BALANÇA COMERCIAL BRASIL-EUA
Vários jornais noticiaram hoje o fato de que tivemos um déficit comercial com os EUA de mais de US$ 4 bilhões 2009, no acumulado de janeiro a novembro (tabela 1)
O fato de alguns importantes atores no comércio mundial manterem moedas desvalorizadas a partir de políticas de câmbio fixo, só fez aumentar o déficit dos EUA com eles, o que é o caso da China e da Coréia do Sul, pra ficar nos dois mais importantes exemplos. O Brasil, que adota câmbio flutuante, só agora sofreu com o ajuste. O déficit se acumula desde julho de 2008, último mês em que tivemos saldo positivo com os americanos. E prolonga-se desde então.
Apesar de ser um fato novo para nós, pelo fato de historicamente sermos superavitários com os EUA, o fato não causa espanto: os EUA são os primeiros no ranking de competitividade, tem os trabalhadores mais produtivos do mundo segundo a OIT e uma das indústrias mais avançados do planeta em praticamente todas as áreas. O que deveria causar surpresa é o fato de que ainda assim eles compram produtos brasileiros (principalmente produtos primários, mas esta é outra questão). Agora, com a queda nas importações de commodities, ocorreu uma inversão na balança comercial.
Ninguém pode prever se este fato deverá ocorrer com todos os países, mas certamente o superávit comercial dos EUA com a China e Coréia do Sul, caso houvesse uma situação de livre comércio dos dois lados e câmbio flutuante também dos dois lados (EUA e os outros), iria se reduzir muito acentuadamente. Provavelmente até mais que a redução que ocorreu no Brasil. Os EUA tem sido até agora, para usar as palavras de Paul Krugman, vítima do mercantilismo chinês. Como a China não dá sinais de que irá alterar sua política cambial, a solução para encontrar um novo equilíbrio macroeconômico será uma contínua desvalorização do dólar em relação às moedas que flutuam, gerando um empobrecimento relativo dos americanos, mas melhorando a competitividade de sua indústria e sua balança comercial. Este empobrecimento dos americanos levaria junto os chineses e outros países de câmbio fixo ao dólar. Esta situação só irá compensar até o momento em que a "pobreza" cambial puder ser compensada com o aumento das exportações para outros países.
Esta porta, porém, e novamente me reporto a Paul Krugman, pode estar fechada, frente a crescentes movimentos protecionistas em relação aos produtos chineses e de outros países que se negam a adotar uma política cambial mais flexível e próxima da taxa de equilíbrio. Eu já disse em outra oportunidade aqui neste blog que desvalorizar moeda para favorecer as exportações é uma maneira de favorecer os empresários exportadores de um país à custa dos consumidores/trabalhadores deste mesmo país. Isto acontece porque enquanto os empresários tornam-se mais ricos, aumentando suas receitas pelo crescimento das exportações, os trabalhadores recebem seus salários em moedas desvalorizadas, o que limita suas possibilidades consumirem produtos melhores e mais baratos produzidos em outros países, encarecidos artificialmente através do câmbio.
Quando o dólar se desvaloriza frente ao real, e com isso puxa as moedas que adotam câmbio fixo com o dólar, o petróleo e soja comprados pela China ficam também mais caras. Isso também ajuda a explicar porque a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, com o qual ainda temos superávits. Nossa única vantagem real neste comércio, é que vendemos para eles algo que eles estão impossibilitados de aumentar sua produção doméstica (grãos, carnes e minérios), mas corremos um sério risco de vermos nossa indústria nacional aniquilada pela concorrência desleal com chineses, sul coreanos e outros asiáticos.
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