MONSTERS OF ROCK E OS MONSTROS DA IDADE DA PEDRA
Por Fernando Raphael Ferro.
Não estou habituado a fazer comentários
escritos sobre a cena cultural, portanto peço aos leitores habituais desde já a
complacência pelas eventuais escorregadelas que possa tomar nas notas sobre o
show ocorrido na Pedreira Paulo Leminski em Curitiba nesta terça-feira dia 28
de abril de 2015.
A horda de desordeiros tinha um mínimo de
noções de inglês e se divertia pacificamente após seu horário de trabalho: os
“educadores”, semiletrados no vernáculo, tentavam depredar o patrimônio
público. Enquanto um efetivo de 100 policiais observou de modo sonolento a
horda de desordeiros, um exército de 1600 se debateu para conter fascistas
hidrofóbicos que tentavam a todo custo impedir a pauta de votações da
Assembleia pela força bruta.
Algo que sempre foi mal compreendido é que o heavy metal sempre foi música da working class. A elite sempre preferiu
coisa mais leve. O professorado paranaense, que recebe em média mais de R$ 4
mil mensais, encontra-se na Elite do Estado, não na classe C. Posso afirmar,
sem medo de errar, que estão na classe B, e nos casos de “endogamia” de classe,
na classe A, figurando entre o 1% mais rico da população. Esta elite, como toda
elite, quer mais: querem uma fatia ainda maior do orçamento estadual para si.

Agora volto ao show: o heavy metal traz consigo
uma mensagem quase anarquista em seu discurso: é a mensagem de pessoas cansadas
de carregar o Estado nas costas; mensagem de pessoas que querem chegar ao fim
do dia e tomar sua cerveja em paz, sem sucumbir ao peso da hipoteca. São hinos
da liberdade, da individualidade, da autoafirmação, da autodeterminação. Por
isso o heavy metal e o rock desde o início são quase sinônimos de juventude,
rebeldia, estradas, espaços abertos. Monsters of Rock mostrou que os homens que
protagonizaram esta cena do rock nos anos 1970 e 1980 envelheceram, mas
mantiveram um séquito de fãs; jovens, nem tão jovens e quase idosos. Mas
pessoas cientes da sua individualidade e liberdade.
Uma cena marcante foi uma senhora, na casa
dos 70 anos, pulando ao som de Paranoid durante o show do Ozzy. Pouco importa o porquê, ou o que significava. Ela
estava lá, fazendo o que lhe dava na telha. O odor misturado de tabaco, cerveja
e marijuana, em que pese o paradoxo
deste último entorpecente num show de heavy metal (me pareceria mais adequado a slice of yellow cake), mostrou que
cada um fez o que quis sem se incomodar com o outro. E o mais
impressionante: ninguém brigou. Ao final, marcharam cada um para suas casas
pacificamente.
Rob Halford, vocalista do Judas Priest |
Rob Halford ficou positivamente impressionado
com a resposta da plateia curitibana em seu show. Certamente, sua reação seria
oposta se soubesse o que a turba semiletrada tentara na Assembleia Legislativa
horas antes; pior ainda se soubesse do constrangimento a que tem submetido os
moradores do entorno do centro cívico, que são obrigados a passar por uma
revista de seus carros para “atestar” aos “manifestantes” que não estão levando
um deputado escondido no porta-malas. Mas são públicos diferentes. O Heavy
Metal, hoje, é apreciado pela nata cultural. Aos professores da rede pública
estadual, resta o sertanejo universitário.
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