BALANÇA COMERCIAL BRASIL-EUA


por Fernando R. F. de Lima


Vários jornais noticiaram hoje o fato de que tivemos um déficit comercial com os EUA de mais de US$ 4 bilhões 2009, no acumulado de janeiro a novembro (tabela 1)

             Se analisarmos os dados, veremos que foi em 2008 que a balança comercial brasileira começou a se inverter com os EUA. Parte da culpa, obviamente, é da crise que atingiu a economia americana em 2009. Mas parte da explicação reside num reajuste necessário dos fluxos de dólares no mundo. Os EUA há vários anos eram deficitários com praticamente todos os países com que estabelecem relações comerciais estáveis e amigáveis. Com isso, a tendência mundial deveria ser de desvalorização do dólar frente outras moedas, como forma de compensar o maior dispêndio dos americanos no exterior.

O fato de alguns importantes atores no comércio mundial manterem moedas desvalorizadas a partir de políticas de câmbio fixo, só fez aumentar o déficit dos EUA com eles, o que é o caso da China e da Coréia do Sul, pra ficar nos dois mais importantes exemplos. O Brasil, que adota câmbio flutuante, só agora sofreu com o ajuste. O déficit se acumula desde julho de 2008, último mês em que tivemos saldo positivo com os americanos. E prolonga-se desde então.

            Apesar de ser um fato novo para nós, pelo fato de historicamente sermos superavitários com os EUA, o fato não causa espanto: os EUA são os primeiros no ranking de competitividade, tem os trabalhadores mais produtivos do mundo segundo a OIT e uma das indústrias mais avançados do planeta em praticamente todas as áreas. O que deveria causar surpresa é o fato de que ainda assim eles compram produtos brasileiros (principalmente produtos primários, mas esta é outra questão). Agora, com a queda nas importações de commodities, ocorreu uma inversão na balança comercial.

            Ninguém pode prever se este fato deverá ocorrer com todos os países, mas certamente o superávit comercial dos EUA com a China e Coréia do Sul, caso houvesse uma situação de livre comércio dos dois lados e câmbio flutuante também dos dois lados (EUA e os outros), iria se reduzir muito acentuadamente. Provavelmente até mais que a redução que ocorreu no Brasil. Os EUA tem sido até agora, para usar as palavras de Paul Krugman, vítima do mercantilismo chinês. Como a China não dá sinais de que irá alterar sua política cambial, a solução para encontrar um novo equilíbrio macroeconômico será uma contínua desvalorização do dólar em relação às moedas que flutuam, gerando um empobrecimento relativo dos americanos, mas melhorando a competitividade de sua indústria e sua balança comercial. Este empobrecimento dos americanos levaria junto os chineses e outros países de câmbio fixo ao dólar. Esta situação só irá compensar até o momento em que a "pobreza" cambial puder ser compensada com o aumento das exportações para outros países.

            Esta porta, porém, e novamente me reporto a Paul Krugman, pode estar fechada, frente a crescentes movimentos protecionistas em relação aos produtos chineses e de outros países que se negam a adotar uma política cambial mais flexível e próxima da taxa de equilíbrio. Eu já disse em outra oportunidade aqui neste blog que desvalorizar moeda para favorecer as exportações é uma maneira de favorecer os empresários exportadores de um país à custa dos consumidores/trabalhadores deste mesmo país. Isto acontece porque enquanto os empresários tornam-se mais ricos, aumentando suas receitas pelo crescimento das exportações, os trabalhadores recebem seus salários em moedas desvalorizadas, o que limita suas possibilidades consumirem produtos melhores e mais baratos produzidos em outros países, encarecidos artificialmente através do câmbio.

            Quando o dólar se desvaloriza frente ao real, e com isso puxa as moedas que adotam câmbio fixo com o dólar, o petróleo e soja comprados pela China ficam também mais caras. Isso também ajuda a explicar porque a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, com o qual ainda temos superávits. Nossa única vantagem real neste comércio, é que vendemos para eles algo que eles estão impossibilitados de aumentar sua produção doméstica (grãos, carnes e minérios), mas corremos um sério risco de vermos nossa indústria nacional aniquilada pela concorrência desleal com chineses, sul coreanos e outros asiáticos.

 
Fernando R. F. de Lima
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