CARNAVAL, SOCIAL-DEMOCRACIA E DINHEIRO DOS IMPOSTOS


Por Fernando R. Ferro.
            Quando chega e passa esta época do ano, eu sempre fico um pouco mais deprimido pelo fato de ser brasileiro. Não pelos festejos de carnaval, pelos quais adoto uma postura indiferente, mas pelas manifestações carregadas de estatismo que emanam da população local. Para ilustrar o fato, vou comentar uma reportagem estendida que vi na televisão local, falando sobre o carnaval de Curitiba, que é um dos mais variados do Brasil.
            Variados porque aqui em Curitiba, como se sabe, o samba no pé não é exatamente uma tradição. Aqui, no carnaval, há diversas opções para não se fazer nada. Caminhada de zumbis, festival de rock, carnaval gospel, e até mesmo alguns blocos de rua e o desfile de sábado a noite com algumas escolas de samba locais. Tudo regado a muita chuva, garoa fina e um friozinho que combina bem um cobertor fininho, uma taça de vinho e uma seção de queijos em frente a TV sintonizada no último seriado do NETFLIX. Ou seja, o Carnaval em Curitiba é uma piada.
            Mas, apesar disso, há diversos esforços locais para fazer estas festas acontecerem, afinal de contas, o carnaval é uma festa cristã milenar, Curitiba tem uma população majoritariamente cristã, e brasileiros que são, muitos não desistem de se fantasiar como podem e tentar fazer o carnaval acontecer neste planalto gelado e úmido. A reportagem tratava disto. Dizia, entre outras coisas que, ao contrário dos carnavalescos de São Paulo e Rio de Janeiro, aqui em Curitiba estes “profissionais” não podia ter dedicação exclusiva. Tinham que manter outras profissões.
Entre os que foram apresentados, estavam um professor, um alfaiate, gente comum, que trabalha e dedica suas horas de lazer ao carnaval, como um hobby. Após alguns segundos, o comentário do especialista com o receita para estimular o carnaval curitibano: faltava incentivo do governo. O governo deveria dar mais apoio, mais receita, mais dinheiro, mais divulgação, mais tudo, para este importante aspecto da cultura popular florescer.
Esta é a parte da cultura nacional que me deixa sempre deprimido. Até quando este nosso povo vai insistir na ideia de que o governo deve estar em tudo, se metendo em tudo, em nossas vidas. Sendo o carnaval um aspecto da cultura popular, porque o governo deveria se meter com isso? Acaso não desconfiam as pessoas que o dinheiro que vem do governo é tomado delas via impostos? Nisso me ocorreu outro exemplo similar: o churrasco de domingo é um traço característico da cultura popular curitibana. Muitas famílias, no entanto, só conseguem realiza-lo uma vez por mês, ou a cada quinze dias.
Tendo em vista a importância do churrasco para as famílias curitibanas, não seria o caso do governo contribuir para a preservação deste importante atributo da cultura local? Tenho uma proposta: que tal o governo incentivar o churrasco doando a carne (três quilos de picanha por família), e subsidiando a compra do carvão, acendedor e espetos, como forma de manter esta tradição popular viva no coração de cada curitibano?
A proposta pode soar absurda, mas é menos absurda que subvencionar carnavalescos? Por quê? Pela quantidade de pessoas? Seria o churrasco dominical menos importante que o carnaval? Desconfio que o custo do carnaval para a prefeitura foi superior a R$ 5 milhões. Mas supondo que sejam apenas R$ 5 milhões, este valor seria suficiente para bancar um dia por ano de passagem de graça para os 1,5 milhão de usuários do transporte coletivo. Um dia pode parecer pouco, mas não seria melhor do que torrar a mesma quantia em plumas, paetês e lantejoulas por um dia também? Deve-se lembrar, que uma quantia muito menor que 1,5 milhão de pessoas desfrutam dos desfiles, festas e blocos organizados pela prefeitura local.

Nosso povo, literalmente, não sabe dar valor para o dinheiro que ganha de forma tão suada. Por isso, prefeituras, governos estaduais e a União jogam fora o dinheiro dos impostos com bobagens como queima de fogos, carnaval, festas juninas, propagandas na TV, “conscientização” em temas diversos e aleatórios, como se tudo fosse prioritário, urgente e importante. O dinheiro público é, no fundo, de ninguém. Enquanto o povo achar que o governo de bancar a sede infinita de demandas da sociedade, continuaremos neste mar de lama em que vivemos. Ser livre é assumir responsabilidade pelos próprios interesses. Mas o brasileiro parece preferir viver eternamente a servidão.

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