DISCUTINDO COM IGNORANTE



 

Por Fernando Raphael Ferro.
Entre ontem e hoje me envolvi numa discussão boba com um professor rastaquera do ensino público da rede estadual do Paraná. Isso porque a filha de uma amiga foi para escola e, dentre as atividades pedagógicas, foi brindada com a rara oportunidade de aprender a fazer cartazes para a manifestação de professores. O tal “educador” que se manifestou, além de proferir um discurso batido contra o governo do Estado, começou a dizer entre outras coisas, que a atual crise na educação não era uma crise, mas um projeto. Nisso, eu lhe respondi o seguinte:
          “Não há crise na educação. Ela segue exatamente o plano elaborado nos anos 1980: reduzir o “conteúdismo”, acabar com o ensino profissionalizante, voltado ao mercado de trabalho, eliminar a relação hierárquica entre professor e aluno. Tudo segue conforme os desejos dos idealizadores. Tem até estudante fazendo greve com apoio da APP e Conselho Tutelar contra nem sabe o quê. Não sei onde você vê crise.
            O tal professor resolveu retrucar tentando ser irônico:
Ricardo Klass: Simples! Todos bancando um Marista integral a 3200,00 por mês mais material e o transporte, tudo resolvido. Quem não puder, tem futebol e UFC na TV pra passar o tempo!” (SIC)

Isso me forçou a responder com uma simples conta aritmética, baseada no atual gasto orçamentário estadual:
“Com os mais de 600 reais por aluno que são gastos pra manter o staff da secretaria de educação, o professorado, mais alguma renda proveniente do aluguel da estrutura atual, dava pra bancar uma escola particular em meio período bem melhor que a que você dá aula, e sem preocupar-se com greve. Era só demitir todos vocês e distribuir o dinheiro às famílias para que cada um escolhesse sua escola.”
Algumas pessoas podem achar essa ideia um tanto exótica, mas de fato ela já é aplicada com sucesso em vários lugares do mundo. É conhecida nos EUA e países de língua inglesa como Charter School, ou escolas alugadas/fretadas, mas o modelo também é empregado com sucesso em lugares como a Suécia, Alemanha e cada vez mais lugares muito afora. A ideia é simples: a família passa a ter o direito de escolher a escola onde o filho irá estudar, e pode inclusive complementar a verba recebida do governo com recursos próprios para pagar uma escola ainda melhor. O dinheiro gasto com educação é inteiramente convertido em benefícios para os alunos, e o governo não se preocupa mais com greves, planos de cargos e salários e aposentadorias de servidores públicos, com a questão de promoções e progressões, ou com a fúria de sindicatos contra esta ou aquela administração pública.
Obviamente, sindicalistas sempre ficam nervosos quando se insinua acabar com seu ganha pão. O senhor Ricardo Klass, se é que esse é realmente seu nome, resolveu me chamar de analfabeto funcional, e tentou até a carreira humorística, num texto pra lá de confuso. Resolvi transcrever, uma vez que achei quase impossível parafrasear:
Ricardo Klass: Gente que "entende" do assunto. Não sabia que agora tinha cruzeiro espacial pra Saturno! Você sabe ler ou se contenta com sua condição de analfabeto funcional!? Vou desenhar no papel - didática aplicada no Jardim 2, de onde o senhor faltou todas as aulas:
O atual governo demorou todo seu primeiro mandato pra cumprir a parte da Lei do Piso que trata da jornada dos Professores, a chamada "Hora Atividade". Quando finalmente, em 2015, chegou no que diz a Lei, passou dois anos usando isso na mídia. "O governador que ampliou 50% na Hora Atividade", trombeteava o cínico do Iguaçu. Chegou 2017, o canalha resolveu voltar atrás. Num malabarismo matemático, tenta convencer a sociedade que o seu 1/4 é a mesma coisa que o 1/3 da Lei. A justiça reprovou o mau aluno e mau governador. Mas ele se conformará? Que outras imbecilidades ele e sua equipe do camburão estão preparando? Sempre é bom não esquecer que essa questão da jornada é apenas uma parte da Lei. A parte do valor do piso ele continua descumprindo. A Assembleia da APP no sábado deveria dar um basta nisso tudo. Sem cumprir a Lei não tem volta às aulas. A sociedade compreenderá que se trata apenas do cumprimento da Lei. Nada mais.
O questionamento da APP pode ser válido, mas o fato é que a argumentação que o governo coloca faz sentido e não se trata de nenhum malabarismo matemático. A conta é simples: cada professor da SEED é contratado por uma carga horária de 40 horas semanais. É a mesma carga horária de qualquer funcionário público. Isso equivale a 2400 minutos por semana. Por que fazer a conta em minutos? Por uma razão simples. Os professores, por especificidades da sua profissão, trabalham por “horas/aula”, cuja duração é de 50 minutos. Uma carga horária de 40 horas aula semanais equivale, portanto, a 2000 minutos. Temos aqui uma diferença de 400 minutos, o que equivale a 6,66 horas, ou 6 horas e 39 minutos.
A hora atividade dos professores é um direito inquestionável da categoria, equivalente a 1/3 da jornada. Ou seja, para quem leciona 40 horas semanais, 13,33 horas deveriam ser hora atividades. Mas lembremos que os professores trabalham 40 hora/aulas semanais, (4000 minutos), tendo 14 horas aulas de hora atividade e 26 horas aula de sala de aula. Ainda restam 6 horas e 39 minutos que são remunerados e não cumpridos por causa da diferença até então não percebida entre hora contratada e hora/aula.
A proposta do Governo do Estado consiste em aumentar a carga trabalhada a 30 horas/aula (1800 minutos), deixando 10 horas/aula (600 minutos) em hora/aula atividade) o que totalizaria 2400 minutos ou exatamente 2400 minutos por semana, que é o montante pelo qual todo e qualquer funcionário público é pago. Ou seja, nada muda em termos de remuneração, apenas sendo feito um ajuste em relação ao que é efetivamente devido em termo de trabalho. Mas ao final, o analfabeto funcional sou eu.
Por fim, quando eu disse ser contra o imposto sindical, o senhor Ricardo Klass, exegeta que interpreta além do que está escrito, imaginou que eu disse para acabar com todos os sindicatos:
Ricardo Klass: Genial! Comece você então, reuna sua classe e feche seu sindicato, afinal trata-se de reduto comunista. Quando for demitido e "se" descobrir que seu patrão embolsou mais da metade da sua rescisão, aproveite que é curtidor do PSDB e com certeza lá vão ajudar você! Tenho muita coisa pra fazer, ralar pra tornar aquela criançada toda em gente melhor, que você.
Depois disso, eu aproveitei para explicar que os sindicatos, e principalmente a justiça do trabalho são um péssimo negócio para o trabalhador. Isso por uma razão simples: eles tomam muito mais dinheiro do trabalhador para existir do que aquele dinheiro que efetivamente é ganho ou volta para os que sustentam a justiça do trabalho e os sindicatos. Segue uma pequena explanação sobre a justiça do trabalho:
A justiça do trabalho paga cerca de R$ 21 bilhões em indenizações para trabalhadores que acionam seus patrões na justiça; pra isso, paga 30 bilhões por ano pra manter o sistema da Justiça do trabalho. Isso nada mais é que um gigantesco mecanismo de transferência de renda: 30 bilhões transferidos aos funcionários do Judiciário e 20 bilhões a uns poucos trabalhadores. Pra quem deveria defender uma melhor distribuição de renda, isso é simplesmente absurdo. A propósito, sou contra o imposto sindical. Se o sindicato é bom, por que não vive de contribuições voluntárias? Por que a contribuição deve ser obrigatória e garantida por lei?
Por fim, uma amiga minha questionou por que não poderíamos todos viver apenas de “impostos voluntários”, já que seria uma coisa boa para todos. A razão foi explicada num próximo comentário:
Nenhum Estado vive de imposto voluntário, simplesmente porque seria insustentável. Mas o ideal seria reduzir ao máximo os impostos, para que fôssemos obrigados a pagar o mínimo necessário para a manutenção do Estado. Ou você acha que alguém de livre e espontânea vontade gostaria de ter senadores, juízes, vereadores, presidentes regiamente pagos fazendo leis e dando ordens aos demais? No fundo, é um mal necessário, talvez para evitar o "estado de natureza", a guerra de todos contra todos. Daí dizer que o Estado deve bancar tudo com dinheiro de impostos (tratamento de saúde, educação do berço à pós graduação, moradia, aposentadoria, etc.) é só um delírio criado pelas ideologias socialistas e social-democratas do século XIX, que entenderam que seria possível criar um novo homem através de um novo Estado. Até hoje todos falharam vergonhosamente, porque o ser humano continua sendo o mesmo ser decadente, egoísta, mesquinho, que luta por privilégios em detrimento dos demais. E sendo assim, eu acho que cada um deveria cuidar de si, ao invés de imaginar que o Estado, tomado por alguns, irá cuidar de todos. Mas sempre tem uns "inocentes" a acreditar na bondade da classe política.
Assim, podemos ver que até mesmo numa discussão com uma porta ou um sindicalista da APP, que tem ainda menos massa encefálica, podemos levantar questões interessantes, que vão das charter school à explicações sobre a razão de existir impostos, da luta por sua redução, e até a explicação do porquê a atual greve da APP é novamente desprovida de fundamentos, e que sua argumentação pode ser discutida judicialmente, e não necessariamente pela força bruta da greve nas ruas, que vitima tão somente os alunos e a sociedade.

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