COMO VARIAM OS PREÇOS

Por Fernando R. F. de Lima

 

A questão dos preços é algo que no Brasil ainda está envolto numa aura de mistério para a maioria das pessoas. Conversando com um amigo, outro dia, ele deixava claro sua desconfiança com relação aos índices de inflação, suspeitando que eram manipulados pelo governo, ou pelas empresas, ou por quem fosse. Em outras conversas, vi muita gente desconfiada também do modo como os preços flutuam, como algumas coisas ficam mais caras de uma hora para outra e depois caem de preço novamente. Este tipo de dúvida em relação a algo tão básico da economia me motivou a escrever este texto, com o objetivo de dar uma explicação mais ou menos objetiva sobre a variação dos preços no mercado.

Primeiramente, temos que entender como uma empresa faz para "formar" o preço de uma mercadoria. O componente básico desta formação de preços é o custo que uma empresa tem para produzir o bem ou o serviço ofertado. Grosso modo, o custo de um produto é formado pelo custo do capital empregado para produzi-lo, ou seja, o custo das máquinas, do prédio, e do dinheiro usado para manter o negócio; o custo do trabalho empregado, que é aquilo que é pago de salário para os trabalhadores, mas também os outros custos do trabalho, como previdência, contribuições sociais, férias e 13º salário; custo financeiro, que é o quanto de juros a empresa paga pelo dinheiro que não é dela, mas está sendo utilizado na produção; custo com insumos, isto é, a matéria prima utilizada para produzir o bem ou serviço, e por fim o custo de oportunidade, que é o que a empresa poderia estar fazendo com aquele capital todo ali empregado caso não estivesse produzindo aquele serviço. Para facilitar a compreensão, vou colocar uma fórmula bem simples para ilustrar os custos:

Custo de produção= C. capital + C. trabalho + C. financeiro + C. insumo + C. oportunidade

            A partir destes custos, a empresa adiciona uma margem de lucro, que seria sua rentabilidade do produto, e assim forma o primeiro preço que ela vai oferecer ao mercado. Desta forma, podemos imaginar que uma padaria, por exemplo, para produzir um pão, gaste o equivalente a R$ 0,02 com capital, R$ 0,03 com trabalho, R$ 0,02 com custo financeiro, R$ 0,02 com insumos e R$ 0,01 com custo de oportunidade tenho um custo de produção do pão igual a R$ 0,10 por pão de 50 g. Diante disso, a padaria poderia adicionar uma rentabilidade sobre o pão, isto é, seu lucro, de 10%, vendendo o pão por R$ 0,11. Este seria o primeiro exercício para a formação do preço do pão, o que não significa que o preço será este. Sobre este preço, irão incidir também os impostos, que por sua vez alterarão as contas do dono da padaria e poderão elevar este preço em mais 10%, fazendo o pão chegar a R$ 0,13.

            Até aqui, o preço do pão foi formado apenas pelos fatores internos a produção do pão, sem considerar o mercado para a venda deste pão. Para seguir no exemplo, podemos imaginar que esta padaria acabou de chegar no mercado, com uma capacidade de vender 2000 pães por dia. Por mais que o dono da padaria queira, ele não pode ainda aumentar sua produção de pães. Contudo, ele percebe que cada uma de suas dez fornadas de 200 pães que ele é capaz de produzir, se acabam antes que a próxima fornada fique pronta. Isso acontece porque há uma demanda muito grande por aquele pão. Ele vende mais rápido do que é capaz de produzir. Isso acontece porque ele cobra menos pelo pão que seus concorrentes, mas tem como efeito indesejado fazer com que ele acabe sendo visto como a padaria que nunca tem pão suficiente. Diante desta pressão do mercado, ele resolve aumentar o preço do pão, para R$ 0,20, o que aumenta muito sua rentabilidade. Se ele paga os mesmos 10% de imposto, isso significa que ele recebe R$ 0,18 centavos por pão, ou 80% a mais que seu custo de produção. Sua rentabilidade aumentou. Apesar disso, ele continua vendendo todos os 2000 pães por dia, mas não tão rápido quanto antes.

            Podemos pensar que ele está sendo ganancioso, aumentando tanto assim o preço do pão, mas no fundo, o que o padeiro está fazendo também é melhorar a imagem do seu negócio frente aos outros. Quando um competidor entre no mercado, ele muitas vezes precisa "conquistar" o consumidor. Uma das maneiras mais fáceis de fazer isso é oferecendo um preço abaixo do de mercado. Um aumento no custo da matéria prima, ou no salário pago aos funcionários, ou ainda nos juros pode fazer com que o preço do pão suba. No entanto, se o repasse deste aumento nos custos fizer com que a demanda por pão diminua, o dono da padaria pode simplesmente absorver estes custos, reduzindo sua rentabilidade de forma a manter os mesmos preços, para não diminuir suas vendas. Em geral, é isto que acontece durante algumas crises, quando o preço dos bens deixa de subir, mesmo que os custos de produção subam.

            No caso do aumento do pão de R$ 0,13 para R$ 0,20, o que aconteceu neste caso foi um aumento do preço puxado pela demanda. No Brasil, atualmente, muitos preços subiram por conta deste fator: com a indústria produzindo no limite de sua capacidade, os fabricantes têm espaço para aumentar sua margem de produção, ou seja, para recompor suas margens, como eles costumam dizer. Para produzir mais, seria necessário mais investimento, mas como os investimentos demoram para se concretizar, as empresas antes de realizá-los aumentam os preços como forma de "normalizar" a demanda. O mesmo acontece com todos os produtos e serviços ofertados no mercado.

            Os trabalhadores, por exemplo, sofrem pressão para trabalhar por menos dinheiro, isto é, por salários mais baixos, quando o número de pessoas em idade para trabalhar aumenta. Isso pode acontecer por várias questões, como por exemplo a migração de trabalhadores de uma cidade para outra pelo próprio crescimento natural da população. Este tipo de pressão ocorre, sobretudo, nos trabalhos menos qualificados, isto é, que exige menos para que o trabalhador ingresse na profissão. Este tipo de pressão ajuda a manter os salários baixos em países como China e a Índia, porque o número de pessoas preparadas para ingressar no mercado é maior que o número de postos de trabalho oferecidos. Numa situação como esta, mesmo com um aumento na demanda por trabalhadores pode não haver aumento de salários.

            Isto foi o que ocorreu no Brasil, e no mundo também, quando as mulheres entraram em grande número no mercado de trabalho, sobretudo depois dos anos 1960. Os salários cresceram num ritmo menor que a economia por conta do crescimento acelerado da oferta de trabalhares, no caso, de trabalhadoras.

            Para produtos complexos, como é o caso dos produtos industriais, outros fatores podem afetar os preços: uma elevação ou redução dos impostos, ou aumento queda na taxa de juros, aumento das exportações, aumento do custo de transporte, falta de trabalhadores, elevação da produtividade do trabalho ou do capital, entre outros diversos fatores. Os índices de preço criados pelo governo medem como os preços variaram no mercado num dado período (uma semana, uma quinzena, um mês, um ano), mas não dizem a razão desta variação. Além disso, os índices condensam médias, o que anula as diferenças entre o mesmo produto em diferentes empresas, e entre os diversos custos da mesma empresa. Com base neles, o governo forma uma opinião para saber se a variação nos preços é causada pelo aumento da demanda, que pode ser um sinal de inflação, ou pela redução da oferta, que é a chamada inflação sazonal, ou seja, quando a oferta de um dado produto se reduz ao longo do ano.

 
Fernando R. F. de Lima
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