SOCIAL DEMOCRACIA NO CONDOMÍNIO

Por Fernando R. F. de Lima

 

            Alguns meses atrás, um artigo de um colega liberal falava das vantagens proporcionadas pelos condomínios quando o assunto é segurança e manutenção de vias. Eu, por e-mail, repassei a ele que nem todos os condomínios são uma maravilha neste aspecto. No fundo, a maior parte dos condomínios gera muito mais problemas que benefícios quanto o assunto é manutenção e segurança. Nas grandes cidades, cheias de prédios, pode-se dizer que boa parte da população vive em condomínios. Além daqueles horizontais, compostos por casas e sobrados, há os verticais, que são essencialmente prédios.

            Contudo, o que me motivou a escrever este texto é minha experiência particular da dificuldade em encontrar um apartamento maior para morar em Curitiba. Como eu sempre digo nos meus textos, a política habitacional brasileira foi moldada pelo lado errado. Ao invés de estimular a oferta de imóveis, criando condições para que as pessoas investissem em imóveis como forma de aumentar a oferta e assim diminuir o preço, o governo atuou pela outra ponta, que á a de ofertar crédito para que a população compre a "casa própria".

            Não vou comentar outra vez as razões e as críticas que tenho a esta política, pois o foco deste texto é outro: é o efeito social democracia nos condomínios. Sob a desculpa da criminalidade, da violência, dos problemas de tráfego e outras tantas coisas que são, umas conseqüência da vida em grandes cidades e outras incompetência do poder público, os condomínios, tanto verticais quanto horizontais, criaram o conceito de condomínio clube.

            O condomínio clube consiste numa encrenca composta de um conjunto de apartamentos com mais de 100 unidades que compartilham uma área comum onde estão presentes diversas "(in)conveniências" que as pessoas encontrariam num clube. Elas são: piscina (normalmente fria, o que em Curitiba é uma verdadeira fria), quadra de tênis, churrasqueira, "espaço gourmet", espaço mulher (salão de beleza), "spa" (ofurô coletivo e sauna), salão festas infantil e adulto, academia de ginástica e mais um porção de coisas que compõem um "mínimo público" de áreas de lazer.

            Obviamente, todas estas áreas serão geridas pelo condomínio, e serão exclusivas para os moradores do prédio e seus eventuais convidados. A conta pela manutenção destas bugigangas todas será rateada entre todos os moradores. Agora me digam: este tipo de sistema não é idêntico ao proporcionado por um governo municipal social democrata, em que todos financiam todos?

            Atualmente, a oferta de apartamentos novos nas cidades consiste basicamente neste tipo de imóveis, o que limita muito as opções de compra fora deste modelo. Um modelo inteligente de condomínio, mais capitalista e liberal, deixaria todos estes "serviços" a cargo da iniciativa privada, isto é, do mercado. Não sou um defensor da escola modernista de arquitetura (mesmo porque não sou arquiteto), e tenho pouca simpatia pelo modelo urbano das cidades lineares ou funcionalistas, mas para mim a habitação é essencialmente algo como uma máquina de morar.

            Sendo assim, um prédio residência deveria proporcionar conveniências próprias de um lugar de descanso e reunião familiar que uma casa deve ter, que na minha opinião consiste em quartos, salas e cozinha, com uma área de serviço. Também seria desejável a presença de um espaço comum (mas gerido de forma privada), para executar serviços de limpeza, como uma lavanderia interna ao edifício que disponibilizasse máquinas de lavar (acho um desperdício de água, energia e materiais cada casa ter uma máquina de lavar individual), cujo uso da qual seria cobrado por quilo de roupa lavada.

            Pra finalizar o artigo, deixo este exemplo como uma forma de exemplificar duas questões: a primeira é que um "federalismo" de ruas, isto é, uma descentralização geral de serviços como manutenção de ruas, calçadas, jardins e segurança, não é uma alternativa necessariamente melhor (tampouco viável), para tornar a vida pessoal mais segura. E que este tipo de ação não leva necessariamente a um aumento da liberdade, mas ao contrário, a um maior controle das instituições coletivas sobre os indivíduos, que é o que acontece nos condomínios clubes. Neles, a entrada e saída do edifício passa a ser extremamente controlada, sem que isso resolva definitivamente os problemas de insegurança. Contudo, ocorre um aumento muito grande destes custos de manutenção, sem representar um aumento proporcional no bem-estar dos seus moradores. A mentalidade coletivista não se resolve pelo isolamento. Ao contrário, ela pode até mesmo ser estimulada por este tipo de atitude.

 
Fernando R. F. de Lima
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