UMA INOVAÇÃO COM UMA VELHA IDEIA


Por Fernando R. F. de Lima
O prefeito de São Paulo agiu corajosamente ao implantar faixas exclusivas para ônibus em grandes avenidas de São Paulo, o que teve como impacto imediato o aumento da velocidade dos coletivos em relação aos automóveis particulares. Em alguns corredores, como o norte-sul inaugurado ontem (12 de agosto de 2013), o aumento de velocidade foi de 100%, superando os automóveis em 40 minutos no mesmo trajeto.
Para a cidade de São Paulo, isto foi uma inovação, apesar da ideia ser muito antiga, ao menos em Curitiba. Aqui na terrinha, os ônibus contam com faixas exclusivas segregadas do trânsito há mais de 30 anos. Claro que nosso sistema poderia ser mais amplo, mas a resistência dos motoristas é sempre muito grande a este tipo de medida, porque significa redução do espaço destinado aos automóveis, enquanto a pista dos ônibus parece, em vários momentos, ociosa. No entanto, este tipo de medida é muito importante para otimizar o transporte coletivo, melhorando a velocidade de deslocamento e, com um pouco de sorte, a qualidade do sistema.
Para que uma pessoa normal troque o conforto de seu automóvel por um coletivo lotado, algumas vantagens devem ser evidentes. Uma das que conta é o custo: os mais pobres, em geral, usam o ônibus porque não podem manter um automóvel, seja pelas despesas de aquisição, seja pela manutenção (combustível, estacionamento, oficina, seguro, etc). Muitos, entretanto, acabam optando pelas motocicletas, o que por um lado é bom, mas por outro pode ser arriscado caso o motociclista não tenha perícia, prudência e paciência necessária para guiar uma moto.
Outro modo de cativar os usuários seria pela vantagem em tempo: se o transporte coletivo for mais rápido, as pessoas poderão optar por ele, apesar do sacrifício em conforto. No caso de São Paulo, uma redução em 40 minutos no tempo de viagem pode ser decisiva para o usuário que gasta diversas horas diárias no trânsito. Aqui em Curitiba, os ônibus ainda são mais lentos que os automóveis. Em alguns horários, a desvantagem do ônibus é significativa. Com isso, os usuários que permanecem no sistema coletivo são aqueles que não possuem a opção do automóvel ou motocicleta (tampouco táxi).
Cito sempre meu próprio exemplo para ilustrar a desvantagem do coletivo em tempo: de minha casa ao meu trabalho gasto 15 minutos de moto, 25 minutos de carro, 45 minutos de bicicleta (parando para tomar banho no clube) e 1 hora de ônibus. Minha opção diária mais frequente é a moto, seguida pelo ônibus e a bicicleta. O automóvel eu quase não utilizo, sobretudo pelos custos de estacionamento (é difícil conseguir uma vaga gratuita, o que me obriga a sair de casa no mesmo horário que sairia de ônibus).
Com estes tempos de deslocamento, devo sair de casa às 8:00 h de ônibus (obrigatoriamente) ou bicicleta (para imprevistos), 8:10h de carro (para conseguir vaga) ou então 8:40 de moto. Para quem fica 9 horas por dia no trabalho (das 9:00 às 18:00), e mais umas duas horas na faculdade (estou fazendo outra), 40 minutos diários de convivência extra com a família tornam-se preciosos. Obviamente, minha vida é um mar de rosas comparada com a sina da maioria dos trabalhadores, sendo que alguns gastam 4 horas diárias de deslocamento trabalho-casa, sem poder optar, como eu, por quatro opções diferentes.
O investimento em aumento da velocidade do transporte coletivo é imediatamente percebido como ganho de qualidade por parte do usuário. Também deve ser acompanhado por redução da lotação, o que é possível pelo aumento do giro da frota que, em consequência, acaba reduzindo o custo de transporte (menos ônibus são necessários para fazer o mesmo número de viagens). Assim, apesar de petista, a medida de Haddad parece ser uma das melhores já empregadas por prefeitos de São Paulo, porque o metrô, apesar de ser a solução dos sonhos, é muito mais caro e seus resultados aparecem num prazo muito mais longo, que velhas ideias simples como faixas exclusivas de ônibus.

Comentários

Anônimo disse…
Boa noite. Me chamo José Carlos, sou geógrafo e tenho um blog, chamado Carta Geográfica, onde recentemente eu postei dados sobre o IDHM do Paraná, por municípios, para os anos de 1991, 2000 e 2010. Mas lendo o blog Tomatadas, percebi que os cartogramas apresentados por mim podem estar errados, uma vez que a forma de cálculo mudou entre os anos de coleta dos dados, como li no Tomatadas. Naquele blog eu solicitei uma cópia das tabelas corretas que você elaborou. Ele pediu que eu entrasse em contato com você. Se for possível me enviar uma cópia dessas tabelas, para que eu possa refazer os cartogramas, ou compará-los com os meus. Desde já agradeço. Um abraço.

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