PORQUE ESCREVER
Na eminência de fazer o lançamento público do
livro escrito em parceria com outros dois amigos, meio a pergunta do porque
escrever. Qual o propósito de fazer e manter um blog, colecionar textos,
palavras ao vento, enfim, deixar tanta coisa escrita acumulada com tão poucos
leitores dispostos a ler a absorver tudo isso. A pergunta tem, obviamente, um
sentido de provocação, como se um desafio a grande indiferença que eu procuro
demonstrar em relação a tudo que se passa no mundo.
Diante dessa pergunta, deste desafio, só me
resta elaborar uma resposta, que não poderia deixar de ser na forma de um texto
escrito. A princípio, a primeira razão que me motiva a escrever é aplacar a
minha própria confusão mental. Quando escrevo, as ideias confusas, desconexas,
ganham algum sentido, alguma ordem, que no fluxo mental apenas fluem sem coesão.
Olhando para o blog, por exemplo, podem-se perceber os períodos em que vivi os
maiores momentos de agitação, que correspondem aos que mais textos foram
publicados. Normalmente, estes períodos alternam com calmarias, que são os
momentos em que eu leio mais.
Tocando neste ponto, ler é a segunda razão
que me leva a escrever. Escrevo porque leio. Quando termino um livro, muitas
ideias me ocorrem sobre ele. Para não perde-las, coloco-as no papel, ou melhor,
na tela. Para não deixá-las esquecidas em algum HD qualquer, publico-as no
blog, na internet, onde alguns destes textos encontram leitores. Mas isso não
ocorre só com livros. Às vezes são tabelas, gráficos, artigos. Às vezes são
conversas, cujas ideias debatidas suscitam a vontade de escrever.
Recentemente encontrei no meu computado
antigo umas centenas de páginas escritas na década passada. Entre elas estava
um livro de Geografia da Religião que fiz para um curso de Licenciatura em Ensino
Religioso. A história deste livro pode ser resumida assim: fui indicado para
escrever o livro por um professor, para o tal curso, num dada faculdade
privada, que faria este projeto de curso a distância. O curso de licenciatura,
no entanto, nunca saiu do papel. Mas o livro foi escrito. Um amigo meu,
escreveu um livro de Sociologia da Religião, que acabou publicado pela Editora
Paulinas. Mas eu abandonei o projeto numa pasta do computador. Agora lidando
com a publicação do livro “Não Culpe o Capitalismo”, reencontrei o manuscrito
do livro sobre Geografia da Religião. Pergunto-me: não seria óbvio publicar, já
que me é acessível?
Há nisso, certamente, um pouco de vaidade.
Publico para que outros me leiam. Com sorte, ganho um pouco de dinheiro.
Preciso vender algo como 50 unidades para bancar a impressão de 120 livros. É
um retorno fácil para um investimento pequeno. Além disso, acredito que o
material é bem razoável. Publicar ou não? Afinal, já está escrito. Em meu computador,
ninguém irá ler aquilo, além de mim mesmo. Fora dele, abre-se ao mundo a
oportunidade de mais alguém se interessar pelo assunto. Não que seja o
propósito, mas aquelas ideias, aquele esforço, atinge seu fim, que era ser
publicado originalmente.
Obviamente, não fazer dá menos trabalho. Mas
viver com a sensação de não ter feito nada, será pouco trabalhoso isso? Quando
escrevemos, nos colocamos a prova. Publicamente, nos expomos ao julgamento alheio.
Mas e quando não escrevemos?
Hoje, vivemos numa era em que a informação
faz cada vez mais diferença entre vencer e perder, mas em que há,
provavelmente, cada vez menos pessoas dispostas a buscar esta informação de
forma consistente, contínua, sistemática. Assim, escrever perde um pouco do
apelo, ainda mais escrever livros, textos, artigos. Ser lido, obviamente, é o
objetivo de todo autor, assim como ser ouvido é a meta de todo músico. Mas mais
importante que isso, creio eu, é a sensação de dever cumprido.
Escrevo por quê? Porque quis. Porque sim.
Porque posso. Porque sou.
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