INVESTIMENTO É A ÚNICA SOLUÇÃO
Por Fernando R. Ferro

Mas devemos atentar a algumas questões importantes:
O Brasil, desde o início da quinta república, tem sido um país com baixas taxas
de investimento. O setor privado investe pouco e o investimento público
dependeu, historicamente, das ações da Petrobrás. Desde 2014, o investimento da
Petrobrás praticamente cessou, e com isso, a Formação Bruta de Capital Fixo no
país despencou. Além disso, informações preliminares do IBGE apontam para queda
de 40% nos investimentos do setor público no ano 2017, o que certamente deve
levar a taxa de investimento para o menor nível da história do país.
A matéria do Estadão aponta que a construção
civil, setor mais atingido, encontra-se ainda 27% aquém do registrado no começo
de 2014, seguida a indústria, 16,7% abaixo. Serviços e varejo encontram-se
11,7% e 5,8% abaixo dos níveis de 2014, com quedas um tanto mais discretas. No
entanto, falar em capacidade ociosa em setores como construção civil no Brasil
soa quase como uma heresia, da mesma forma no setor de serviços.
O PIB Brasileiro em 2017, de acordo com o IBGE
foi de R$ 6.559 bilhões. A Formação Bruta de Capital Fixo foi de 15,6%, abaixo
dos 16,1% registrados em 2016. Isso implica um montante de R$ 1.023 bilhões investidos
pelos setores público e privado. Para uma taxa de FBCF de 25%, o país deveria
ter investido cerca de R$ 1.639 bilhões. O cenário é ainda pior quando se pensa
que o investimento público em infraestrutura chegou a R$ 31 bilhões, ou 0,47%
do PIB.
Pra se ter ideia do que isso representa, o país
deveria, segundo estimativas conservadoras, ter investido cerca de 1,5% do PIB
em Infraestrutura, ou seja cerca de R$ 98,4 bilhões. Nosso déficit anual de
investimento tem ficado na casa de R$ 67,4 bilhões. Novamente colocando em
perspectiva esse número, o valor é maior que todo o orçamento do Governo do
Estado do Paraná.
No ano de 2014, que foi o ano em que mais se
investiu em infraestrutura como percentual do PIB, esse montante chegou a 1% do
PIB, ainda assim abaixo do necessário para que o país tivesse ganhos reais em
termos de superação de gargalos em infraestrutura. Nossa falta de investimento
é um dos motivos da baixa produtividade no país, e também é uma das razões
pelas quais a construção civil anda patinando. Da mesma forma, as indústrias de
máquinas e equipamentos, que afinal servem para suprir as necessidades das
construções.
Num país carente como o nosso em tantas áreas,
como pode o investimento ter caído tanto? E numa situação em que as taxas de
juro atingem os menores patamares da história, como justificar que os
investimentos se mostrem tão pouco atrativos? Uma das justificativas poderia
ser a insegurança jurídica, como apontam vários analistas. Mas será que o país
apresenta hoje uma insegurança jurídica maior que 1995, no primeiro ano do
plano real, como se iniciaram as concessões? De fato, é difícil de acreditar nesta
tese.
Além disso, por pior que pareça o cenário futuro,
a nossa situação ainda parece mais distante da insolvência que em 1998, quando
o governo federal teve que recorrer ao FMI para poder pagar suas contas. E a
crise no exterior ainda é menor do que a nos atingiu em 2009, no auge da crise
imobiliária nos EUA e Europa. Ou seja, estamos numa situação fiscal, política e
econômica que não é tão desesperadora quanto parecia em outros momentos da
nossa história recente. O que talvez tenha mudado é o nosso ânimo em acreditar
no país.
A taxa de desemprego anda estavelmente elevada,
rondando os 13%, com uma taxa de subocupação da mão de obra igualmente elevada,
ultrapassando os 25%. Isso significa pouca renda disponível para o consumo.
Alguns reclamam da liquidez nos investimentos, mas o fato é que o crédito está
caro. Os juros para aquisição de imóveis, por exemplo, estão mais elevados do
que estiveram em 2013/14, sem sinal de que irão cair. O número de imóveis
desocupados é grande e apesar disso, as favelas não param de crescer.
A única saída viável para o país é entrar num
novo ciclo de crescimento guiado por investimentos, tanto da parte do setor
público quanto do setor privado. Mas investimentos que permitam um efetivo crescimento
da produtividade. Oportunidades, obviamente, não falta. Há possibilidade de se
investir em Portos, Ferrovias, Rodovias, Transporte Urbano, habitação social,
infraestrutura urbana, incluindo saneamento básico, melhorias da malha viária,
hospitais, escolas, além da recuperação de ativos degradados.
O orçamento da Prefeitura de Curitiba, pra
ficar no exemplo mais próximo da gente, prevê gastos na ordem de R$ 127 milhões
na rubrica “Urbanismo”. Isso dá 1,3% do orçamento (de R$ 9 bilhões), e 0,14% do
PIB do município. Obviamente, dentro dessa rubrica está tudo que será gasto com
a manutenção de vias, parques, mobiliário urbano e também investimento
propriamente ditos. Estas despesas levam a crer que Curitiba os investimos em
infraestrutura ficaram, provavelmente, abaixo de 0,1% do PIB do município.
Uma das obras previstas para o município, cujo
início deveria ter sito em outubro de 2018, era a Trincheira da Avenida N.S. da
Aparecida, com orçamento estimado em R$ 12 milhões de reais. Isso significaria
aproximadamente 10% da verba total destinada a “Urbanismo” na cidade. No
entanto a obra não foi iniciada, e recentemente a prefeitura cedeu à pressão
populista e concedeu um subsídio de R$ 50 milhões de reais ao transporte
coletivo, para não ter que aumentar os preços temporariamente.
Deve-se imaginar que os R$ 50 milhões saiam do
dinheiro destinado a investimentos na infraestrutura urbana, que obviamente
ficaram para um segundo plano. Mas quando se analisa a quantidade necessária de
investimentos em infraestrutura aplicando a proporção desejável de 1,5% do PIB
(e não do orçamento da prefeitura), o ideal seria que víssemos investimentos da
ordem de R$ 1,25 bilhões por ano na cidade, o suficiente para realizar 100
obras de trincheiras equivalentes a da Avenida N. S. Aparecida ou ainda
construir o tão adiado como prometido e virtualmente impossível metro de
Curitiba, cuja operação certamente se viabilizaria com subsídios da ordem de R$
90 milhões de reais/ano.
Investimentos desta magnitude representariam
pouco mais de 15% do orçamento anual da prefeitura, e seriam equivalentes ao
que é aplicado todos os anos para custear os cambaleantes sistemas de saúde
pública, ou ainda de educação. Mas os resultados em termos de geração de renda
e ganhos de produtividade na cidade seriam certamente muito mais visíveis,
ainda mais se colocarmos em perspectiva o fato de que parte deste investimento
em infraestrutura beneficiaria diretamente as condições de saúde da população.
Afinal de contas, a ausência de saneamento básico ainda é uma das questões que
afeta a saúde pública, mesmo numa cidade altamente civilizada como Curitiba,
onde periferias ainda convivem com córregos e esgoto não tratado.
Pode-se verificar, portanto, que talvez não
seja necessária a criação de projetos mirabolantes para viabilizar o
crescimento do investimento no país. A questão é como reordenar o orçamento
público de modo a fazer com que ao menos 1,5% de tudo o que o país produz se
torne investimento em infraestrutura. No caso do Paraná, com um PIB de R$ 404
bilhões em 2016, esse montante seria equivalente a investimento da ordem de R$
6 bilhões de reais por ano, suficiente para construir a nova ferrovia de
Paranaguá a Guarapuava, ou então para duplicar o equivalente a 606 km de
rodovias por ano (a extensão da BR-277). Por aí é possível perceber a dimensão
do déficit em infraestrutura que temos.
Mas também é possível vislumbrar a economia que
teríamos caso essas obras fossem realizadas. Menos horas de trabalho perdidas
com congestionamentos, menor consumo de combustível, maior eficiência no
transporte de cargas, menos doenças, mais horas de trabalho e menos gastos com
doenças. Enfim, uma economia mais produtiva. Tudo isso levaria a maior renda
disponível para consumo, mais empregos e maior confiança de que o futuro seria
melhor que o presente.
No entanto, estamos amarrados ao presente
tenebroso que indica que menos de 0,4% de tudo que o país produz pode ser
investido em infraestrutura necessária para crescer, o que significa que mal
podemos atender a demanda da população que crescer, quanto menos sonhar em nos
tornar um país mais próspero no futuro.
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