Sobre a atual eleição presidencial

Por Fernando R. F. de Lima

 

Nem bem começou o horário eleitoral gratuito, já começaram a circular as mesmas notícias de sempre: a atual eleição, como todas as outras desde 1989, só tem em disputa candidatos esquerdistas. De José (ou Zé) Serra à Dilma, passando por Zé Maria e Marina Silva, todos são da esquerda. Daí a conclusão lógica de que o Brasil está à beira de um regime socialista e que nada mais nos separará do destino cubano ou venezuelano.

As análises também são muitas: um é intervencionista, ou outro pós-keynesiano e por fim um trotskista e por aí vai. Estatismo é moeda comum. E assim vão se enfileirando os analistas liberais e seus temores. Minha opinião neste assunto, é que nas democracias atuais ninguém, em lugar algum do mundo, escapa de um pouco de "social-democracia" em suas propostas. Isso porque nas eleições o que está em jogo não é o dinheiro, e sim os votos. Votos são bens materiais assim como potes de margarina e, portanto, só podem ser obtidos por meio do escambo.

São poucos os eleitores (talvez apenas os liberais mais radicais) que esperam do governo apenas economia de dinheiro. O melhor governo pode até ser aquele que governa pouco, mas no escambo eleitoral o que todos querem é um governo que governe bem, que aumente os benefícios "dados" ao povo, invista em infra-estrutura, garanta segurança pública, abaixe os impostos e ainda combata a miséria, os piolhos e as dores de barriga. E, claro, patrocine algumas festas e invista em cultura e educação, porque nem só de pão viverá o homem, mas também de um pouquinho de circo. Nesta verdadeira gincana que são as eleições, o eleitor médio vota em quem dá mais e não em ideologia.

Este é um defeito da democracia brasileira? Difícil dizer. Alguém pode discordar, mas imagino que na Alemanha a moeda de troca é a mesma. Leva os votos quem promete benefícios concretos a população e não quem promete acabar com benefícios ou injustiças do sistema distributivo e dos subsídios cruzados. E só consegue efetivamente governar aquele que, uma vez lá dentro, consiga fazer a máquina girar. E nenhum dos países europeus democráticos se afundou no socialismo por causa disso. Continuam lá, livres e prósperos, a assim como a América de Obama.

Governos realmente austeros, com políticos capazes de "cortar na carne" só existem em ditaduras, pois eles não precisarão dali quatro anos pedir novamente a benção do eleitor. E o Brasil, assim como o resto do mundo democrático, não vai cair numa guerra civil ou numa ditadura do proletariado só porque todos os candidatos querem agradar os pobres (afinal de contas, pobres somos quase todos nós).

Aos que me perguntam em quem eu vou votar, deixo aqui bem claro meu voto. Vou votar no Zé, não no Zé Maria, mas no Zé Serra- 45, do PSDB, mesmo sabendo que ele não vai privatizar a Petrossauro, não vai mudar a lei Kandir, não vai criar um regime de trabalho único entre servidores públicos e privados, não vai flexibilizar a legislação trabalhista e provavelmente também não vai fazer nada de muito relevante em qualquer matéria de interesse nacional. Também sei que ele irá, no final das contas, governar abraçado ao PMDB do Sarney, caso seja eleito, o mesmo que faria a Sra. Dilma. Mas independentemente disso, eu fico com o Zé.

 
Fernando R. F. de Lima
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P
or um mundo mais livre e melhor!


 

Comentários

INTERCEPTOR disse…
"Prósperos como a América de Obama..." Eh eh, muita gente precisa ouvir isto! Excelente texto. Mas, tenho uma dúvida: li, muito tempo atrás, e não tenho a fonte, que um político alemão, provavelmente Helmut Kohl que "a Alemanha só vai deixar de piorar daqui a uns 7 anos" se referindo ao processo pós-unificação. Nem sei se ele era premiê na época, apenas associei a figura. Acho que europeus são mais 'desencantados' e não que isto seja lá muito bom. Às vezes tem seu preço também e uma dose de otimismo faz muito bem (a América que o diga). De qualquer forma o texto ficou muito bom. Ah! Eu também voto no Zé porque este, apesar de tudo, não pertence a partidos com tradição de criarem estatutos da imprensa para controlar a liberdade de expressão.
Abraço,

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