BAIXO CLERO OU ALTO CLERO: QUAL A CASTA DE WALDIR MARANHÃO, EL BIGODON?


Por Fernando Raphael Ferro

           
Após a decisão aparentemente aloprada de anular a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, e voltar atrás menos de dois dias depois, tendo em vista a repercussão negativa, Waldir Maranhão, deputado do PP do Maranhão saiu do anonimato para os holofotes nacionais, como algoz dos coxinhas e herói daquele 1% que continua a defender o decrépito governo Dilma.
            Porém, o retrato que foi feito desta curiosa figura vinda dos rincões maranhenses está, em minha opinião, um tanto deslocada do seu real papel status dentro da câmara de deputados. A “maranhada”, apelido dado ao ato por Helio Schwartzman, colunista da Folha de S. Paulo em editorial de hoje, foi entendida por Renan Calheiros como uma “brincadeira com a democracia”. Gilmar Mendes, ministro do STF, classificou a decisão de “Operação Tabajara”. Em suas palavras: “Isso é uma verdadeira Operação Tabajara, um ato circense. É admirável que pessoas alfabetizadas se prestem a esse papel. Qualquer pessoa que tenha passado pelo jardim de infância do direito sabe que isso não é possível”. (Mendes).
            Obviamente, Waldir Maranhão votou favoravelmente ao governo Dilma, ou seja, contra o impeachment no dia 17 de abril. Sua motivação foi, portanto, claramente política. Mas seria ele um trapalhão, um aloprado, semi-alfabetizado, que se deixou levar pelo Advogado Geral da União e suas convicções rasas?
            Aparentemente, Waldir Maranhão não seria mais que uma espécie de Severino Cavalcanti versão 2016. Mas a história é um pouco diferente. Este deputado do PP maranhense, convicto defensor do governo Dilma, é na verdade um membro da elite intelectual brasileira. Antes de iniciar a carreira de Deputado, foi Reitor da Universidade Estadual do Maranhão. Em 2006, quando eleito pela primeira vez, teve votação bastante significativa, elegendo-se com 2,23% dos votos para deputado, o correspondente a 64.286 votos. Em 2010, já no PP, foi reeleito com votação ainda mais impressionante: 3,5% do total, equivalente a 106.646 votos (de acordo com seu perfil na Wikipédia.). Em 2014 teve uma redução no seu percentual de votos, mas ainda assim permaneceu entre os 15 mais votados, levando 66.274 votos, ou 2,16% do total em seu estado. Esta votação expressiva o alçou à mesa diretora da Câmara dos Deputados, como vice-presidente da Casa.
           

Nota-se, assim, que sua posição como vice-presidente da Câmara de Deputados deriva, antes de mais nada, de sua posição relevante do Partido Progressista, que foi até poucos dias atrás aliado do governo Dilma, e um dos últimos a abandonar o navio. Assim, como explicar essa “brincadeira com a democracia”, “Operação Tabajara”, derivada de um homem que é um dos mais ilustrados de sua terra?
Meme ridicularizando a decisão de Waldir Maranhão
            A resposta pode estar justamente aí. O fato de pertencer a “elite intelectual” brasileira dá a Waldir Maranhão aquela arrogância peculiar aos “doutores”, professores de deus, que se instalam em suas cátedras e tentam transformar o mundo à sua imagem e semelhança. Bem descreve Sowell, em seu Os intelectuais e a sociedade a arrogância característica da classe que leva um veterinário, bem sucedido político do nordeste brasileiro, a questionar uma decisão política e interpretar arrogantemente e sem embasamento suficiente a legislação tomando uma decisão tão descabida. Assim, Waldir Maranhão, ao invés de baixo clero, é um deputado oriundo da nata, creme de La creme da intelectualidade brasileira.
Outro, associando claramente sua imagem a "Dilmãe"
            Agiu com uma demonstração típica dos círculos aos quais pertence, ou seja, sendo um boçal, arrogante, pondo a prova toda sua ignorância no assunto como se sabedor fosse, por pertencer a tal elite. Maranhão é um representante típico das universidade brasileira, sobretudo as públicas, que se tornaram verdadeiras linhas de montagem de fabricação da “maranhões” em larga escala.
            Vemos que seu pensamento se alinha com a UNE, com inúmeros DCE`s, com os sindicatos de professores e outras instituições que representam essa elite intelectual e aqueles que a almejam. Dessa elite saem figuras patéticas como a senhora Marilena Chauí, que diz impropérios em público, como o famoso “eu odeio a classe média”, os quais causariam rubor em vários membros do alto escalão do partido nazista, ou do PCURSS, pela sinceridade com que declamava a vontade de fuzilar agrupamentos humanos. Ao que me lembro, nenhuma nota de arrependimento foi escrita por esta senhora a respeito de suas palavras. E pelo pouco que conheço dessa gente, nunca será. Maranhão voltou atrás de sua decisão na Câmara por medo da caçassão de seu mandato. Acredito que talvez seja tarde para que ele evite o pior para sua carreira, mas sua arrogância certamente o impedirá de renunciar também, caminho que seria o mais fácil para Dilma, igualmente.

            Ou seja, atualmente, o problema no Brasil não é a ignorância de seus líderes. O problema está na presunção de conhecimento com a qual eles agem. Sabem os meus leitores que não tenho qualquer apreço por Eduardo Cunha, e diga-se de passagem, nunca tive. Mas ainda estávamos em melhor situação nas mãos de deputado ambicioso, corrupto, mas ciente de suas limitações intelectuais, o que o levava a ser extramente calculista e cauteloso no que tange a decisões jurídicas, do que em mão levianas que doutores que se imaginam conhecedores de tudo. Na próxima vez que for votar, leitor, lembre que as vezes a humildade pode conviver com a ambição, e um político que conhece suas limitações é melhor que um se acha portador da verdade e da justiça.

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