ZONA CALMA PARA UMA TRIBO ESTRESSADA

Por Fernando Raphael Ferro.
            O prefeito da gloriosa terra de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, também conhecida como Curitiba, resolveu adotar num perímetro ao redor da área central limites de velocidade mais baixos (40km/h), fiscalizados por radares fixos, com o intuito de criar uma zona calma na cidade. A fiscalização iniciou dia 16 de novembro, que pode ser considerada a data em que o esquema começou a vale de verdade.
            Como consequência, nas redes sociais é possível verificar a irritação e nervosismo dos motoristas com a medida do prefeito, visto que hoje em dia as multas por excesso de velocidade são bastante elevadas, e as consequências podem ser muito desagradáveis. Uma infração gravíssima, como por exemplo superar em 50% a velocidade permitida na via, pode render multa de mais de R$ 500,00 além da suspensão do direito de dirigir, e 7 pontos na habilitação. O problema é que, na tal via calma, isto ocorre numa velocidade inferior a 70km/h. Como nestas vias o costume era trafegar em uma máxima de até 60km/h, a revolta chega a ser compreensível.
            Mas o interessante do processo, é que a decisão de criar uma zona calma não parece ter algum fundamento técnico convincente. Por exemplo: seria esta decisão motivada pela necessidade de reduzir os atropelamentos na zona central? Ou seriam os acidentes a causa que mobilizou a prefeitura a adotar estas medidas?
            Na verdade, até onde sabemos, nenhuma destas razões seriam cruciais, visto que a velocidade média na zona central já era muito inferior, na prática, aos 60 km/h durante as horas de maior trânsito de pedestres. Outra informação relevante, é que a maioria dos atropelamentos, sobretudo com vítimas fatais, na área central envolvem o transporte coletivo, em especial os ônibus biarticulados que compõem a frota BRT da cidade. Assim sendo, a medida tem pouco sentido preventivo. E as vias mais violentas da cidade não serão alvo nem desta medida, nem de quaisquer correções com vistas a aumentar a segurança de motoristas e pedestres.
            Em outra oportunidade, já acusei a atual gestão de fazer engenharia de tráfego à base de tinta guache. Tão inócua quanto esta medida foram as faixas exclusivas de ônibus pintadas em algumas ruas e também as faixas para bicicletas em várias ruas. Aliás, a ousadia de alguns ciclistas tem custa suas próprias vidas, em acidentes outrora raros. E esta disseminação de faixas pintadas, algumas muito mal pintadas, inclusive, além de trazer ganhos à cidade, não compõem nenhuma política consciente de mudança no padrão de tráfego.
            Por que, acho eu, seria muito razoável para toda a população se estas medidas estivessem combinadas a uma estratégia efetiva de melhora do padrão de transporte coletivo, da qualidade da urbanização. Se as alterações refletissem uma melhor utilização dos espaços da área central. Assim, a cidade pareceria ganhar com estas medidas. Contudo, o que vemos, são ações que não compõem parte de um plano, com uma estratégia coerente, com um objetivo pautado.

            Não são vidas que se quer poupar; não é a poluição que se quer diminuir; tampouco o transporte coletivo melhora; o trânsito de bicicletas não se torna mais seguro. No fundo, a sensação que resta é que a única intensão talvez seja aumentar a arrecadação de por multas. Mas tampouco isso deve ser verdade, visto que em poucas semanas os motoristas descobrem a localização dos radares e tudo volta a normalidade. Assim, o que sobra é só a revolta das pessoas contra uma ação desastrada da prefeitura, que gira em círculos, sem saber aonde ir. Sem um plano, sem ações relevantes, sem qualquer capacidade de mover-se em direção a uma cidade melhor. Essa é a marca destes 3 anos de gestão Gustavo Fruet, do PDT/PT.

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