POR QUE ALGUNS PRODUTOS CUSTAM TÃO CARO NO BRASIL?

 

Por Fernando R. F. de Lima.

 

Vou comentar notícia velha, requentada de outros neste texto, mas que trás algumas questões que estão relacionadas às próprias dificuldades em se gerir a política macroeconômica e monetária no Brasil. É a questão dos preços. Por que alguns produtos custam aqui tão mais caro que lá fora? A razão principal é a falta de concorrência. Alguns poderão dizer que há concorrência em excesso em alguns setores, mas na maioria deles faltam concorrentes que briguem entre si pelo dinheiro do consumidor. Em qualquer lugar que a gente vá, os restaurantes estão cheios, as lojas abarrotadas, os supermercados transbordando de gente e as concessionárias de automóveis e motocicletas entupidas de compradores.

Isto permite que os comerciantes trabalhem com margens de lucro muito mais elevadas que aqui. Duvido que sobrem Ipads e Ipods nos estoques das lojas, que não sejam todos vendidos apesar do preço abusivo, quando comparados com os praticados no exterior. Como é difícil importar, tem muita coisa aqui no Brasil que custa muito caro. Mas isso não ocorre porque é caro importar, mas sim porque é difícil, o que faz com que poucos entrem para o segmento de importação/exportação. Aqueles que são corajosos e pacientes o suficiente para enfrentar as dificuldades nas alfândegas são recompensados com margens de lucro elevadas.

Quem sempre leva a culpa pelos preços elevados são os impostos. Mas os impostos elevados sozinhos não explicam o problema. É fato que as fábricas vendem tudo que fabricam. Não fica nada parado no estoque. Os comerciantes também não têm do que reclamar. Por isso cobram tão caro e seguem reajustando preços. O mesmo ocorre com os bancos: a demanda por crédito é tão grande que as pessoas não se incomodam de pagar muito caro por ele. A falta de concorrência entre as empresas em diversos setores é resultado da falta de investimento e das dificuldades para empreender no país.

No Brasil faltam investimentos em diversos segmentos. Outro dia eu comentei isto a respeito do clube que freqüento em Curitiba. O último investimento significativo feito pelo clube foi a construção de um "parque aquático", em que foi construída uma piscina semi-olímpica (25mx12,5m). Isso aconteceu em 1998, ou seja, há quase 13 anos atrás. De lá pra cá a população da cidade cresceu muito, e a prática de exercícios físicos cresceu ainda mais, principalmente de esportes como a natação. Contudo, o número de estabelecimentos com piscina no meu bairro, pra ficar no exemplo próximo, continua o mesmo desde meados da década de 1990. Já o número de sócios no clube vem aumentando ano após ano.

Pode parecer banal, mas isto explica porque cobram R$ 120,00 por mês por 8 aulas mensais de natação com duração de 50 minutos cada uma hoje em dia, um preço que me parece abusivo. Não precisamos, contudo, ficar neste exemplo. O sistema de ônibus da cidade recebeu apenas recentemente uma ampliação pontual na linha verde. E apesar das reclamações quando a sustentabilidade financeira do transporte público em Curitiba, nos horários de pico os ônibus andam lotados, e não podemos afirmar que se encontram vazios nos horários intermediários. Fruto da falta de investimento.

Além da falta de investimento, no último ano passamos a contar com mais um problema, um novo problema; a falta de mão de obra. Hoje em dia já se encontra dificuldade para contratar pessoal suficientemente qualificado em diversas áreas. E não estou falando de engenheiros, médicos e professores. Faltam até mesmo garçonetes, pizzaiolos e balconistas de panificadoras. Tudo isso pressiona os salários para cima, o que leva ao repassa aos preços, uma vez que a concorrência não é forte o suficiente para fazer com se reduzam as margens dos comerciantes diante do aumento dos salários.

Contornar a falta de mão de obra é relativamente fácil. Um dos caminhos são os ganhos de produtividades proporcionados pelo emprego de tecnologia. Isto acontece a partir da liberação de recursos para investimento. Para aumentar a concorrência, seriam necessários mais empresários. Para isso, deveria haver uma facilitação para a abertura e o fechamento de empresas. Com isso, mais pessoas tentariam ser empresários. Obviamente, estas coisas ainda iriam esbarrar num outro problema. Apesar da demanda por crédito, os juros praticados inviabilizam muitos investimentos. Para reduzir estes juros, o governo teria que diminuir sua própria demanda por crédito bancário, ou seja, diminuir o déficit em conta corrente (preferencialmente zerá-lo), como forma de liberar recursos para os setores produtivos. Os bancos teriam que concorrer mais pelo dinheiro do consumidor.

Notem que todas as medidas apontadas aqui passam pela solução do problema do crédito, dos juros e das contas do governo. Porque a falta de trabalhadores qualificados pode ser resolvida colocando mais gente na escola, e fazendo mais pessoas voltarem a estudar. Se isso ocorresse hoje, contudo, faltariam escolas adequadas e professores (quantas escolas estão preparadas hoje para ensinar marcenaria, por exemplo?). Outra medida, que também forçaria as pessoas a buscarem qualificação, seria investir em mais tecnologia, mais máquinas, mais automação, mas isso também depende de investimentos, que por sua vez dependem de crédito. Portanto, há alguns nós que temos que desatar neste país para que os produtos deixem de custar tão caro quanto hoje.

 
Fernando R. F. de Lima
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P
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