Por Fernando R. F. de Lima.
O texto
de Sara Horowitz trata da volta do cooperativismo nos EUA nos dias de hoje, com
um sentimento crescente de desconfiança, por parte das pessoas, das grandes
empresas e dos governos como guardiões do bem estar social. Mas o “mutualismo”,
que poderia ser traduzido como cooperativismo também, não é apenas um meio de
combater o poder de mercado das grandes empresas. É também uma forma de
estimular a produtividade dos fatores (principalmente do trabalho) e de elevar,
desta forma, os salários de uma economia, seja regional ou nacional.
Por mais
que a lei da oferta e da procura influencie em grande parte o valor dos
salários pagos, há outro fator que impede o aumento dos salários de forma
ilimitada. A produtividade marginal do trabalho é, em última instância, a
principal determinante do aumento dos salários em uma economia. O conceito não
é muito simples de compreender, mas diz respeito à menor produtividade de um
determinado segmento da produção.
Aqui
deve-se fazer a ressalva de que muitos empregos não tem seus salários
determinados diretamente pela produtividade, porque sua produtividade é,
digamos assim, intangível. O salário dos professores, por exemplo, depende
essencialmente da produtividade marginal da economia. Ou seja, se um professor,
depois de somadas todas as vantagens e desvantagens de seu trabalho puder
ganhar mais dinheiro vendendo cachorro quente na esquina, é bem provável que
ele o faça; deste modo, o salário dos professores não pode ser tão baixo a
ponto de esvaziar todas as escolas, mas também não será muito alto se houver oferta
abundante de profissionais.
Mas como
o cooperativismo pode interferir no mercado? Analisando por partes, sem que uma
seja mais importante que a outra, a primeira via de interferência é pela
oferta. Por eliminar os rendimentos do capitalista, que pode ser uma única
pessoa, uma família ou ainda um grupo de acionistas, a cooperativa permite que
se cobre preços menores por seus produtos ao mesmo tempo em que remunera melhor
seus funcionários (cooperados).
A
segunda influência é pela via do mercado de trabalho: as cooperativas retiram
diversos trabalhadores do mercado, uma vez que eles se tornam acionistas da
cooperativa. Deste modo, eles reduzem a competição pelos empregos o que causa
uma restrição na oferta de braços a baixo custo. Mas nem só as cooperativas tem
este poder: os pequenos negócios familiares também causam este mesmo efeito.
Por isso os EUA além de ser a pátria das grandes empresas, é também o país dos
pequenos empreendedores.
As
lojinhas de bairro, que trabalham apenas com mão de obra familiar e estendem
suas jornadas de trabalho desde as primeiras horas da manhã até altas horas da
noite, como é o caso de tantas padarias, açougues, mercearias e salões de
beleza, reduzem a massa de desempregados e, por trabalharem com margens
estreitas, forçam as grandes redes a praticarem preços mais baixos. De certa
forma, os dois estados ótimos para uma empresa se reduzem a dois extremos: ou
elas se tornam grandes, para poder arcar com os custos que uma estrutura grande
proporciona; ou elas permanecem sempre pequenas. As exceções se dão nos novos
mercados, em que a inovação e as mudanças tecnológicas permitem que se criem
novos gigantes.
Uma
cidade pujante, com uma economia forte e um mercado de trabalho atrativo sempre
conta com um grande número de pequenos empreendedores. Porque, em geral, são
estes estabelecimentos que oferecem o primeiro emprego aos mais jovens, dão-lhes
alguma qualificação profissional, transmitem a ética do trabalho duro e,
justamente pelo contato com o trabalho duro e pesado por longas jornadas,
estimulam a qualificação profissional, para que estes jovens busquem as
profissões “do colarinho branco[1]”
no futuro.
Sem
contar que os pequenos negócios contribuem para que as cidades tenham mercados
competitivos, com bastante concorrência, principalmente nos serviços e no
comércio de gêneros alimentícios, fundamentais para elevar aquilo que se
compreende como “salário real”, ou seja, não apenas aqui que se ganha em
dinheiro, mas também o que se pode efetivamente comprar com aquele dinheiro no
mercado.
[1]
White Collar e Blue Collar era uma forma de diferenciar os funcionários de
escritórios, com camisa de colarinho branco, daqueles que trabalham na
indústria, com uniformes azuis, na cultura anglo-americana. Assim era fácil
diferenciar o trabalhador braçal dos outros.
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