O PAPEL DOS PEQUENOS NEGÓCIOS
Por Fernando R. F. de Lima.
Quando pensamos na
economia como um todo, pode ser contraproducente imaginar que pequenos negócios
possam ser bons para a economia. Afinal, quando se fala em aumento da
produtividade, logo se imagina um ganho proporcionado por economias de escala
ou pelo emprego de máquinas que, por sua vez, acabam sendo inviáveis em
pequenos negócios. No entanto, eles exercem uma função extremamente importante
em qualquer economia, seja nas menos desenvolvidas, ou naquelas mais
desenvolvidas.
Um fato pouco compreendido
através da análise da revolução industrial é que o emprego de máquinas capazes
de automatizar o trabalho e de linhas de montagens foi o que permitiu que
trabalhadores sem nenhuma ou muito pouca qualificação fossem empregados
produtivamente nas cidades. Na era pré-industrial, o camponês típico era talvez
o profissional mais desqualificado que havia. Mas mesmo o camponês era, muitas
vezes, capaz de atividades que hoje são impensáveis para a maioria das pessoas.
Um camponês, certamente, sabia produzir queijo a partir do leite, farinha a
partir do trigo, produzir pão, conservas de frutas, salsichas e presuntos para
melhor conservar os alimentos. Este tipo de conhecimento, contudo, era passado
de geração em geração.
A revolução industrial
mudou este panorama. Permitiu que qualquer um, com um mínimo de supervisão
fosse capaz, por exemplo, de montar uma cadeira, fazer um prego, uma ferradura,
trabalhos antes restritos a artesãos altamente qualificados. Mas revolução
industrial, apesar de ter reduzido a participação do artesanato e dos pequenos negócios
na geração de valor adicionado na economia, não deixaram de existir e nem de
cumprir um importante papel na sociedade.
Atualmente, os pequenos
negócios, apesar de não tirarem proveito dos aumentos de produtividade causados
pela massificação, padronização e repetição de processos, permitem outro tipo
de ganho de produtividade: produzir mais renda num espaço menor empregando
relativamente pouco capital.
Podemos ilustrar a
diferença pensando num pequeno armazém de esquina e comparando sua eficiência
com uma grande rede de varejo. No primeiro caso, temos geralmente um negócio
familiar, comandado pelo próprio dono e mais um ou dois funcionários, que
muitas vezes são membros da família. Estas três pessoas estarão encarregadas de
atender ao público, controlar os estoques, realizar a limpeza da loja, receber
os pagamentos e todas as demais atividades que estiverem relacionadas com o
andamento da loja. Para concorrer com um supermercado, sua vantagem não poderá
residir no preço: será o serviço prestado o diferencial. Este diferencial pode
se manifestar por um horário de atendimento mais amplo e flexível que o do
supermercado, ou pela presença de produtos de melhor qualidade nas prateleiras.
O preço maior também será
compensado por atendimento mais personalizado, um ambiente mais silencioso,
menor perda de tempo, maior comodidade por estar perto da casa do cliente. E
além de poder cobrar mais por unidade, ele terá um faturamento por metro
quadrado e por funcionário que certamente será superior ao do grande varejista.
As pessoas que montam os
próprios negócios têm motivações várias: ausência de patrão, controle sobre o
próprio tempo, melhor retorno em relação ao que obteria trabalhando no mercado
em outra profissão ou na mesma. Em outras palavras, o pequeno empresário deixa
de fazer parte do estoque de empregados e torna-se um empregador. Com isso, ele
deixa de pressionar os salários para baixo, uma vez que diminui a oferta de
trabalhadores e a procura por trabalho.
Pode parecer um efeito
pequeno, aquele realizado por uma única pessoa, mas quando pensamos numa grande
cidade, com milhares de pequenos empresários, logo nota-se que o impacto acaba
sendo grande. Isto porque, numa economia que se desenvolve de forma constante e
saudável, a tendência a empregar grandes máquinas ao invés de muitos
funcionários tende a se acentuar na indústria. Com isso, ao longo dos anos, a
produtividade do trabalho aumenta até um ponto em que começa a dispensar
trabalhadores ou que permite que o número de vagas cresça abaixo do crescimento
da produção.
Produzir mais com menos
gente levaria a um maior número de profissionais disponíveis no mercado e,
consequentemente, a salários mais baixos. No entanto, o que se observa é
exatamente o contrário. À medida que um setor industrial se consolida numa
região, os salários neste setor sobem, ao invés de cair, mesmo que a
produtividade aumente. Isto acontece como resultado da atuação dos pequenos
empreendedores. Ao partirem para a abertura de num negócio próprio, muitas
vezes com a experiência ou o capital adquirido durante os anos em que trabalhou
como empregado, este trabalhador vai restringir a oferta de mão-de-obra. Se não
puder concorrer em produtividade do trabalho com grandes empresas, ele
oferecerá serviços diferenciados, produzirá mais num menor espaço, utilizará
melhor os recursos, diminuirá o desperdício ou ainda trabalhará mais horas, o
que era impossível quando empregado por causa das restrições trabalhistas.
De fato, o dono da padaria
normalmente trabalha muitas horas a mais por dia do que o empregado da fábrica
de panificação. Da mesma forma o mecânico, na comparação com o metalúrgico de
uma planta automotiva. As motivações financeiras, sociais e psicológicas que
explicam este comportamento individual não são de fato relevantes para
compreendermos que a principal função que os pequenos negócios cumprem é de
reduzir o estoque de empregados e impedir a queda dos salários causada pelo
emprego de máquinas.
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