Calor, Chuvas e agora a umidade do ar

Por Fernando R. F. de Lima

 

            No telejornal matinal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, de hoje (22/04/2010), foi apresentado em tom alarmante as dificuldades pelas quais tem passado as cidades Brasil afora. No início do ano a onde de calor evidenciou problemas relacionados ao calor, sobretudo o desconforto térmico e os riscos à saúde de idosos e crianças. Na seqüência, as chuvas que caíram primeiramente em São Paulo, depois no Rio de Janeiro e por último na Bahia, que causaram a morte de dezenas, em alguns casos centenas de pessoas. Por fim, recentemente, os problemas relacionados à baixa umidade relativa do ar, que tem afetado grande parte do país, sobretudo nas regiões sudeste e centro-oeste.

Para não repetir o que muitos têm dito, vou me concentra neste última questão, que volta a tona e torna-se a medida que o inverno se aproxima. A umidade relativa do ar cai quando aumentam as temperaturas e diminuem as chuvas. O problema, contudo, não está na baixa umidade apenas. O problema maior é a poluição do ar. A chuva, além de aumentar a umidade, tem como efeito a "limpeza" do ar. O material particulado que se encontra suspenso no ar vem ao chão com as chuvas. O resultado é que o ar fica mais limpo, menos poluído.

Na estação seca, porém, comum nos climas tropicais, como chove menos, o ar fica literalmente mais sujo, com mais partículas suspensas. Como a umidade baixa não favorece a formação de orvalho, mais poluição fica suspensa no ar, com efeitos na saúde das pessoas. A poluição que mais afeta a população, e causa problemas respiratórios, é aquela emitida por veículos pesados, levantada pelo atrito dos pneus com o solo e a causada por queimadas. A poluição causada pelo atrito dos pneus com o solo, por ser mais pesada, se dispersa mais facilmente. Já o material particulado fino dos motores diesel e das queimadas tende a ficar por mais tempo no ar.

As três formas principais de poluição são de responsabilidade das pessoas, e não tem nada a ver com o clima. E as três se tornam problemas por conta das opções feitas por governantes e moradores. Ninguém obriga as pessoas a queimarem o lixo na frente de suas casas. A grama cortada, os sofás velhos, e galhos de árvores podados, que são queimados diariamente nas ruas das periferias de todas as grandes cidades, contaminando o ar local, são uma fonte de poluição perfeitamente dispensável sob duas condições: primeiramente, se as prefeituras recolherem os entulhos num prazo viável (algo como dois dias no máximo); e em segundo lugar, se as pessoas lembrarem que avisar a prefeitura da necessidade de recolhimento deste tipo de resíduo antes de atearem fogo neles.

A poluição causada por veículos pesados, como caminhões, por exemplo, já é um pouco mais complicada de dispersar. Exige medidas diversas, entre as quais a desconcentração do tráfego de veículos pesados (quanto mais concentrado, mais lento, e portanto, mais poluição concentrada), e a melhoria na qualidade do diesel utilizado. A Petrobrás gastou muito dinheiro fazendo propaganda do seu diesel metropolitano, com "apenas" 500 p.p.m. de enxofre, muito mais ecológico que o diesel convencional, com 2000 p.p.m. vendido no resto do país, mas que ainda passa muito longe do diesel padrão vendido nos EUA (10 p.p.m.) e Europa (5 p.p.m.). Além disso, o governo que se importa tanto em cobrar taxas como IPVA e licenciamento, se furta de realizar com o dinheiro destas taxas um serviço de inspeção veicular que reduza a emissão de poluentes por motores desregulados.

Por fim, a questão do atrito dos veículos no asfalto. Um asfalto liso, bem feito, sob topografia plana, com calçamento e paisagismo em suas laterais, deixa pouco material no asfalto, e o que acaba sendo levantado no ar é basicamente composto por borracha de pneus. Esta borracha é normalmente pesada, e fica por pouco tempo no ar. Uma redução na velocidade média dos veículos já suficiente para que ela não contamine o ar. Mas o asfalto que se chama de anti-pó, rugoso, cheio de imperfeições, com muitos buracos, e com laterais expostas às chuvas, deixa muito material para ser pulverizado no ar, além de aumentar consideravelmente o atrito e o desgaste dos pneus. A combinação asfalto ruim com velocidade inadequada é perfeita para levantar muita sujeira no ar, e com isso intensificar os problemas respiratórios em crianças e idosos.

Portanto, se a baixa umidade do ar, que em alguns lugares chega perto de 5% apenas entre as 11:00 e as 15:00 da manhã, quando o ar está mais quente, é um problema aparentemente incontornável, que afetaria até mesmo áreas rurais, a poluição do ar nas grandes cidades, cuja intensidade pode ser muito reduzida com medidas simples, é o que agrava a situação de periculosidade para as pessoas. Mais fácil que procurar sanar os problemas e reduzir o impacto da poluição, assim como impacto das chuvas e do calor, é emitir sinais de alerta para que todos fiquem em casa neste horário, e se possível evitem respirar.

 
Fernando R. F. de Lima
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