TRANSPORTE COLETIVO


Por Fernando R. F. de Lima

No texto anterior comentei alguns dos desafios do novo prefeito da cidade no que diz respeito ao transporte coletivo. Aqui vou trazer algumas informações que ilustram o que eu disse no último texto. Começo pela afirmação de que o número de passageiros tem se reduzido. Esta afirmação é uma meia verdade: em termos absolutos, o número de passageiros transportado cresceu, como é possível ver no gráfico Passageiros Transportados. Contudo, ele cresce numa taxa inferior ao crescimento demográfico. De fato, o único ano em que o número de passageiros encolheu foi entre 2009 e 2010, uma vez que este foi o ano da Gripe Aviária, que teve impacto semelhante em diversos segmentos que reunião grandes aglomerações de pessoas. Contudo, a recuperação nos dois anos seguintes foi muito lenta, a menos de 1 % ao ano.
  
A segunda questão, que pode ser tomada como um indicador genérico de conforto, é número de passageiros por viagem realizada. Entre 2006 e 2011 este número diminuiu, passando de 109 para 105 passageiros por viagem. Ainda assim, ao pensarmos na capacidade média de um ônibus, ao redor de 80 passageiros, e considerando que este é um número médio de toda a cidade, nota-se que há um problema de excesso de usuários por viagem, o que se reflete no conforto.
A terceira estatística possível, é a da distância média percorrida, o que se faz realizando a divisão do número de viagens pela distância média percorrida. O valor obtido se encontra no gráfico distância média por viagem, que passou de 23 km/viagem para 21,94 km por viagem. Nota-se, por tanto, uma distância longa para cada itinerário de ônibus, o que se explica pela integração metropolitana e pelas linhas que cruzam toda a cidade transversalmente.

Sobre os interesses conflitantes, é possível avaliar algumas medidas importantes. A Urbs é a empresa que remunera as empresas de ônibus. Por este sistema, todos os usuários pagam a tarifa para a Urbs, que depois repassa este valor às empresas com base em uma tabela pré-definida de custos médios por quilometragem percorrida. Ou seja, os usuários do sistema “compram” o serviço de transporte da Urbs.
A Urbs, por sua vez, terceiriza este serviço de transporte para as empresas de ônibus. Elas ficam responsáveis não apenas pela operação do sistema, mas também pela cobrança dos usuários. As empresas são remuneradas por meio de uma tabela, definida em comum acordo com a Urbs, de custos médios por quilometro rodado. O valor arrecadado é repassado a Urbs que, por sua vez, paga as empresas.
Sob a ótica econômica, portanto, as empresas de ônibus procuram realizar o trajeto mais longo possível, uma vez que sua remuneração se dá pela extensão percorrida. Elas devem manter o padrão de funcionamento da frota, bastante homogêneo e relativamente exigente definido pela Urbs e atender aos horários especificados.
A Urbs, por sua vez, procura maximizar o uso dos ônibus que estão rodando. Isto significa rotas que “coletem” o maior número possível de passageiros, realizando a menor distância possível. Além disso, os ônibus devem permanecer o maior tempo possível lotados. Contudo, como há diversos usuários não pagantes, seja por causa dos funcionários ligados a manutenção do sistema, seja por causa das políticas públicas de gratuidade (estudantes, idosos e deficientes), acaba ocorrendo uma sobrecarga no sistema em relação ao número de usuários transportados e o número de usuários pagantes.

          Segundo o site da Urbs, 14,26% dos usuários do sistema não pagam ou recebem descontos na tarifa, ou seja, mais de 320 mil pessoas em 2011. Isto significa que, em média, cada viagem de ônibus tem 90,44 passageiros pagantes, que arrecadam R$ 235,16 por viagem, ou seja R$ 10,72 por quilômetro percorrido. Este valor médio deve ser um pouco menor por conta da diferença tarifária aos domingos. Mas ainda assim mostra qual a situação atual. A melhoria do sistema passa por combinar três fatores: garantir que a arrecadação por quilômetro seja mantida (uma vez que hoje ela iguala os custos ou dá algum prejuízo operacional), reduzindo o número de passageiros por ônibus (que aumentaria o conforto dos usuários) sem aumentar significativamente a tarifa (o que reduziria ainda mais o crescimento do número de usuários.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O PROBLEMA DO DÉFICIT HABITACIONAL - PARTE 2

O ELEITOR BRASILEIRO E O EFEITO MÚCIO

COMENTÁRIOS SOBRE O CENÁRIO ATUAL