A FALTA DE AUSTERIDADE DO GOVERNO REAGAN OU O MITO DO REAGANOMICS

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Por Fernando R. F. de Lima.
Em meu último texto, sobre a eleição presidencial, eu disse que independentemente de qual seja o grau de desenvolvimento do país, eleições sempre significam a troca de benefícios reais por parte dos eleitores. Um leitor, contudo, achou que minha visão estava equivocada, e que havia casos de políticas bem sucedidas que implicavam austeridade. O caso citado foi do governo Reagan nos EUA. Contudo, uma análise mais apurada do que foi o "Reaganomics" permite verificar que o sucesso eleitoral de Ronald Reagan está muito ligado a um benefício direto dado aos eleitores americanos, que lhe garantiram um segundo mandato (fosse outra época, ele poderia ter sido eleito várias vezes seguindo a mesma receita).
O que Ronald Reagan fez em sua estada na Casa Branca, sobretudo nos primeiros anos de governo, consistiu num pesado corte nos impostos, baixando alguns impostos sobre o trabalho e o investimento, de uma alíquota média de quase 70% para 28%. Sua política estava baseada nas idéias de Arthur Laffer, que dizia que uma redução nos impostos teria como efeito imediato a queda na arrecadação, mas no médio prazo, com o aumento da atividade econômica, um aumento na arrecadação seria esperado. Se lembrarmos que em 1980 os EUA viviam uma recessão, ainda efeito do segundo choque do petróleo de 1979, com todas as conseqüências no mundo em função da revolução iraniana, pode-se prever que no que consistiu sua política.
A redução imediata dos impostos levou um grande alívio às famílias americanas, mas também significou uma forte expansão da inflação (o dinheiro economizado nos impostos forçou os preços para cima), que além do efeito do consumo das famílias também foi favorecido pela entrada de muitos milhares de dólares em investimento estrangeiro (aproveitando os impostos baixos) e pelo crescimento acelerado dos gastos militares (que ultrapassaram, em 1988, os gastos em proporção ao PIB da época da guerra do Vietnam, um feito e tanto em tempos de paz).
O resultado desta política pelos dois anos seguintes, além do aumento inflação já mencionado, foi o crescimento do déficit público e do desemprego, que chegou a encostar nos 10% (elevadíssimo para os patamares americanos, onde a proteção social é pequena em comparação com os países europeus e mesmo com o Brasil). Isto não é exatamente um exemplo de austeridade. Como o Banco Central americano é independente na prática, houve um esforço para segurar a inflação pela via monetária clássica, que foi o aumento das taxas de juro, que ultrapassaram os 20% ao ano. Como resultado desta alta, países que viviam de financiamento a taxas pós-fixadas como o Brasil, literalmente quebraram. Na prática, os EUA saíram da crise exportando-a para outros países (sobretudo seus aliados).
Obviamente a crise teve entre outros efeitos, a queda no preço do petróleo, o que levou a um barateamento no custo da energia e recolocou a economia americana na rota do crescimento. Com baixa nos insumos, baixa nos custos da mão-de-obra (mais desempregados significa salários mais baixos) e impostos menores, a economia não tinha outro caminho senão retornar o crescimento. Após dois anos de agonia, em 1983, os índices de desemprego começaram a recuar. Em termos de gestão de política macroeconômica, o começo do governo Reagan não teve nada de austero. Seu sucesso está mais ligado a efeitos indiretos de suas ações que a méritos próprios.
Em termos geopolíticos, a política fiscal americana quase jogou países como o Brasil, a Argentina, o México e outros tantos no colo da URSS (o Brasil flertou perigosamente com o socialismo durante o governo Sarney) e não fosse pela queda do preço petróleo, é possível que a URSS tivesse continuado de pé. Pode-se fazer a leitura de que o programa "guerra nas estrelas" levou ao fim da guerra fria, mas provavelmente os preços do petróleo e o fracasso militar no Afeganistão influenciaram mais a queda da URSS que a Reaganomics.
A questão toda neste texto, contudo, não é avaliar o governo Reagan como ruim ou bom (os americanos fizeram sua avaliação o reelegendo e depois ao seu sucessor, o Bush pai). Os feitos do Reagan persistem ainda hoje, mas não fosse a ação do Banco Central americano sua economia teria caído num perigoso ciclo inflacionário. E a atuação do BC não é mérito do presidente, mas dos burocratas encastelados a quem os liberais tanto odeiam. Para repedir o mantra liberal, não existem almoços grátis, ainda que o dono da festa seja um liberal.
Fernando R. F. de Lima
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