O QUE É A GRÉCIA?
Por Fernando Raphael Ferro.
A crise grega tem sido motivo de grande
discussão, tanto por sua origem quanto pela dificuldade em sua solução. Mas
afinal de contas, o que é a Grécia? Qual a dimensão do país e da população que
a crise abarca? A princípio, deve-se destacar que tratamos de um país de 10,8
milhões de habitantes distribuídos em 131 mil km². Ou seja, aproximadamente a
população do Estado do Paraná num território 60 mil km² menor. A distribuição
etária mostra um envelhecimento progressivo: 16,71% da população têm mais de 65
anos; 68,12% entre 15 e 64 e 15,18% menos de 14 anos.
A economia grega, em 2013 era da magnitude de
um PIB de US$ 242 bilhões, com renda per capita de US$ 21.910,00, aproximadamente
o dobro ou triplo do Paraná dependendo da comparação, se direta ou por poder
comparativo de compra. O modo como este PIB é gerado começa a explicar a
complexidade para a superação da crise: 12% do PIB é gerado na indústria, 3,4%
na agricultura e 85% nos serviços. O principal setor da indústria é a indústria
naval (4,5% do PIB); nos serviços, lidera o Turismo (15% do PIB).
Pelas peculiaridades do clima grego,
mediterrâneo, com verões quentes e secos, invernos amenos e úmidos, suas terras
são propícias ao cultivo de frutas. Assim sua agricultura tem alto valor
agregado, derivado da produção de frutas como figos, oliveiras e melões e, em
menor escala grãos como arroz e trigo. A pesca também é importante. Dentro da
tradição marítima da história grega, e da costa desproporcionalmente grande em
relação ao tamanho do país, a indústria naval é fortemente desenvolvida, assim
como a pesca.
Deve-se notar, contudo, que todos estes
setores estão sob forte pressão de novos competidores no mercado mundial: na
indústria naval, a Grécia está posicionada numa situação intermediária: não
detém grandes estaleiros, capazes de competir com os japoneses em produtos
altamente tecnológicos, tampouco mão de obra barata para inserir-se no patamar
de mercado dos chineses e outros concorrentes asiáticos. Concorre no mercado
mais competitivo, onde se situam concorrentes muito fortes como a Coréia do
Sul.
No caso das frutas, outra vez a Grécia se
depara com concorrentes que oferecem mão-de-obra barata e condições climáticas
tão propícias quanto, como é o caso de Chile e outros países que entraram com
muita força na exportação de frutas e frutos de mar nos últimos 10 anos. Assim,
as vantagens oferecidas pela política agrícola europeia, tornam-se extremamente
necessárias para garantir a competitividade destes setores da economia grega.
Em relação ao setor de serviços, deve-se
destacar algumas questões de fundamental importância. Em geral, os serviços
estão mais concentrados no mercado interno, com exceção dos serviços
financeiros, bancários, de tecnologia, contábeis, engenharia e P&D que
podem ser exportados. No entanto, este não é o caso da Grécia. Seu setor
terciário é predominantemente voltado ao mercado interno. O mais importante é o
turismo, fortemente dependente da renda externa. Além disso, a prestação de
serviços de consumo local, como telefonia, energia, saneamento, transporte,
etc.
Três fatores pesaram fortemente na decadência
acentuada da economia grega. O primeiro deles é a ressaca pós Olimpíada. Os
múltiplos investimentos realizados para os jogos olímpicos geraram uma resposta
negativa posterior no crescimento da economia, por conta do inflacionamento dos
preços internos. A recuperação seria fácil, não fosse um segundo fator.
A entrada de 10 novos membros na União
Europeia jogou a Grécia para o grupo dos países financiadores do grupo, e não
mais para os recebedores de benesses. Isso é importante, porque o afluxo de
Investimento Estrangeiro Direto, para investimentos de infraestrutura, por
exemplo, teve uma forte redução tanto na Grécia quanto na Espanha e Portugal.
Este investimento era uma importante motivação para o crescimento e o otimismo
na economia destes países. Mas a entrada das nações do leste europeu, com
economias pauperizadas por anos de socialismo, tornou a Grécia relativamente
rica dentro da União Europeia, anulando os benefícios advindos tanto dos fundos
europeus para investimentos, quanto as vantagens relativas de mão de obra
barata.
Por fim, o terceiro fator é que a crise
mundial de 2008 reduziu a renda geral das pessoas em todo o mundo e, sobretudo
os gastos com turismo. A economia grega, fortemente dependente deste setor, foi
uma das mais afetadas. Isso torna a recuperação ainda mais difícil,
principalmente quando temos em conta que boa parte dos turistas que afluem para
a Grécia provém da própria Europa, cuja economia demora a se desvencilhar da
crise.
Como pano de fundo, é possível destacar ainda
que os setores de transporte, eletricidade, saneamento, telecomunicações e
educacional são, em sua maioria, geridos pelo setor público. Assim o país vive
uma situação na qual os segmentos privados estão sob forte pressão competitiva
externa e intensa pressão arrecadatória interna; o segmento público abriga
grandes porções de funcionários cujos benefícios são superiores aos dos seus
concorrentes externos; um amplo setor de aposentados e pensionistas, agravado
por aposentadorias precoces; finalizando com uma massa de desempregados que
ultrapassa ¼ da população ativa.
Isso é a Grécia hoje. A questão que se pode
fazer é: há luz no fim do túnel? Provavelmente há saídas para a crise grega.
Todas elas exigirão sacrifícios. Possivelmente, uma das realidades que os
gregos terão que enfrentar é a redução de seu padrão de vida. Isso será
possível com a flexibilização das leis trabalhistas e a privatização de amplos
setores da economia, ou através da saída da zona do Euro e a desvalorização da
moeda local. No fundo, a dívida grega é o menor dos problemas, no final das
contas, já que o difícil será promover um choque de competitividade em sua
combalida economia interna.
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