ESTIMATIVA DOS CUSTOS DE TRANSPORTE EM CURITIBA
Pague uma passagem e leve um passageiro de graça |
Por
Fernando R. F. de Lima
Há tempos
venho discutindo neste blog questões referentes ao preço da tarifa de ônibus em
Curitiba. Algumas das soluções propostas acabam ficando apenas no sentido da
proposição, uma vez que não havia até então uma estrutura de cálculos que
permitisse ao autor montar cenários dizendo onde deveriam se concentrar as
ações visando otimizar os custos do sistema de ônibus. Por conta disto, de
posse de informações da URBS, disponibilizadas pela comissão de investigação da
tarifa, utilizei uma metodologia própria para chegar aos custos do sistema
utilizando como parâmetro as informações e preço dimensionados pela URBS[1].
Minha planilha ficou mais aberta que a da URBS porque eu tinha interesse em
fazer simulações de como ficaria o preço da tarifa montando alguns cenários
diferentes.
Acredito
que estas questões são de suma importância tendo em vista a repercussão que o
custo tarifário teve nos últimos meses, com diversos protestos, tanto fora como
dentro de Curitiba, além de diversas ações, incluindo a do Governador, no
sentido de subsidiar o sistema para manter a tarifa baixa. Assim sendo, fiz algumas
simulações de custo utilizando como referência os dados que eu detinha. A tabela 1
permite verificar o resultado do preço atual e outros três cenários (tabela 1).
TABELA 1 - CUSTOS
DO TRANSPORTE COLETIVO – SIMULAÇÕES
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CENÁRIOS
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CUSTO DA TARIFA
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S/Imposto
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C/Imposto (23%)
|
C/Subsídio
|
Diferença (%)
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Custo da Tarifa Atual
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2,43
|
2,99
|
2,70
|
10,7
|
S/ rem. do capital
|
2,26
|
2,78
|
2,51
|
7,7
|
Sem gratuidade
|
1,21
|
1,49
|
1,35
|
100,5
|
Sem cobrador
|
2,27
|
2,79
|
2,52
|
7,2
|
FONTE: URBS
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||||
ELABORAÇÃO: AUTOR
|
Nota-se
que sem considerar os impostos, o preço da tarifa de ônibus seria de R$ 2,43,
ao invés dos R$ 2,99 que é seu custo total. Para chegar a R$ 2,70 é necessário
um subsídio de 10,7%. Outra questão relevante é o impacto do lucro dos
empresários na composição da tarifa: sem o lucro dos empresários, descrito como
remuneração do capital, o preço da passagem seria de R$ 2,78, ou R$ 2,51 se
recebesse o mesmo subsídio, uma diferença de 7,7% em relação à tarifa cheia.
Seu impacto seria praticamente o mesmo do existente em caso de eliminação da
figura do cobrador de ônibus, que acarreta uma redução de 7,2% no custo do
transporte. Sem este funcionário o ônibus custaria R$ 2,79 ou R$ 2,52 com o
subsídio.
Agora
o mais importante de tudo: removendo a gratuidade da conta, que inclui as
passagens gratuitas dadas a doentes, idosos, operadores do sistema, carteiros e
policiais, além da meia passagem a estudantes, a passagem de ônibus passaria a
custar R$ 1,49, ou R$ 1,35 com o subsídio. No sistema de ônibus de Curitiba,
apenas 50% dos usuários do transporte pagam a passagem, pode conferir aqui.
Isso significa que os usuários pagantes pagam o dobro do que deveriam para
manter as gratuidades do sistema. Se as gratuidades fossem todas abolidas, os
estudantes beneficiados continuariam pagando o mesmo preço; já os demais
usuários que nada pagam, se parassem de utilizar o sistema de ônibus, nada
mudariam em relação ao que é arrecadado, mas a lotação seria reduzida à metade
(o que melhoraria significativamente a qualidade do sistema).
Portanto,
caro leitor, na próxima vez que alguém levantar a bandeira pelo passe livre,
pergunte-se se não seria melhor pedir que todos pagassem a tarifa, para que o
transporte ofertado fosse de boa qualidade e mais barato que o atual.
[1] Quem
tiver interesse na planilha, pode solicitar o acesso postando um comentário no
blog que eu repassarei por e-mail.
Comentários
Sistemas de faturamento exigem aferições regulares e verificações de conformidade, segurança, repetibilidade etc. enfim, confiabilidade. Além disso, como inflaram a tarifa técnica colocando ônibus muito caros sem consulta pública? Casos desse tipo precisam ser minuciosamente debatidos com os usuários do sistema.