DIDÁTICOS: IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER?
Por Fernando R. Ferro
Assim sendo, acho que se
torna necessário expor abertamente o que vem a ser a ideologia liberal, porque
ela é importante, porque me baseio nela para guiar meus discursos de fundo político
e econômico e porque acho que esta é uma ideologia para se ter de estimação.
Começo pelo básico. Toda ideologia se baseia numa crença. Por trás do
liberalismo há uma crença humanista na capacidade de todos os seres humanos de
buscarem o que é melhor para si. Sem acreditar nisso, fica difícil ser liberal.
Um liberal pensa diferente.
Ele acredita que os indivíduos são capazes de buscar seus próprios interesses
por conta própria, individualmente ou associados de forma espontânea. O papel
do Estado é apenas impedir o uso da coerção por parte de alguns indivíduos ou
grupos uns contra os outros e julgar e arbitrar os casos que não puderem ser
resolvidos de forma consensual. Quando o Estado ultrapassa estes limites, ele
começa a prejudicar a busca dos interesses pessoais dos indivíduos, tornando-se
um peso, um mal, que atrapalha o desenvolvimento da sociedade.
O liberalismo, parte,
portanto, de uma visão de igualdade entre os homens. Toma-se que todos são
iguais na sua capacidade de tomar decisões de acordo com seus interesses
particular, independente de estudo, idade, sexo, estado civil, riqueza, cor,
credo, ou quaisquer outros atributos individuais. Afinal, quantos homens bem
nascidos, dotados de estudo, riqueza, posses e boa posição social não fizeram
bobagens homéricas e acabaram na miséria? E quantos miseráveis não tomaram boas
atitudes e tornaram-se referência?
Buscando exemplos na cena
brasileira, poderíamos citar o próprio Luís Inácio Lula da Silva como exemplo
de homem bem sucedido pelo próprio esforço, apesar da ideologia na qual ele
milita pregar o exato oposto disto. Outro exemplo é o Silvio Santos, que do
nada construiu uma grande rede de comunicação. Eike Batista é o exemplo oposto,
de bem sucedido e nascido empresário, tornou-se símbolo nacional do fracasso,
depois de sucessivas decisões erradas. O infortúnio e ou o logro destas
personalidades ilustra que a sina pouco se apega aos antecedentes, mas depende
muito dos próprios atos.
Um Estado forte,
assistencialista, paternalista, que buscasse conservar todos em seus
respectivos lugares, jamais teria permitido que estes cidadãos tivessem
conhecido a sorte ou a penúria. A mãe de Lula jamais teria deixado o
semi-árido. Silvio Santos seria até hoje um pequeno comerciante. Eike Batista
um rico empresário, nunca um bilionário, e nunca teria falido. O Estado, de
modo paternal, impediria o sofrimento extremo que levou aquela senhora migrar
com os filhos, mas também impediria os excessos que levaram a criação extrema
de riqueza de Abravanel e posteriormente Eike Batista. Do mesmo modo,
asseguraria que negócios de risco não fossem realizados, para impedir a
deterioração de patrimônios, e proteger investidores.
O Estado brasileiro atual
já atua de modo a minimizar os riscos de novos jogadores apareçam no cenário e
ameacem a ordem estabelecida. Basta que olhemos o modo como as coisas estão. Quantos
novos ricos despontaram na última década sem auxílio do governo? Quando
dinheiro do BNDES foi alocado de modo a impedir bancarrotas? Quanta legislação
criada para proteger o mercado da concorrência externa? Tudo isso porque o
paternalismo é cada vez maior. Há benefícios reais para população? A vida
melhora, mas porque os indivíduos continuam atuando.
Continuam se associando
livremente e buscando alternativas para os problemas que os afligem. Mas as
iniciativas estatais certamente contribuem para sufocar e restringir a
liberdade e limitar o potencial criativo. Ou seja, sem o paternalismo estatal,
a vida melhoraria ainda mais. Esta é a crença liberal. Não há provas
científicas disso, porque em ciências sócias não existem laboratórios. Mas
vemos países onde a economia é mais livre e percebemos que a qualidade de vida
da população é melhor. Baseados nisso, imaginamos que nossa vida poderia ser
melhor se nosso país fosse mais livre também. Ideologia, no fundo, é também uma
profissão de fé. E é nisso que acredito. Devemos trabalhar e lutar para que
tenhamos mais liberdade de ação, restringido a ação do Estado para seu dever
essencial: garantir a ordem, a paz social, monopolizando o poder de coerção.
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