LIBERDADE PARA IR E VIR: VELHA BANDEIRA LIBERAL

O Liberalismo possui várias faces, algumas das quais muito mais populares que outras. No artigo anterior eu comentei sobre a desigualdade vista a partir de um ponto de vista do liberalismo. Para melhor compreender as desigualdades de população no planeta terra, podemos levar em consideração a questão da liberdade para ir e vir.
A teoria econômica considera que existem, em linhas gerais, três fatores de produção: terra, capital e trabalho. No nosso mundo de distribuição imperfeita de fertilidade, clima, relevo, etc., o primeiro fator de produção é aquele, digamos, dado pela natureza. Não pode mover-se. O capital e as pessoas movem-se em direção às melhores ofertas de recursos naturais, sejam solos, florestas ou minerais. O desbravamento de fronteiras e a colonização são as formas mais pacíficas de deslocamentos em busca de terras marginais. A conquista, a guerra e o imperialismo as mais agressivas.
Na história do mundo tivemos, portanto, momentos de maior mobilidade do trabalho, como testemunham as grandes migrações do século XIX e início do século XX. Para onde havia a escassez de trabalho e sobra de terras moveram-se as pessoas. Assim foram colonizadas as Américas, e grandes contingentes humanos se deslocaram sobre a superfície, tais como chineses, indianos, irlandeses, ingleses, etc.
Após a segunda guerra mundial, num mundo relativamente povoado, o que se deu com maior intensidade foi a migração do capital, materializado na forma de empresas multinacionais, empréstimos, e troca de tecnologias. Ainda estamos vendo o grande movimento de capitais que trocam de país numa velocidade que muitos acusam estonteante. O capital flui dos locais onde é abundante, para onde ele pode ser produtivamente empregado, que em geral são locais com bastante mão-de-obra qualificada.
No entanto, há governos que não são receptivos ao movimento do capital, seja por falta de um marco jurídico claro, seja por falta de mão-de-obra qualificada. Nota-se também que ambas as coisas estão normalmente relacionadas. Esses governos, obviamente não atraem nem os olhos cobiçosos dos donos do capital (fundos de pensão, sociedades de acionistas, e empresários.), tampouco a atenção de potenciais emigrantes qualificados. Faltam-lhes capital e faltam-lhes terra. Sobram milhões de pessoas que não conseguem encontrar um emprego para si, e acabam vivendo na miséria e indigência. Uma solução que muitas dessas pessoas encontram é a emigração. Os argelinos que possuem meios migram para a França. Os equatorianos para a Espanha. Angolanos para o Brasil e Portugal, e brasileiros para os EUA.
A migração de mão-de-obra, de trabalho, assusta os sindicatos, quebrando as reservas de mercado que as barreiras à imigração impõem. Os salários no Japão são elevados porque há muito capital para pouca mão-de-obra, e os japoneses, obviamente, estão satisfeitos com essa situação. Não querem que seus salários sejam eventualmente rebaixados por uma competição com imigrantes chineses, coreanos, ou de qualquer outra etnia ou nacionalidade.
As barreiras ao movimento de pessoas têm como conseqüência, além das reservas de mercado para a mão-de-obra, a redução da competição entre os governos. Se as barreiras à imigração fossem abolidas no mundo atual, certamente os salários dos países mais ricos ficariam num nível mais baixo que estão atualmente. Mas certamente, mais pessoas estariam mais ricas, teriam acesso a uma educação melhor, e a alguma segurança jurídica. Quando os sindicatos lutam por barreiras a imigração, eles condenam milhares de migrantes à fome e morte sob governos tirânicos.
O liberalismo defende, por coerência, a liberdade para capital, mercadorias e pessoas. As barreiras impostas a migrações por critérios de nacionalidade, religião ou etnia não deixam de ser heranças de preconceitos racistas e discriminações sem fundamento. Afinal de contas, o liberalismo é a expressão da sociedade aberta, que deve unir as pessoas de forma impessoal. Não importa a cor, classe ou credo todos devem ser iguais perante a lei, e livres para buscar seus objetivos, seja onde for.

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