ENSINO NO BRASIL: COMO AVANÇAR?
Por Fernando R. F. de Lima.
Primeiramente, sou licenciado em Geografia,
portanto legalmente habilitado para trabalhar como professor. Depois, tenho
alguns anos de experiência no magistério, desde a antiga quinta série do ensino
fundamental até o nível universitário. Além disso, sou aluno, atualmente, de um
curso de graduação em engenharia, onde posso contemplar minhas próprias
deficiências em minha formação em matemática e, por fim, sei que a péssima
qualidade do ensino afeta diretamente as possibilidades de aumento da
produtividade do trabalho e da economia como um todo.
Para
ilustrar, em Curitiba os melhores colégios públicos são os Militares (do Exército
e da Polícia), a Escola Técnica da UFPR e os cursos de ensino médio da UTFPR.
No lado privado, Bom Jesus e Santa Maria situam-se no topo. Em todos estes há
uma combinação de alunos selecionados, uma vez que há concurso para entrar nas
escolas públicas e um filtro invisível que exclui maus alunos via reprovação
nas duas escolas privadas. Os professores são mais bem pagos que a média, com
exceção, talvez, do Colégio da Polícia Militar. Nos demais, os salários são bem
mais generosos que o piso do magistério. Além disso, situam-se em comunidades
bem estáveis, no caso, todos de classe média alta, dos níveis B e A, mesmo nas
escolas públicas.
Reproduzir
as condições destes colégios para todo o país seria, portanto, impossível. Isto
porque, independentemente da sociedade em que vivamos, sempre haverá ricos e
pobres, mesmo num distópico paraíso socialista. Outra questão é que os recursos
humanos também são escassos: como tornar todos os professores bons professores?
Para tanto, é necessário elevar a média de um modo geral. Por fim, como
estabilizar as comunidades em que as crianças vivem? Para tanto, seria
necessário pacificar a sociedade como um todo.
Eu, pela
minha vivência como estudante, pai e professor, vejo que um aluno só aprende
quando há combinação de, basicamente três fatores: boa aula, exercícios
reforçadores do aprendizado em casa e avaliações periódicas que permitam criar
um feedback positivo entre o que é
ensinado e o que é aprendido. O professor que dá uma excelente aula mas não
cobra lição de casa, nem aplica provas, realiza apenas uma parte do seu
trabalho. A avaliação escrita é um estimulo para o aluno prestar atenção nas
aulas e estudar o conteúdo. A nota, um reforço positivo de que estudou bastante
ou de que precisa estudar mais. Para estudar mais, o aluno precisa praticar,
exercitar. O exercício deve ser realizado fora da sala de aula. Para tanto, é
necessário que este aluno tenha um ambiente propício a esta atividade.
Para
realizar sua atividade doméstica, o aluno necessita viver numa comunidade
estável, com uma família estável. Todos os adultos responsáveis que pagam suas
contas obedecem a uma rotina diária. As crianças e adolescentes também precisam
desta rotina. Elas necessitam de um espaço em casa para estudar, de um estímulo
dos pais para estudar e de um ambiente externo de incentive este estudo. Alguém
criado no meio de uma guerra civil, com tiroteios constantes, ou num ambiente
doméstico absolutamente desestabilizado, certamente terá muitas dificuldades em
preencher este requisito. Do mesmo modo se, ao estudar, a criança ou o
adolescente achar que está fazendo algo que só ele e mais ninguém no mundo está
obrigado a fazer.
Para
resolver esta questão do meio, é necessária uma pacificação social. Temos que
colocar um fim na guerra urbana que vivemos hoje, dando condições para que
todos vivam em relativa segurança e paz, principalmente dos ambientes doméstico
e escolar. A violência urbana, na minha opinião, é um dos fatores que degrada a
qualidade da educação em nosso país.
Uma
solução parcial para o problema do ambiente seria a implantação de ensino
integral, que reduziria o tempo ocioso das crianças em casa. O ensino integral,
no entanto, não poderia ser realizado do modo como ocorre hoje nas escolas
particulares e em algumas escolas públicas, em que o ensino convencional ocorre
num turno e o contra-turno serve a outras atividades. As disciplinas deveriam
ser distribuídas ao longo de todo o dia, intercalando atividades teóricas, como
matemática, gramática, história, a práticas, como esportes, culinária,
artesanatos, jardinagem, música e danças.
Por fim,
as provas: eu acho, particularmente, que as provas deveriam ser feitas e
aplicadas por terceiros, e não pelos professores que ministram as aulas. Isto
porque a avaliação deve ser independente, já que ao avaliar o aluno, avalia-se
também o professor. Atualmente, os professores podem se esconder atrás de suas
avaliações para forjarem uma imagem de muito rígidos ou muito benevolentes com
seus alunos. Avaliações independentes exporiam as fragilidades e deficiências
pedagógicas de cada professor.
As
questões de método, de filosofia pedagógica ou qualquer outra minúcia
pedagógica ficariam por conta dos conselhos escolares (formados pelos
professores) que procurariam encontrar a melhor forma de preparar seus alunos
para as avaliações. Em sua sabedoria, os mestres escolheriam os melhores
métodos, sendo que aqueles que falhassem sistematicamente em ensinar seriam retirados
do mercado por uma questão de seleção. Muita gente inapta, que permanece na
profissão apenas por contar com um cargo estável seria posta de lado, e gente
que deixou o ofício, talvez se visse estimulado a retornar às salas de aula.
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