DIDÁTICOS: IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER?

Por Fernando R. Ferro

Resultado de imagem para ideologyNo último mês me mantive quieto no blog, pois outras tarefas me ocuparam a mente. No entanto, desde a palestra no Instituto Histórico Geográfico, uma ideia vem me ocupando a cabeça: escrever textos voltados para o público que ainda não está iniciado nesta questão política liberal. Afinal, meu blog trata de vários assuntos, e no fundo há sempre um embasamento que é liberal do ponto de vista político, econômico, que fica subentendido, mas nem sempre claro o suficiente, ainda mais num contexto tão viciado em Estado como é o brasileiro.
Assim sendo, acho que se torna necessário expor abertamente o que vem a ser a ideologia liberal, porque ela é importante, porque me baseio nela para guiar meus discursos de fundo político e econômico e porque acho que esta é uma ideologia para se ter de estimação. Começo pelo básico. Toda ideologia se baseia numa crença. Por trás do liberalismo há uma crença humanista na capacidade de todos os seres humanos de buscarem o que é melhor para si. Sem acreditar nisso, fica difícil ser liberal.
Resultado de imagem para ideologyNo fundo, a diferença entre um liberal e um estatista reside nisso: um estatista, seja nacionalista, socialista, trabalhista, social democrata, ou de qualquer outra matiz, acredita que é necessário que o governo, através de uma elite burocrática, haja de modo a proteger os cidadãos das ameaças externas e a auxiliá-los a buscar seus melhores interesses, seja pelo bem da pátria, da classe, ou da sociedade. Esta é uma visão paternalista, que busca proteger os indivíduos, como se eles necessitassem da proteção de uma elite pensante.
Um liberal pensa diferente. Ele acredita que os indivíduos são capazes de buscar seus próprios interesses por conta própria, individualmente ou associados de forma espontânea. O papel do Estado é apenas impedir o uso da coerção por parte de alguns indivíduos ou grupos uns contra os outros e julgar e arbitrar os casos que não puderem ser resolvidos de forma consensual. Quando o Estado ultrapassa estes limites, ele começa a prejudicar a busca dos interesses pessoais dos indivíduos, tornando-se um peso, um mal, que atrapalha o desenvolvimento da sociedade.
O liberalismo, parte, portanto, de uma visão de igualdade entre os homens. Toma-se que todos são iguais na sua capacidade de tomar decisões de acordo com seus interesses particular, independente de estudo, idade, sexo, estado civil, riqueza, cor, credo, ou quaisquer outros atributos individuais. Afinal, quantos homens bem nascidos, dotados de estudo, riqueza, posses e boa posição social não fizeram bobagens homéricas e acabaram na miséria? E quantos miseráveis não tomaram boas atitudes e tornaram-se referência?
Buscando exemplos na cena brasileira, poderíamos citar o próprio Luís Inácio Lula da Silva como exemplo de homem bem sucedido pelo próprio esforço, apesar da ideologia na qual ele milita pregar o exato oposto disto. Outro exemplo é o Silvio Santos, que do nada construiu uma grande rede de comunicação. Eike Batista é o exemplo oposto, de bem sucedido e nascido empresário, tornou-se símbolo nacional do fracasso, depois de sucessivas decisões erradas. O infortúnio e ou o logro destas personalidades ilustra que a sina pouco se apega aos antecedentes, mas depende muito dos próprios atos.
Um Estado forte, assistencialista, paternalista, que buscasse conservar todos em seus respectivos lugares, jamais teria permitido que estes cidadãos tivessem conhecido a sorte ou a penúria. A mãe de Lula jamais teria deixado o semi-árido. Silvio Santos seria até hoje um pequeno comerciante. Eike Batista um rico empresário, nunca um bilionário, e nunca teria falido. O Estado, de modo paternal, impediria o sofrimento extremo que levou aquela senhora migrar com os filhos, mas também impediria os excessos que levaram a criação extrema de riqueza de Abravanel e posteriormente Eike Batista. Do mesmo modo, asseguraria que negócios de risco não fossem realizados, para impedir a deterioração de patrimônios, e proteger investidores.
O Estado brasileiro atual já atua de modo a minimizar os riscos de novos jogadores apareçam no cenário e ameacem a ordem estabelecida. Basta que olhemos o modo como as coisas estão. Quantos novos ricos despontaram na última década sem auxílio do governo? Quando dinheiro do BNDES foi alocado de modo a impedir bancarrotas? Quanta legislação criada para proteger o mercado da concorrência externa? Tudo isso porque o paternalismo é cada vez maior. Há benefícios reais para população? A vida melhora, mas porque os indivíduos continuam atuando.

Continuam se associando livremente e buscando alternativas para os problemas que os afligem. Mas as iniciativas estatais certamente contribuem para sufocar e restringir a liberdade e limitar o potencial criativo. Ou seja, sem o paternalismo estatal, a vida melhoraria ainda mais. Esta é a crença liberal. Não há provas científicas disso, porque em ciências sócias não existem laboratórios. Mas vemos países onde a economia é mais livre e percebemos que a qualidade de vida da população é melhor. Baseados nisso, imaginamos que nossa vida poderia ser melhor se nosso país fosse mais livre também. Ideologia, no fundo, é também uma profissão de fé. E é nisso que acredito. Devemos trabalhar e lutar para que tenhamos mais liberdade de ação, restringido a ação do Estado para seu dever essencial: garantir a ordem, a paz social, monopolizando o poder de coerção.

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