Tendências Perigosas no meio liberal
TENDÊNCIAS PERIGOSAS NO MEIO LIBERAL
Por Fernando R. F. de Lima
Já faz mais de 10 anos que eu convivo com pessoas do meio liberal, o que significa praticamente minha vida inteira de leituras e escritas. Por outro lado, faz mais ou menos o mesmo tempo que eu convivo com pessoas não-liberais, onde podemos abrigar desde socialistas maoístas até os social-democratas, o que significa toda minha vida acadêmica. Venho de uma família em que a política nunca foi o assunto mais importante do dia, mas ainda assim uma família anti-Lula e PT. Isto, contudo, nunca fez com que meus pais segurassem cartazes por cortes de impostos, ou os impedisse de me colocar para estudar numa escola pública.
Passada a fase em que eu achava que o liberalismo era a solução para todos os problemas do mundo, comecei a entrar numa fase mais realista sobre assuntos políticos e econômicos, mesmo porque à medida que o tempo foi passando, eu fui estudando e lendo mais e mais e tendo consciência das coisas que são possíveis de se alterar por meio de canetadas e das outras que demandam mudanças culturais. Ainda sou um liberal e tenho várias divergências com os social-democratas e socialistas. Mas o único ponto que defendo como princípio básico é a democracia representativa como sistema de governo.
Feita esta apresentação, passo para o comentário sobre alguns posicionamentos perigosos que vejo sendo defendidos pelos liberais-conservadores, que às vezes muito preocupados com a defesa da liberdade e da propriedade de cada um, acabam se excedendo em considerações e defendendo coisas absurdas. Uma delas é a limitação por meio do estado dos direitos de alguns grupos sociais. O caso mais evidente, obviamente, é o da controvérsia a respeito da liberação ou não do direito dos homossexuais adotarem crianças. A posição majoritária entre os soi-disant liberais é ser contra a esta ampliação da liberdade destes indivíduos. Da mesma forma, são contrários, em grande maioria, à liberação da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Minha opinião é que está é uma posição completamente equivocada e antiliberal.
Equivocada porque sendo liberais e defensores da liberdade, deveríamos sempre nos posicionar a favor do tratamento igualitário e não discriminatório em relação a quaisquer grupos. Já existe em nossa legislação uma separação clara entre o que vem a ser o casamento religioso e o que é o casamento civil. A união civil ou casamento civil é um procedimento que tem por objetivo gerar direitos de herança e sucessão, bem como proteção previdenciária e de saúde. Sendo a herança propriedade de cada indivíduo, não deveria haver quaisquer objeções à forma como as pessoas querem dispor de seus bens após sua morte, de modo que não há razão para impedir o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Da mesma forma no que condiz ao direito de ter uma família, uma vez que o estado entende família como sendo uma unidade de consumo, ou seja, um grupo de indivíduos que partilham de um mesmo orçamento.
A outra questão é sobre a adoção: oras, é melhor que os órfãos sejam entregues ao estado e seus orfanatos ou a indivíduos saudáveis, com estabilidade financeira e que desejam constituir uma família? A opção pelos indivíduos me parece muito mais lógica para um racional que a opção pelo estado. No fundo, os estatólatras é que deveriam se posicionar contra a adoção de modo geral, já que o estado é melhor que os indivíduos em todos os assuntos, na opinião particular deles. Mas não paramos por aí. Outros posicionamentos, alguns até assustadores, acabam sendo defendidos por liberais.
A última que vi, foi o posicionamento contra a lei que visa condenar o hábito cultural muito difundido de distribuir palmadas em crianças. Obviamente, uma palmada no traseiro não chega a ser um ato de agressão que deve ser erradicado da superfície do planeta, mas sabemos que muitos pais se excedem no castigo e acabam, muitas vezes, causando traumatismos graves em seus filhos, em nome da boa educação. Hoje em dia, parece absurdo proibir os pais de educar seus filhos utilizando este tipo de argumento, mas em outros tempos era igualmente visto como absurda a proibição de que o marido desse umas bofetadas numa esposa "travessa". Também já foi costume o chamado crime de honra, que isentava de punição o homicida que matasse sua esposa caso ela fosse comprovadamente adultera.
A supressão da agressão física e psicológica como instrumento de disciplina moral tem sido uma tendência no ocidente civilizado. Há vários estudos históricos que comprovam que a violência física vem diminuindo com o passar dos séculos, num cálculo proporcional (ou seja, número de homicídios, por exemplo, por grupo de mil ou 100 mil pessoas, por exemplo), por mais que em algumas sociedades específicas, estes índices de violência tenham aumentado por alguns períodos. Desta forma, proibir o uso da agressão física como meio de "educar" crianças representa um avanço, não um retrocesso social. Mas alguns liberais acham que isto é uma intromissão na vida alheia, uma tentativa de destruição da família.
Há mais exemplos: se posicionar contra as campanhas antitabagistas, defendendo grupos industriais cartelizados que passaram meio século tentando sabotar o direito de escolha dos consumidores e eleitores; defesa do "direito" de dirigir alcoolizado, um comportamento de risco para toda sociedade, ameaçando inclusive direito mais fundamental de todos, o direito à vida. Estas são apenas algumas amostras de posicionamentos que eu julgo completamente equivocados e inclusive contrários ao que imagino como liberalismo.
Concluindo, ser liberal não pode se resumir a uma postura negativa a qualquer tipo de intervenção estatal, mas antes se pautar por uma postura de lutar de forma positiva pela ampliação das liberdades individuais e do poder de escolha dos indivíduos, tendo como referenciais, em todas estas lutas, o direito à vida, à propriedade e à busca pela felicidade.
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Por um mundo mais livre e melhor!
Comentários
É uma distorção de uma boa causa que muitos liberais acabam engolindo sem perceber.
Fernando, desculpe mas discordo terminantemente. Essa medida do governo tira dos pais a autoridade, pois ficam limitados a agir conforme uma lei e não de acordo com a sua funcão de educador primeiro. Por conseguinte, sob o ponto de vista dos valores sociais, democráticos, o autoritarismo do governo é uma manifestacão degenerativa da autoridade dos pais.
"Mas alguns liberais acham que isto é uma intromissão na vida alheia, uma tentativa de destruição da família."
Destruicão já é um exagero, mas convenca-me de que não se trata de uma intervencão dentro da estrutura familiar.
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Saudades de você !
Um abraco !
Angel.
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Angel...
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Não estou muito certo de até onde educar implica agressão física. Nas escolas a agressão física foi eliminada a custa de muita gritari. Mas nos países ditos desenvolvidos, esta limitação do poder dos professores não significou queda na qualidade da educação, tampouco aumento da violência doméstica contra crianças. Sinceramente, acho que bater pode não ser o melhor método para educar. Obviamente, como a educação doméstica também depende do entorno social, pode-se dizer que ela pode ser quase que indispensável as vezes, bem eventualmente, como forma de marcar a autoridade dos pais. Mas acho que é um costume que pode ser suprimido para o bem de todos.
Por fim, cursos de "educação" para pais fornecidos pelo estado me parecem mais absurdos que a lei e sua proibição. Quem quiser aprender a educacar que compre um manual numa livraria, ou melhor, vários manuais. Ou ainda frequente seções de psicologia infantil.
Abraço, escreva sempre.
Fernando R.
Na minha opinião bater não implica, absolutamente, em educar ( objetivo ) mas implica na questão da disciplina ( método ).
"Sinceramente, acho que bater pode não ser o melhor método para educar. Obviamente, como a educação doméstica também depende do entorno social, pode-se dizer que ela pode ser quase que indispensável as vezes, bem eventualmente, como forma de marcar a autoridade dos pais."
Concordo.
"Mas acho que é um costume que pode ser suprimido para o bem de todos".
Suprimido às custas de uma lei imposta ou às custas da liberdade de buscarmos conhecimento em um exaustivo estudo comportamental dos pais para com os filhos e suas relacões ( quase sempre conflitantes ) ?
"Por fim, cursos de "educação" para pais fornecidos pelo estado me parecem mais absurdos que a lei e sua proibição."
Se você pensa assim a respeito dessa possibilidade "educacional" do Estado, não vejo motivos apoiar essa lei, que no fundo objetiva ditar as regras metodológicas a um pai/mãe de família através de meios coercitivos.
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Obrigada pela acolhida.
Um abraco,
Angel.
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