A VERDADEIRA VANTAGEM DAS FAIXAS EXCLUSIVAS PARA ÔNIBUS
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Por Fernando R. F. de Lima.
Marcos
Cintra, no editorial da Folha de S. Paulo de hoje, 27 de dezembro, apontou que
segundo seus levantamentos, as faixas exclusivas para ônibus, apontadas por
este blogueiro como a única coisa boa que Haddad fez em São Paulo até agora,
aumentaram os custos com congestionamentos de R$ 40 bilhões para R$ 42 bilhões,
uma vez que apesar de ter reduzido o tempo de deslocamento de 15% dos cidadãos
que se locomovem diariamente, aumentou o tempo perdido dos 85% restantes.
Não
contesto os dados de Marcos Cintra primeiro porque desconheço sua metodologia,
depois porque não possuo dados que me permitam refazer a conta, mas tomo, a
princípio, como verdadeiro seu raciocínio. E aqui entra a razão deste texto. Na
verdade, o objetivo maior das faixas exclusivas para ônibus não é aumentar a
velocidade dos coletivos; seu objetivo maior é aumentar a capacidade do
transporte coletivo. Obviamente, isto é possível devido a dois fatores:
possibilidade do emprego de veículos maiores e menor tempo de deslocamento ao
longo do trajeto.
O
primeiro ponto é simples: quanto maior o veículo, maior será sua dificuldade de
se locomover em meio a outros veículos. Ainda mais no caso de veículos sobre
pneus. Os trens conseguem, por andarem em trilhos, ter margens de tolerância
menores em relação ao espaçamento lateral. No caso dos ônibus, manter uma linha
reta depende da perícia do motorista, da qualidade do pavimento, das
características de geometria da suspensão e, se tudo não bastasse, de todas
estas características relativas aos outros veículos que compartilharão a via. A
segregação dos ônibus, neste caso, permite maior liberdade de movimentos destes
veículos e consequentemente a possibilidade de empregar veículos maiores sem
perda de mobilidade ou prejuízos à segurança.
O
segundo ponto, é que quanto mais rápido um ônibus realizar seu trajeto, mais
veículos caberão na mesma via num mesmo intervalo de tempo e, consequentemente,
mais passageiros poderão ser transportados. Portanto, a implantação de vias
exclusivas (o que significa sem taxis dividindo a pista), teria o efeito
duplamente benéfico de aumentar a capacidade tanto pelo aumento da velocidade
como pelo aumento dos veículos, aspecto duplamente vantajoso. O objetivo todo
da política deve ser, portanto, aumentar a capacidade do sistema de transporte,
não apenas aumentar a velocidade.
O
problema de São Paulo, no entanto, é que os ônibus e o sistema de metrô
encontram-se saturados. Deslocam muito mais gente do que seria a capacidade
ideal do sistema. As pessoas vão apinhadas nos ônibus e vagões, e um aumento na
capacidade, muitas vezes, só faz atender melhor quem já usa o sistema. Por
isso, medidas que melhoram a baixíssima qualidade do transporte de péssima para
muito ruim não possuem o efeito de conquistar novos adeptos para o sistema de
transporte coletivo. O resultado é que poucas pessoas passam a ter um serviço
melhor, enquanto a grande maioria sai no prejuízo.
No
entanto, a implantação de vias exclusivas, com o objetivo de ampliar a
capacidade do sistema de transporte coletivo, é algo que vale a pena ser
perseguido, ainda mais em São Paulo. Isto porque, no longo prazo, estas medidas
tornaram o transporte coletivo suficientemente aceitável, a ponto de tornar
tanto o tráfego de automóveis quanto o de coletivos melhor. No caso de São
Paulo, isto implicará não apenas faixas exclusivas, mas mudanças nos ônibus,
novas linhas de metrô e (por que não?) mais viadutos, túneis, pontes e quiçá
até elevados para os veículos leves. Provavelmente a conclusão do rodoanel será
uma grande medida para melhorar o trânsito na cidade de São Paulo, pois irá reduzir
o trânsito de passagem. Mas muito deverá ser feito para reduzir os custos que
os congestionamentos implicam para os habitantes da cidade de São Paulo.
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