O LIBERALISMO BRASILEIRO MERECE MAIS QUE UM PASTOR EVERALDO
Por Fernando R. F. de Lima.
Anteontem,
no debate da Band, pude conhecer mais de perto o candidato Pastor Everaldo,
quem vem tendo boa repercussão nesta campanha por conta de sua bandeira
liberalizante em termos econômicos. Pela primeira vez em muitos anos, vemos um
candidato defendendo abertamente a livre iniciativa, o livre mercado e as
privatizações, tendo, inclusive, como bandeira a privatização da Petrobrás.

O
liberalismo e o conservadorismo são duas doutrinas políticas caracterizada pela
grandeza de seus intelectuais. Até mesmo o Brasil, sempre modesto nas
contribuições ao espírito, pode listar em sua fileira de conservadores e
liberais nomes como Roberto Campos, José Oswaldo de Meira Penna, Gustavo
Corção, Leonildo Tabosa Pessoa, Paulo
Francis, para ficar nos mais famosos. Assim, é de assustar que quando se
apresenta um político disposto a defender o liberalismo econômico, o nome em
questão seja o do Pastor Everaldo.
Este
recém convertido ao liberalismo deu suporto ao trabalhista Leonel Brizola além
de ter alcançado projeção política após apoiar a chapa de Anthony Garotinho
(PR) e Benedita da Silva (PT) no governo do Rio de Janeiro. Assumiu papel de
destaque, sendo inclusive sub-secretário da Casa Civil neste governo. Filiado desde
2003 ao Partido Social Cristão, decidiu concorrer à presidência, e não estava
sendo levado muito à sério até pouco tempo atrás. Sua figura bizarra ganhou atenção
da mídia por defender temas como a privatização da Petrobrás, a
livre-iniciativa e outras platitudes que o tornaram, aos olhos de alguns, um
liberal de pura cepa.
Não sou contra Everaldo pelo fato dele ser
Pastor. Primeiramente, porque um de meus melhores amigos é Pastor e por ele
tenho imenso respeito e admiração. Ser Pastor, Padre ou Rabino não é demérito
para ninguém. Meu grande amigo, além de pastor evangélico é também doutor em
história, com uma longa carreira profissional tanto no setor público quanto
privado, atuando no magistério, na pesquisa social e nas atividades religiosas.
Mas acima de tudo, é um homem sério, coerente, capaz de articular frases,
defender ideias, compreender posicionamentos ideológicos e, acima de tudo,
escolher um lado não por oportunismo, mas por convicção.
Não sou contra Everaldo por ele ter mudado de
ideia: tenho vários amigos, alguns muito próximos, que em algum momento da vida
acreditaram na vida fácil prometida pelos socialistas messiânicos. Gente que
descobriu a duras penas que o bem estar só aumento por meio do trabalho, que se
dividirmos igualitariamente toda a riqueza do país, o resultado será uma país
com ainda mais pobres que antes da divisão.
O que me faz ser contra o Pastor Everaldo é o
fato de que o liberalismo não se resume ao slogan “privatização”. E quando se
fala de Estado mínimo, não significa que este Estado irá gastar apenas com
saúde, educação e segurança pública. Aliás, focar o Estado nestas três áreas
pode ser enquadrado como proposta de qualquer programa social democrata. O
liberalismo e a defesa da livre-iniciativa não se resumem a isso. Não é uma
doutrina negativista, pedestre, que se resume em acabar com o que está feito.
Uma ideologia política liberal compromete-se
com alguns princípios que incluem a valorização da liberdade individual acima
dos impulsos coletivistas do Estado. Significa a valorização da meritocracia
através de um sistema de regras claro e funcional, que estimule a competição e
a colaboração entre as pessoas. Um Estado liberal pode gastar ou não com
educação, mas se o fizer, pelo bem da competição, colaboração e liberdade entre
as pessoas, deverá fazê-lo de forma a estimular estes três pilares das
sociedades abertas. A questão não é no que gastar e sim como gastar.
Enquanto liberal, não vejo meus ideais
representados pela figura do socialista-cristão Everaldo. Para mim, parece uma
caricatura do liberalismo desenhada pelas esquerdas, feita apenas para aferir
qual seria a adesão a população brasileira a suas propostas, como forma de, ao
final, bradar: “Viram! O brasileiro não quer liberalismo! A direita morreu”. Na
me convence que o Everaldo não passa de um títere da Dilma para caricaturar o liberalismo
no Brasil como ideologia oportunista.
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