A URBS IRÁ SE RENDER À MULTIMODALIDADE?


Por Fernando R. F. de Lima.
Em notícia do jornal Metro, em Curitiba, no dia 19 de julho, foi anunciado que a URBS, companhia responsável pelo transporte coletivo em Curitiba irá estudar a possibilidade de criação de estacionamentos para carros, motos e bicicletas nos terminais, como forma de diminuir o tráfego no centro da cidade e de aumentar o número de usuários do sistema. Antes de ser uma novidade, este plano apenas repete aquilo que venho dizendo há tempo neste blog, mas mais que isso, reflete o uso do bom senso na gestão do transporte.
Todo mundo que usa ônibus saber que o problema maior da rede de transporte integrada de Curitiba reside nos chamados ônibus alimentadores que levam os passageiros dos bairros até os terminais. O tempo de espera e a frequência destes ônibus geralmente é desmotivadora o bastante para justificar o uso do automóvel particular. Uma vez que não há qualquer possibilidade de estacionar junto aos terminais, a solução acaba sendo completar o trajeto inteiro dirigindo.
A criação de estacionamentos que atuem em conjunto com os terminais deve ser feita de modo a obedecer duas premissas básicas: a soma do valor cobrado pela diária e a passagem de ida e volta deve ser menor numa intensidade tal que compense o custo relativo de se usar o carro no trajeto todo, o que inclui o preço do estacionamento somado ao combustível. Atualmente, em Curitiba, os estacionamentos particulares cobram diárias entre R$ 15,00 e R$ 20,00 e a gasolina custa, em média R$ 2,69. Tomando 10 km/l como referência de consumo de um automóvel “popular”, e um deslocamento médio de 20 km por dia, pode-se afirmar que o custo percebido (sem contar depreciação, seguro e custo de oportunidade) seria de R$ 17,50 + R$ 5,40, ou seja, R$ 22,90 por dia.
Com a passagem custando R$ 2,70 (R$ 5,40 ida e volta) a diária cobrada nos futuros estacionamentos da URBS não poderia exceder os R$ 15,00 para ser vantajosa. Certamente, o preço da passagem somado ao estacionamento deveria ser próximo aos R$ 15,00, já que a diferença de aproximadamente 35% seria necessária para compensar a “desutilidade” de trocar de modal.
Obviamente, a iniciativa seria ainda menos vantajosa para pessoas que se deslocam de motocicleta, mas certamente contribuiria muito para popularizar o uso da bicicleta, uma vez que em trajetos curtos (até 5 km), o ciclista não cansa nem sua, além de ser mais rápido que o tempo de espera somado ao deslocamento do ônibus alimentador. Para isso, as ruas dos bairros teriam que ser adaptadas para o uso da bicicleta, com sinalização adequada informando os motoristas do uso compartilhado da via com ciclistas.

Esta, certamente, é uma iniciativa muito interessante por parte da URBS, mas que esbarra na necessidade de ser bem planejada para funcionar. No caso das bicicletas, o estacionamento deveria ser coberto, preferencialmente gratuito, além de poder contar com a possibilidade de estadia da bicicleta, para o caso de o passageiro ir de manhã num dia de sol e encontrar um típico temporal ou garoa curitibanos na volta. Em Amsterdam, cidade notável pelo grande número de bicicletas, chama atenção o grande número de bicicletas abandonadas, cujas histórias de abandono devem ter um início semelhante ao descrito anteriormente.

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