo.
Obviamente, quanto mais pessoas utilizarem o
meio particular, pior tende a ficar o trânsito. Este é realmente um desafio em
termos de política de transporte. No entanto, antes de ser o vilão, o
transporte particular é a melhor saída que as pessoas têm encontrado. Pergunto:
há saída?
Talvez haja. O Japão, que passou pelos mesmos
problemas que nós, mas de modo mais intenso, porque fez a transição num período
menor, investiu pesadamente em transporte coletivo, mas também em vias para
reduzir o trânsito. O resultado atual é que as cidades japonesas dificilmente
contam com congestionamentos, apesar de terem uma vasta rede viária, com
túneis, viadutos, e ruas sobrepostas por meio de elevados, além de uma grande
rede metroviária e transporte regional. Mas o Japão talvez seja um caso único
no mundo.
Cidades grandes, como Londres, contam com uma
vasta rede de transporte, mas por ser muito espalhada em relação a outras
cidades com a mesma população, acaba tendo tempos de deslocamento relativamente
longos, além de contar com congestionamentos também. Nova York, na tendência
inversa, é altamente concentrada, sobretudo em Manhattan, o transporte coletivo
predomina, além de ser uma cidade propícia ao ciclismo e pedestrianismo. Mas
mesmo assim há grandes congestionamentos em algumas horas do dia.
No fim, talvez a lição seja que é necessário
conviver com congestionamentos, enquanto o dever do poder público é trabalhar
para minimizá-los e, sobretudo, dar opção para que os cidadãos façam as
combinações que mais lhes agradarem. Isso significa que a cidade deve dar opção
para o transporte a pé, por bicicletas, motos, carros particulares, táxis,
ônibus e, se for o caso, trens/metros. Com opções diversas, os próprios
indivíduos irão maximizar suas opções.
Noutro momento, gostaria de comentar ou outra
conclusão do trabalho do IPEA, que diz respeito a pouca eficácia dos subsídios
dados ao transporte em atingir a população de renda mais baixa.
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